capítulo cinco

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Jinyoung tinha faltado três dias na escola até os machucados sararem o suficiente. Não deu notícias sobre sua sumida à ninguém, e pouco se importou com isso. De manhã, procurava um local na cidade diferente para ficar, só até o final do dia, quando ia para casa verificar se o pai estava tendo mais um ataque, e após o sinal ficar verde, entrar na residência e preparar um lanche rápido para subir em seu quarto. Lá, Jinyoung refletia sobre o ocorrido daquela noite, quando ele tinha ficado tão exausto pelos socos e chutes que mal conseguia levantar. O pai só acordou pela metade do dia, dando sorte de não ter visto o filho todo quebrado; e se visse, tampouco iria dar atenção, de tão focado no seu vazio que ele estava.

Para se distrair, Jinyoung focava no tempo que estava gastando em pensamentos diários, como quantas matérias novas ele estaria perdendo naquele dia, a quantidade de livros ou tarefas que ele deixava de fazer, se sua barriga roncava tão alto que ele precisava gastar seu dinheiro do emprego de verão em alguma gororoba de lanchonete.

De repente, não era mais tão divertido ficar pensando.

Seus olhos doíam, seu corpo clamava por descanso. Mas ele continuava, quieto e longe de casa, respirando o ar da cidade solitário. Observando a vida passar diante de seus olhos, Jinyoung não desejou ser mais nada. Seu coração não batia o suficiente para isso. Podia dizer que sofria da mesma doença de seu pai, com mais juízo e noção, revertendo um momento incoveniente em uma boa lembrança. Antes era fácil, claro, ele tinha Mark para ajudá-lo. Mas não poderia ele mesmo fazer por si só? Tentou desligar a mente do mundo, concentrando-se, e nenhum resultado.

Aquele vazio o preenchia por completo e ele não conseguia ignorar.

No segundo dia, ao invés de sair, Jinyoung ficou trancado dentro de casa. Não tirou os pés do quarto. Encolhido em algum canto, deitado na cama ou no chão, olhava para aquela pequena proteção onde tivera tantos pesadelos quanto sensações de abrigo. Seu quarto era simples, seus móveis eram simples, todos doados depois do desastre na sua casa que levantou a atenção do bairro todo mas acabou sendo esquecido duas semanas depois. Jinyoung não reclamava de nada, gostava de saber que ninguém o convidaria a fugir daquele lugar.

Então, enquanto fazia alguns rabiscos em seu caderno, perto do anoitecer que surgia em sombras à sua janela, Jinyoung ouviu um barulho na porta. Duas batidas. Uma voz rouca. Seu pai.

— Jinyoung... — Quase como um sussurro saiu, e por sorte, o quarto estava no ápice do silêncio. — Vamos conversar?

O Park permaneceu parado no chão, os olhos fixos na parece a frente, mas na sua cabeça, as palavras se sobressaíam rapidamente. Insultos e frases de horror, medo e arrependimento. "Por que você é assim?", "Você nunca irá superar?", "Está percebendo que eu estou me tornando igual a você?"

O homem esperou um tempo do outro lado, e insistiu:

— Podemos conversar? — Desta vez, sua voz aumentara de volume. — Por favor.

— Sai. — Saiu automaticamente. Nem Jinyoung soube da onde tirou forças para pronunciar o som. Uma única mensagem firme, qual afastou todo o receio de continuar parado, esperando o pior — que ele se cansasse, abrisse a porta e o força-se a fazer o que ele queria — para acontecer.

Em respeito ao trauma que carregava seu filho, o sr. Park saiu de perto da porta e foi assistir o jornal na sala de estar no andar de baixo. Preparou ovos mexidos — a única comida qual tinha forças para fazer — e deixou um pouco para o filho na geladeira. Seguiu o fluxo, como de costume. E sem se preocupar.

Jinyoung desistiu de rabiscar depois daquele minuto insano, deitando-se na cama e fitando o teto do quarto. Não pensando no pai, em Mark, na escola, em si mesmo.

Apenas em uma única frase. "Como faço para acabar com essa merda?"

Existem ideias que surgem nos momentos mais inapropriados ou aleatórios possíveis. Vem com um propósito, mas basta saber como usá-las que serão verdadeiramente úteis. Em um clique, muita coisa pode mudar. O perigo que as ideias carregam faz menção ao seu poder, a influência que carregam. Tentar-se é proveniente. Jinyoung não esperava algo daquilo, e uma lâmpada se acendeu no fundo mais obscuro de sua mente, logo depois, apagando todo o seu cérebro e deixando o rapaz em perdição.

Abriu os olhos, lembrando do que tinha na gaveta.

Esperou até o horário do pai ir dormir. Desde criança, ele sabia quando porque os passos do pai faziam um barulho horrendo, causa do cansaço de mais um dia inútil e uma maré pesando na cabeça. Quando o primeiro ronco soava, os ratos saíam para fazer a festa. Jinyoung desceu cuidadosamente as escadas, sem ver o que o pai tinha lhe deixado na geladeira, que pela primeira vez naqueles anos todos ele fez algo para o seu filho. Pegou a pistola, fixou o olhar na escuridão de sua boca fina e redonda, carregou ao máximo que pode, e saiu para a rua.

Contornado de estrelas no céu e uma cabeça vazia, igual seu coração.

why? ☆ got7Onde histórias criam vida. Descubra agora