capítulo três - 1994

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Naquele dia, Jinyoung estava atrasado para tudo.

Ele acreditava que era porque fora dormir tarde demais na noite passada, quando ficara pensando sobre o que ele e Mark haviam conversado naquela tarde de estudos dentro da casinha do parque. O que era para ser um encontro para discutir o tema do dever de história e algumas questões de ciência da natureza, virou um momento de desabafo sobre a violência e rejeição que um garotinho de onze anos sofria dentro da sua própria casa, uma casa que o fazia nenhum pouco feliz.

Assim, Jinyoung se questionou pela primeira vez desde que conheceu Mark, sobre o que o garoto dos sorriso bonitos sentia dentro de si. Ele adorava conhecer Mark, mas será que estava conhecendo o verdadeiro?

Naquela noite, ele agradeceu por ter uma casa pobre e pequena. Por ter apenas o seu pai como família, e pelo seu único problema ser enfrentá-lo diariamente. Diferente das outras noites, ele já estava dormindo acabado na bebida, então não houve risco de Jinyoung sofrer com alguma ameaça. Acabou passando fome, porque o pai infelizmente dormia na cozinha, e se fizesse o mínimo de barulho possível, acabaria acordando-o.

Para distrair sua fome, ele desviou a mente no mistério da vida de Mark. Ele não tinha medo de falar sobre si, então porque Jinyoung se reservava quando era a sua vez? Ele era um idiota. Mark era forte. Muito forte. Jinyoung o admirava, mas se preocupava também. Ele ressentia no que se tornaria aquilo; por quê ele não fazia esforço nenhum de contar tudo, mas quando contava, não se ressentia.

Aquela foi uma das poucas vezes que Jinyoung pensou sobre Mark, do jeito que ele escondia.

Por conta disso, acordou mais tarde do que devia. Tinha perdido o horário do despertador, que provavelmente tocava há horas. Não pôde entregar os jornais naquela manhã, e nem comeu nada. Vestiu-se na velocidade da luz, os olhos caindo de sono, e correu até sua bicicleta, pedalando à toda a força até a escola. Aquele dia estava quente, e o cansaço da noite foram as grandes barreiras de Jinyoung para permanecer firme na pedalada. Ele não tinha ideia de que horas eram: apenas estava atrasado.

Foi horrível. Parecia que perdeu uma parte de sua vida. Tudo estava passando tão rápido, e sem nenhuma pena do pobre garoto. As conversas, os horários, suas respirações, tudo em uma golfada.

- Jinyoung? Você está bem? - Perguntou Mark quando o intervalo chegou, indo junto do amigo rapidamente. Jinyoung piscou de sono, levantando a cabeça para ele.

Péssima ideia. Ao olhar para Mark, Jinyoung segurou-se para não acabar caindo na choradeira.

- Eu perdi tudo, Mark. - Disse.

Mark abraçou-o, e deu um pedaço de seu sanduíche. Jinyoung devorou em segundos.

- Você não dormiu bem, né? - Jinyoung assentiu. - Calma, logo você acorda direitinho.

Jinyoung balançou a cabeça. Encarou o amigo, engolindo a seco. Segurou uma pergunta. "Como você consegue manter toda essa calma, Mark?"

No fim, Jinyoung não conseguiu acordar direitinho. Ainda tinha sono durante as aulas, levando até um xingão do professor por ter cochilado em uma explicação. O resultado: o que ele pensou que tinha acabado, retornou. As caçoadas dos colegas.

Tudo porque ele havia pensado demais.

De tarde, ele ficou fazendo os deveres da escola sozinho na biblioteca. Precisava se atualizar dos acontecimentos, e manteria os olhos abertos e a mente acordada a todo momento. Quando terminou, estava anoitecendo.

Na volta para casa, ele só pensava em uma coisa: que o pai não estivesse bêbado, que lhe fizesse um jantar delicioso, e que ele fosse dormir tranquilamente, para de manhã ajeitar com o velho dos jornais e explicar porque não fora trabalhar naquele dia. Jinyoung só queria descanso, e recuperar o que ele tinha perdido durante aquelas malditas horas de sono extras.

Mas quando se aproximava de sua casa, ele ouviu barulhos. Fortes barulhos. De coisas quebrando. A luz da sala de estar era a única por toda a casa, e nela se concentrava a maioria dos sons. No momento, ele ficou parado observando a sua casa, mas quando ouviu vidro quebrar, seu corpo se arrepiou, e precisou fugir. Não sabia para onde, mas correu com toda a sua velocidade para longe daquele inferno.

Com uma mochila nas costas, uma barriga roncando, sujo e com sono, Jinyoung se arrastou pelas ruas da cidade, procurando o que quer que fosse, algo que inspirasse segurança. Ele saberia o que era aquilo? Sim, era só pensar em Mark. Mark tinha segurança. Ele era a sua segurança.

Acolheu-se em um caixote qualquer de um beco vazio, iluminado por uma lanterna na parte detrás da casa a sua frente. Abraçou sua mochila, fitando o chão cheio de pedrinhas, e fungou. Não tinha vontade de chorar ou gritar, apenas de desejar que fosse um sonho. Um sonho bom, onde ele estava longe do pai, seguro, e podia sorrir.

Mas Jinyoung não conseguia sorrir. Porque seu sorriso foi arrancado, junto das horas que ele perdeu durante o sono.

why? ☆ got7Onde histórias criam vida. Descubra agora