capítulo quatro - 1987

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O incidente na casa dos Park virou notícia no bairro durante uma semana, só até ser cobrida pela gravidez indesejada da filha do pastor da igreja, e o suicídio de Junghee, uma garota da escola de Ensino Médio local, possivelmente lésbica, e que sofria maus tratos do padrasto.

Mas durante aquela uma semana, Jinyoung virou viral de mais piadinhas do grupo de garotos riquinhos da escola. Eles sempre aproveitavam um momento para caçoá-lo, e quando não haviam, Jinyoung considerava como férias para a sua cabeça. Mas aquilo estava demais. Nem mesmo Mark conseguia acalmá-lo, talvez porque Mark não sabia o que tinha acontecido, e Jinyoung tampouco o ajudava a saber. O garotinho queria esquecer que tinha ouvido o barulho da casa sendo estilhaçada por dentro quando chegou em casa, que fugiu porque tinha medo de morrer, e que teve uma noite tranquila dormindo em um beco escuro e sujo qualquer. Mas ninguém colaborava.

Naquela noite, que para a vizinhança foi terrivelmente devastadora, para Jinyoung, foi perfeita. Mesmo a fome o devastando, ele tinha acordado na hora certinho, sem despertador, e foi se resolver com o senhor dos jornais. Ele o demitiu na mesma hora, e Jinyoung ficou feliz. Foi para a escola bem cedo, esperou os portões se abrirem, e antes de entrar, a diretora o chamou. E tudo se estragou.

Primeiro, a notícia: que seu pai tinha destruído a casa deles por um acesso de raiva, e que estava muito bêbado também. Não tinha sobrado nada, e por muito pouco, o homem não tinha queimado a residência inteira. Jinyoung engoliu a seco. Ele quase entrara dentro de casa. Se não houvesse fugido, estaria igual a mobília da casa.

Segundo, como as coisas estavam agora: que o procuravam desde a noite passada, que haviam consultado o pai, e agora, ele estava na delegacia. Que ele iria ficar na mesma casa, mas sem cama para dormir.

— Não me importo de dormir no chão. — Garantiu Jinyoung, sorrindo. Neste momento, sua barriga roncou.

A diretora suspirou, e deu-lhe um potinho de biscoitos do escritório para ele comer.

Jinyoung havia sido dispensado naquele dia, e quando voltou para casa, ela estava cheia de vizinhas, que limpavam a casa de forma ágil. Uma delas percebeu Jinyoung, e cuidou dele até todas irem embora.

Agora, Jinyoung esperava sentado no chão da casa, onde tinha sido a sala de estar, e o sol brilhando do lado de fora, chamando para mais um dia. O garotinho preparou um sanduíche — pela boa conciência, as mulheres tinham deixado alguns sacos de comida em caixas — e voltou para seu cantinho, esperando seu pai voltar.

Até ouvir um barulhinho de batidas na porta.

— Quem é? — Gritou.

— Sou eu, Jiny. — A vozinha inconfundível se pronunciou.

Jinyoung abriu a porta, e Mark o surpreendeu, abraçando-o. Se Jinyoung não tinha nenhuma vontade de se despejar em tristeza, Mark o contrariu, e agora, o garotinho Park se desmanchava em lágrimas no ombro do outro.

Mark não perguntou o que aconteceu, então Jinyoung suponha que ele não soubesse de nada. Ambos seguiram a vida de sempre, sendo amigos e Mark o protegendo dos outros. O pai de Jinyoung tinha voltado perto do anoitecer, a aparência de quem tinha levado uma chacoalhada na cabeça, e agora tinha de aguentar uma dor terrível. Cumprimentou o filho, e subiu pelas escadas da casa. Jinyoung imaginou que ele tivesse ido dormir, mas quando subiu, Jinyoung pegou o pai fazendo o que jamais imaginava: o velho Park estava chorando no canto do quarto, igual Jinyoung nos ombros de Mark.

Jinyoung teve medo, muito mais do que na noite anterior. Porque não era como aquele ataque, era uma crise, um buraco negro. E se o pai não saísse dele? Como os dois seguiriam?

Será que teria um dia seguinte?

Felizmente, teve. Mas a dúvida seguia o tempo todo, porque o choro do pai se tornara diário. Jinyoung fingia que não o via sofrer, correndo para o quarto, e desejando que a bebida voltasse à suas vidas. Pois ela era a única que calava seu pai de noite.

why? ☆ got7Onde histórias criam vida. Descubra agora