capítulo quatro

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Fazia mais de semanas que Jinyoung mantinha uma enorme bolha ao redor de si. Estranhamente ninguém chegava a perguntá-lo, era sufocante, mas também um alívio. Cada pensamento era omitido dentro de sua cabeça, qualquer que fosse relacionado a sua amizade com Mark. Ou o que parecia estar sendo uma amizade, se o coração de Jinyoung não estivesse falho.

A distância complicou um pouco as coisas. Mark parecia feliz de longe, andando com o time de futebol pelos corredores aqui e acolá, sorrindo como sempre. Jinyoung observava tudo, e a saudade preenchia seu peito. O que ele fizera para merecer aquilo? Era pedir demais pela época da infância, quando os dois somente eram garotinhos que sonhavam serem nuvens?

Naquela tarde, Jinyoung organizava as prateleiras quando Momo não resistiu, e perguntou à ele o que acontecia. Jinyoung recuou, com medo, mas Momo tranquilizou-o. Confessou que estava preocupada há semanas pelas suas emoções, mas mantinha respeito em não perguntar. Sendo a última gota d'água, Jinyoung até tentou, mas na hora agá, correu para fora da biblioteca, deixando a japonesa confusa e com duas caixas para arrumar sozinha.

Jinyoung correu até a árvore onde se encontrava com Mark para admirar o céu, deitou-se sobre ela e observou o tempo correr no infinito azulado acima. As nuvens quase nem apareciam de tão poucas e fracas, o sol brilhava como nunca, e sentindo falta daqueles dias, Jinyoung chorou.

Chorou por ser um estúpido, por não ter percebido isso antes ou que nunca tivesse percebido, assim, não estaria mil vezes mais estressado. E pensar no que o amigo passava agora, e ele se derramando por pouca coisa. O verdadeiro amor entre ambos não poderia ter aquele fim, jamais.

Jinyoung ficou ali até certo horário, quando ouviu o barulho dos carros aumentar constantemente. Levantou-se e caminhou para casa, observando as pessoas pela rua e imaginando se elas teriam passado por algo parecido. Uma confusão de sentimentos sendo colocados acima do nível normal.

Então, na rua da sua casa, Jinyoung sentiu aquilo qual tanto desejou ter, mas não imaginava ser tão terrível assim. Um déjà-vu. Passos largos, anoitecer, barulhos vindos de dentro de casa. Temendo, ele sabia o que fazer. Mas preferiu ficar. Queria ver o resultado, ou o por quê daquilo de novo.

Dando passos vagarosos, sentiu na pele ter onze anos novamente, com fome, sujo e cansado. Um garotinho crescido exageradamente com uma cabeça fora do lugar, quieta e reservada. Olhou da janela para dentro, não vendo absolutamente nada, e em um alívio, entrou para dentro de casa.

— Pai? — Chamou baixinho. Ouviu algo do segundo andar, e engoliu a seco.

"Isso é loucura. Ele deve estar tendo alguma crise ou coisa parecida. Eu devia sair daqui e chamar a polícia..." Jinyoung olhou para a cômoda pequena do sofá, e lembrou do que tinha na última gaveta, um arrepio percorrendo-o por dentro. "Ou deveria pará-lo?"

Ignorou a gaveta. Ela seria perigosa demais para uma situação dessas.

Subiu a escada, e uma sombra grande apareceu a sua frente, o empurrando para baixo. Jinyoung caiu de bruços, provavelmente com um joelho fortemente ralado. Olhou para cima, e o pai estava o fitando, os olhos cruéis e perdidos como nunca, jamais comparados ao homem que chorava de noite e ia beber a cada três semanas. Dessa vez, ele tinha exagerado. As suas dores foram tão grandes que ele precisou despejá-las no seu segundo maior vício, até precisar destruir o mundo com uma só cajadada. Fixou sua mente no filho atirado à sua frente, e prestes a dar uma bofetada nele, Jinyoung esquivou-se.

Rapidamente ele desviava das investidas do pai, mas em uma hora, acabou levando um tapa na cara. Desnorteado, recebeu um soco na barriga, e perdendo o ar, sem coragem de retribuir a batida, levou um chute, e caiu. Jinyoung procurou por uma resposta no chão, encolhendo-se enquanto o pai lhe batia do seu melhor jeito bêbado, gritando coisas que o adolescente jamais esqueceria.

E diferente daquela noite, ninguém foi ajudar a família Park. Porque nenhum móvel havia sido destruído, e o pai tinha parado de bater antes das oito da noite.

why? ☆ got7Onde histórias criam vida. Descubra agora