capítulo cinco - 2018

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Eram duas da manhã — provavelmente, foi meu melhor chute de horário que pude conseguir naquele estado — quando levei um susto pelo barulhão que a porta da entrada fazia. Aquilo devia ter despertado metade da vizinhança do apartamento, e do lado de fora, o fluxo urbano continuava em sua corrida, sem sumir a vista que eu admirava antes de ter adormecido.

Levantei, esticando as costas. Tinha dormido no pior lugar do mundo.

— Já vai! — Gritei, pouco importando se acordaria alguém — o barulho da porta já fazia isso por si só.

Foi aí que, quando eu puxei aquele pedaço de madeira para o lado de dentro, a figura mais importante da minha vida apareceu. Mas não em boas condições.

— Yugyeom?! — Questionei, agarrando-o após cair de bruços em cima de mim. Ele era pesado, muito mais do que aparentava, cheirava fortemente a uma péssima combinação de uísque, tequila, vodka e cerveja, e obviamente, estava prestes a desmaiar.

— A-inda b-bem que tchu ate-eindeu. — Yugyeom sorriu em meu peito, os olhinhos fechados, o estado péssimo que apertava meu coração e dava dó só de ver.

Puxei-o para dentro do apartamento, o colocando na poltrona, e observando entre a linha do adormecer e do desperto, uma ansiedade crescente de curiosidade e medo invadindo-me cada vez mais. O rapaz bufou, tentando se ajeitar no assento, e caindo ainda mais.

— Yug, o que aconteceu? — Perguntei, preocupado.

Yugyeom riu, mas não respondeu. Insisti, perguntando de novo, e Yugyeom balançou a cabeça.

— V-você v-vai-i m-me odia-ar. — Yugyeom fungou, limpando o nariz na manga. — 'C-abe-i ind-o be-e-be-r.

— Isso eu percebi. — Olhei-o de cima para baixo. — Mas quero saber, por que você foi beber desse jeito?

Yugyeom deu de ombros:

— 'Cê s-sabe q-que eu 'sô meio-o l-louco... — E caiu no sono. Por um momento, tentei quase acordá-lo por medo daquilo não ter sido uma adormecida, mas desisti. Diferente dos outros bêbados, Yugyeom só falava a verdade quando está sóbrio.

Observei o garoto mais novo que eu, mas que me cuidava como se eu precisasse de proteção. Nós dois achávamos isso. Eu, um homem formado sem futuro, sem casa e sem estudo, que tinha aceitado a ajuda de um rapaz estudante, com um futuro brilhante e um emprego admirável. Yugyeom era o exemplo de vida que eu deveria ter levado depois que saí de minha cidade natal, mas tive de deixar a linha seguir, sem escolha, e sem pensar que eu tinha escolha.

Quantas coisas eu devo ter perdido depois que deixei aquilo me perseguir? O que o medo tinha feito comigo para eu ter desistido da vida? Ele ficaria me perseguindo por tanto tempo assim?

Na verdade, eu não estava tão distante da realidade de Yugyeom. Ele também tinha seu fantasma. Com aquela garota, Myoui Mina.

Yugyeom falava muito brevemente sobre ela, mas o suficiente para alguém entender que talvez Myoui Mina tivesse sido o amor da sua vida. Namoravam desde a adolescência, ela tinha ido para os Estados Unidos estudar, e acabou morrendo em um acidente de carro. Ela tinha conquistado tantas coisas, enquanto Yugyeom lutava para passar do Terceiro Ano do Ensino Médio, porque tinha prometido à ela que conseguiria realizar seu sonho. Ele tinha dito para ela tomar cuidado, e ela não tomou. Ele não acompanhou sua vida durante um ano, e tampouco pôde ir no funeral, porque tinha uma prova para a seleção da faculdade no mesmo dia. Yugyeom tinha prometido que focaria no profissional, e acabou perdendo o amor da sua vida.

Ele se esforçava tanto pelos outros — eu, Mina, sua promessa — que abandonara a si mesmo, e agora, eu vejo, ele está muito pior do que eu.

Então, um déjà-vu passa pelos meus olhos, e naquele instante, não é Yugyeom, e sim, ele, no fundo das minhas melhores e piores memórias. Ele é quem está largado na poltrona, entristecido, sabendo que afundou por doar todas as suas energias.

Me joguei na cama, repetindo a mesma frase para mim mesmo: "Ele nunca vai morrer."

why? ☆ got7Onde histórias criam vida. Descubra agora