Os dias na nova escola seguiram-se estupidamente melhores do que Jinyoung imaginava. Se ele acreditava que a escola pudesse ser um refúgio, ele acabou afogando-se em um outro mil vezes melhor. Todo dia, acordava cedo para fazer as entregas nos seus últimos momentos como entregador de jornais, se preparava para a escola, e encontrava o belo sorriso de Mark. Ah, sim. O sorriso que movia montanhas, iluminava dias escuros e trazia esperança para o fim da guerra - suficientemente clichê até demais, mas como Jinyoung descreveria essa sensação?
Quando pensava em detalhar cada partezinha que Mark possuía em si, Jinyoung acreditava beirar a inconsciência, porque não deveria haver um ser humano tão adorável quanto ele, e se havia algo que motivava Jinyoung agora a não desistir, esse alguém era Mark. Jinyoung agradecia por isso. Mesmo não sabendo porque ele se tornara esse motivo.
Aos poucos, cada um conhecia mais sobre a vida do outro, tornando conversas à toa, frequentes, e os laços de amizade se fortalecendo como nunca. Jinyoung descobriu que Mark era um garoto rico, que também não tinha uma mãe, e que adorava esportes. Jinyoung achou curioso da parte dele, perguntando como era a vida de quem não tinha preguiça de levantar cedo de manhã para uma boa corrida. Mark riu dele, dando um tapinha em suas costas.
- Jinyoung, Jinyoung... Gostar de esportes não quer dizer que eu goste de praticar, entende?
- Mais ou menos. - Jinyoung suspirou, decepcionado.
- Como assim?
- Talvez, se eu gostasse de esportes, conseguisse continuar a entregar os jornais todas as manhãs... - Olhou fixamente os olhos de Mark. - Talvez, eu já tivesse até fugido do meu pai.
Mark abraçou-o, e depois de minutos, perguntou se ele queria um sorvete. Jinyoung assentiu.
Um dos grandes privilégios de ser amigo de um garoto rico, era saber que ele sempre estaria disposto a bancar os momentos tristes.
Eles não tinham falado muito sobre a vida de Jinyoung, na verdade, procuravam afastar essa ideia ao máximo. Mark não sabia, mas sentia o quanto aquilo era profundo para seu amigo, por isso, engolia a curiosidade. Jinyoung acreditava estar em um tipo de liberdade; podia reclamar, falar que queria fugir, desistir, que não queria ser igual o pai o quanto quisesse, que nunca seria questionado. Esse era o mais empolgante da amizade - tirando a parte que ele podia apertar levemente as bochechas de Mark e receber aquele sorriso maravilhoso em troca. Jinyoung encontrava um refúgio, um lugar seguro naquele simples relacionamento.
Depois da escola, se tivesse tempo, eles saíam para brincar no parque perto da escola. Lá não era um lugar perfeiro, mas considerável para grandes aventuras. Estudavam na casinha de brinquedo juntos - quando não tinha nenhuma menina chata lá para os expulsar -, falavam sobre como as pessoas do passado eram esquisitas - quer dizer, para que eles faziam tantas guerras? Jinyoung tinha uma teoria de que eles tinham a mesma doença que o seu pai. Mark concordava, e acrescentava a chatice das namoradas do seu pai.
- Seu pai tem namoradas? - Jinyoung perguntou. Diferente dele, Mark não se incomodava de falar da sua vida pessoal para o amigo. Sim, vida pessoal. E Mark tinha onze anos.
- Uma a cada dois meses. Às vezes a cada semana. - Mark contou nos dedos, mas Jinyoung sabia que ele tinha se confundido mesmo assim. Mark odiava matemática, e a entendia tampouco. - Elas são todas umas idiotas. Desculpe o palavrão.
Jinyoung deu de ombros e ficou quieto. Não quis dizer que já ouvia uns piores dentro de casa.
- E elas me odeiam. Me olham como se eu fosse... - Mark parou, pensando em uma boa comparação. Uma digna e excelente, perfeita para descrever os sentimentos de uma criança excluída. - Como se eu fosse vomito de galinha depois de comer uma salada de pepino azedo e bebido xixi de gambá.
- Isso é nojento. - Jinyoung comentou.
Mark assentiu. Pegou uma folha do caderno e começou a desenhar por cima das anotações da aula. Fez uma lata de lixo, uma casa pequena, um palito com vestido preto, e um outro palito menor, sendo segurado pelos pés pelo palito maior.
- É mais ou menos o que elas querem fazer comigo, sabe? Toda vez que me vêem. Eu sinto isso, Jinyoung. Uma delas fez parecido. - E voltou a desenhar.
Desta vez, fez uma bolinha esmagada, e ao lado, muito maior do que a primeira, um palito de vestido com chifres do diabo e um rosto aparentemente malvado. Mark fez setas entre a região onde ficaria os pés e a bolinha esmagada. Aquilo chocou Jinyoung, mesmo ainda sem ter o significado explicado pelo amigo.
- Algumas me dão uns pontapés, mas essa foi malvada demais. Eu odeio ela. - Apontou para o palito de chifres. - Ainda bem que, depois de dois dias, papai parou de namorar ela. Mas isso foi porque ele achou uma outra.
Jinyoung avaliou os desenhos infantis. Ele encarou Mark, que aparentava estar calmo demais para um assunto tão sério, e segurou sua mão.
- Você já falou para o seu pai sobre isso?
Mark suspirou.
- Infelizmente, eu acho que ele é meio parecido com o seu.
E Jinyoung soube que apesar de tudo, Mark era muito mais fraco do que ele.
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why? ☆ got7
Fanfiction❝park jinyoung viveu por grande parte de sua vida se culpando, até descobrir que havia uma falha em seu passado, e a morte que o carregava tinha motivos para ser questionada.❞ ⇢ jinyoung!centric. ⇢ happy birthday, isa ♡