capítulo seis - 1994

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A corrida da casa de Mark causou uma série de consequências desastrosas para os dois garotos, acabando por fazer o impossível: separá-los.

Jinyoung depois de fugir, não quis mais saber de olhar na cara do amigo, e ele vir o xingar, culpar ou qualquer coisa pior. Apenas desejava a distância; nenhum pensamento a mais relacionado com o dia da visita, em que foi expulso por ter quase matado o seu único amigo, e sido humilhado pela madrasta de olhar afiado. Não queria saber da mansão completamente branca, do jardim simples, do forte que construíram, dos dias que se seguiriam se nada disso tivesse acontecido.

Era literalmente uma tortura, muito mais dolorosa do que receber uma palmada de seu pai — que, recentemente, tinha voltado a beber, mas com menos frequência do que antes. Fingir que não conhecia Mark fazia seu coração doer profundamente, e pensar que nunca mais veria aquele sorriso direcionado para si, piorava.

Por estar afastado do antigo amigo, Jinyoung não sabia muito do que acontecia em sua vida. Em horas aleatórias, avistava Mark nos corredores, a aparência cansada, triste, e lendo algum gibi. Jinyoung não observava muito para não acabar indo atrás do garoto, mas mesmo de longe, ele sentia que alguma coisa estava errada.

As aulas seguiram como sempre, e quando chegou a época de provas, Jinyoung estudava tanto que às vezes desejava um companheiro para entendê-lo. Até se lembrar que já tivera um, balançar a cabeça, e voltar a se concentrar no livro à sua frente.

Os garotos riquinhos tinham parado de irritá-lo, mesmo com a distância de Mark. Jinyoung sabia que já não era mais um bom alvo. Os garotos já estavam se interessando em outras coisas, como esportes, música, jogos, e o mais inacreditável, garotas.

Jinyoung sempre teve um carinho especial pelas meninas, mas a única vez que acreditou se apaixonar, fora pela professora da antiga escola. Não tinha como se enganar. Era exatamente como ele lia nos livros; mãos suando, coração batendo forte, tremedeira... E a enorme admiração. Todos sabiam que Jinyoung era o aluno mais esforçado de sua classe na antiga escola, e que em toda oportunidade que tinha, aproveitava para tirar uma dúvida com sua professora. Ela era realmente encantadora, todos gostavam dela. Mas ninguém se comparava a Park Jinyoung.

Com o tempo, seu amor infantil foi sumindo, devagarinho, deixando apenas as doces lembranças de uma primeira paixão. Depois dela, Jinyoung nunca mais permitiu se apaixonar de novo, mesmo nutrindo carinho e enorme respeito por outras garotas — só que nenhuma delas era como sua professora, e talvez, nunca chegariam a ser.

E o mais estranho, enquanto observava os garotos riquinhos, era como eles tinham mudado da água para o vinho. Literalmente. Jinyoung nunca gostara das brincadeiras de mau-gosto dos meninos, da rejeição que eles tinham pelas colegas, e depois que eles começaram a se comportar e até elogiar algumas meninas, Jinyoung questionou-se: As pessoas realmente mudam? Ou deixam o que eram para traz e começam a fazer diferente?

Jinyoung se perguntou naquele como o universo evoluía, e se éramos afetados por suas mudanças também. Se algum dia ele mudaria assim como as estações do ano, e se apaixonaria de novo, ou arranjasse um novo amigo. Mas ele não via nenhum futuro do tipo, e fechou os olhos, sabendo que no fim, ele não seria tão diferente dos adultos que ele conhecia.

Sem querer, Jinyoung começou lentamente a chorar.

— Por que está chorando? — Perguntou uma voz, e Jinyoung parou, abrindo os olhos, e travando no lugar onde estava, sem alternativa.

Era Mark. Na sua frente. Perguntando porquê ele estava chorando. Preocupado. O seu Mark.

Engolindo a seco, Jinyoung confessa:

— Porque eu não quero ser um adulto que não tem mudança.

Mark arqueou a sobrancelha, e Jinyoung deu espaço para ele se sentar ao seu lado, debaixo de uma árvore na praça próxima a escola.

— Percebi que todos nós mudamos e evoluímos constantemente, e que tem gente que não consegue acompanhar o fluxo. Fica o tempo todo de pé atrás e não avança em nada. — Jinyoung arfou o peito, feliz por usar seu novo vocabulário. — O porquê disso, eu não sei. Só sei que não quero ser igual a eles. Alguém que não tem futuro, não tem um sonho. Que deixa tudo seguir, sem decidir em nada, presa nas coisas, sabe?

Mark assentiu, fitando o amigo. Jinyoung fungou, olhando para o céu.

— Queria ser como as nuvens. Elas podem mudar e mudar e sempre serão as mesmas.

— Mas por que quer ser a mesma pessoa, se você também quer mudar? — Questionou Mark, e Jinyoung deu um sorrisinho de lado.

— Porque elas são mágica, Mark. Ser uma nuvem não é mudar totalmente, e sim evoluir, tipo um bichinho crescendo. Ele continua o mesmo, só que diferente. — Mark assentiu. — Queria descobrir essa mágica das nuvens, assim, eu poderia evoluir sem ter medo de ficar no mesmo lugar ou ter que agir diferente.

— Acho que eu também queria ser uma nuvem. — Confessou Mark, sorrindo com a conclusão.

Jinyoung abraçou o amigo, segurando as lágrimas. Mark retribuiu o abraço.

— Desculpa por ter sido tão cruel. — Disse Jinyoung. — Percebi que é horrível ficar longe de você. Por favor, podemos ser amigos de novo?

— Nós já somos amigos, — Mark falou — melhores amigos. — E não aguentando, os garotos caíram em um silencioso choro, parecido com a chuva das nuvens depois de terem se transformado diversas e diversas vezes no céu.

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