capítulo cinco

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Um muro pode ter o tamanho que quiser, desde que esteja dividindo duas coisas; este é o simples elemento básico desta. Mas não consta nada sobre muros invisíveis. Podem ser facilmente barrados, mas funcionam mesmo assim. Imagino algo me separando agora da entrada da delegacia da cidade. Algo pesado, grande e intimidador. Fito as palavras enormes colocadas acima da porta, que igualmente me encaram, e uma luta travada pelos olhares e pelo medo me pregam a não dar nenhum passo à frente.

As pessoas correm ao meu redor. São poucas, mas podem ser facilmente comparadas as folhas e o vento, passando sem distinção, naturalmente seguindo seu rumo, e me encaram preocupadas. O que este homem estará fazendo? Por que ele age assim, como se esperasse pelo pior?

Em meu interior, carregado dentro do meu coração desde o primeiro passo que dei quando retornei, eu desejo pelo pior. Na viagem, na volta, na noite que se passou e no agora. Quero que me impessam, a culpa é verdadeiramente minha, não tem respostas escondidas. Jihyo está errada, eu estou certo e estou sofrendo de verdade...

Mas não. Minha contradição é mais forte.

Automaticamente, tudo se move. Em direção ao edifício, respiro fundo e entro ali.

O ar está gelado e silencioso, cortado pelo barulho do computador vindo da secretaria. Me aproximo. Meus membros estão ativos, minha respiração é natural, e meu corpo atua dramaticamente, como em uma peça — eu sou o ator novato, mas talentoso. Não sei o que estou fazendo, mas ao mesmo tempo, sei. É na improvisação que a mágica acontece, e se eu perder a linha, tudo está arruinado.

Acabou acontecendo.

— Sim? — A pergunta soa, mas nada ocorre. Tudo trava, o tempo trava, meu corpo trava, o propósito da missão, a causa, minha culpa. Deixa de existir. E agora eu quero voltar desesperadamente. Voltar para um apartamento simples e velho com uma vista tapada de prédios que é pago por um jovem alcoólatra por pena de mim, sem vontade de sentir, e ser consumido por uma culpa que era minha, mas uma psicóloga havia cutucado na pior pergunta sem resposta.

Pisco os olhos. Vamos, é só dizer...

— Senhor?... — A mulher arqueia a sobrancelha. — O senhor está bem?

Bem. Eu não estou bem há muito tempo, e estou aqui para isso. Para lutar contra o que me impede de ficar bem. Para obter a cura do meu mal, de afastar de forma saudável minha culpa, de procurar a coragem que me faltava para pagar meu pecado. Um tão horrendo e podre pecado.

Seguro a respiração, e solto-a junto de minha fala:

— Quero ver o delegado. Ou a pessoa responsável pelo caso do jovem Mark Tuan. Agora.

─━⊱❉⊰━─

— Durante anos de minha conduta estudando e resolvendo casos, — falou o delegado, fitando-me da cabeça aos pés, desacreditado — nunca imaginei que acabaria me deparando com uma figura desse tipo. Pois veja, durante todos os anos que investigamos, nossa delegacia sempre resolveu um caso. Com exceção do jovem Tuan, é claro. E agora — ele dá um sorriso ladino de comemoração, mas seus olhos não harmonizam com sua expressão. Neles, há o mistério da dúvida e da impossibilidade, lhe passando diante dos olhos — você aparece, para enfim terminarmos essa história.

— Eu quero ajudar. — Solto, antes do delegado perguntar. — Posso dar minha queixa do que aconteceu naquela noite, sou uma testemnada., mas quero ajudar mais. — Puxei a cadeira para mais perto da escrivaninha, contrariando todas as normais civis que me impediam de estar nesta cidade, e com coragem — era uma sensação — encarei o policial, dizendo: — Eu quero fazer parte das investigações.

Toda a alegria que surgia no sorriso do delegado se dissipou, e enfim, seu rosto se transformou em uma única expressão. O de raiva.

— Senhor Park, isso é coisa apenas para os políciais. O senhor deve saber...

— E eu sei, delegado. — Juntei minhas mãos, fitando-as para me concentrar melhor nas próximas palavras. Engoli a seco. "Como eu poderia convencê-lo?" De repente todo o plano não pareceu de mera imaginação, uma ideia sem nexo, que só funcionaria na teoria. Na prática seria impossível de se concluir. Nada iria colaborar. Exatamente nada. — Apenas... Quero ajudar, estar mais a frente do acontecimento. Por favor...

O delegado bufou, revirando os olhos com desprezo. No fundo e por fora, dava para perceber o tipo de pessoa que ele era: uma autoridade que lutaria até o fim do mundo para descobrir a verdade. O tipo que não aceita mentiras, e para manter as coisas em ordem, pode ir muito fundo, e acabar abusando. "Espero que ele nunca tenha abusado algum dia", penso. "O começo de uma catástrofe normalmente acontece por conta da justiça."

Uma lâmpada acende em minha cabeça. Se o delegado for realmente como aparenta, e ele estava interessado em mim por conta de eu ser uma testemunha recém-descoberta, "a justiça está do lado dos inocentes", ele irá ceder. Com toda certeza irá ceder.

— Ele era meu melhor amigo. — Confessei.

O delegado arregalou os olhos, surpreso. Não havia como adivinhar o seu próximo ato, então a ansiedade me preencheu. O policial suspirou, cruzando os braços, e devagar, perguntou:

— Quanto você precisa para desembuchar logo essa matraca, jovem?

De propósito, um sorrisinho se alargou no canto de minha boca.

— Uma troca justa: eu dou minha testemunha, e o senhor me deixa participar das investigações. — Explico. — Quero estar a par de tudo, e, se acabar dando em nada... — Os olhos do delegado brilharam. "Tudo o que ele queria era me ver fora disso, e ele mal tinha me conhecido." — Eu saio dessa investigação. Prometo não contar a ninguém.

— Acho bom mesmo, se não, estaria entrando em cana. — E passou o dedo indicador pelo pescoço, no típico ato "você está morto". Morto é o que eu queria estar naquela noite, e durante os anos seguintes também. Até alguém abrir os meus olhos e eu acordar daquele profundo sono, há alguns dias atrás.

why? ☆ got7Onde histórias criam vida. Descubra agora