capítulo seis - 2018

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Já seria a segunda vez que o toque da chamada passava pelos meus ouvidos, eram captadas pela minha audição e meu nervosismo crescia constantemente. Minhas unhas já chegavam a ser deploráveis, e a atenção estava bem dividida entre conferir se Yugyeom não tinha morrido durante a noite e o fim daquele barulho infernal. Minha consciência se perguntava: Por que eu estava fazendo isso? Ninguém fica acordado na manhã de sábado, no mínimo, não antes das dez da manhã. E mais, por que tinha que ser ela? Eu mal a conhecia, e nosso relacionamento não conseguia avançar mais do que algumas perguntas e respostas curtas, dentro de uma hora e meia de tortura naquele consultório sombrio e silencioso.

Mas eu precisava. Se tinha alguém que conseguiria me entender, seria Jihyo.

- Alô? - Finalmente, a palavra que eu queria é pronunciada. - Quem é?

- Sou eu, Park Jinyoung. - Respondo, prendendo a respiração sem perceber. - Você pode me atender agora? É um caso urgente.

- Mas, agora? - Jihyo parece pasma, e imagino como ela deva estar, saindo da cama depois de ser acordada bruscamente pelo toque de seu telefone. - Você está tendo alguma crise, por acaso?

Seu tom é de preocupação, e meu coração balança. Não é uma preocupação comum, igual os outros tem de mim quando me conhecem. Essa é profunda, de médico para paciente, de desespero e medo, medo de que alguma coisa ruim aconteça - provavelmente, relacionada com a minha vida e o fim dela.

Solto o ar, preparando as palavras.

- Não... Eu... Acho que é a hora. - Fecho os olhos. - Jihyo, eu estou cansado. Você precisa saber a verdade.

Silêncio na linha. Posso ouvir a respiração pesada de Jihyo, os olhos fixos em algo à sua frente, o questionamento em sua mente sobre as milhares de consequências que seguiriam se ela não fizesse a escolha certa, e então, a resposta final, clara como o fim iluminoso de um túnel escuro.

- Me encontre no meu consultório, daqui uma hora. - E desligo a chamada, fitando o telefone na parede, meus dedos segurando-o fortemente, e a decisão que eu tomara repassando na minha cabeça diversas vezes.

─━⊱❉⊰━─

Pela primeira vez depois de anos, não me sinto preocupado. Deixei Yugyeom com o almoço pronto, meu apartamento está limpo, saí no horário certo e minha consciência não pesa desde o Ensino Médio. Aproveito essa evolução ao máximo, pois até Jihyo chegar, minha vida estará nas mãos de outra pessoa, e a decisão do que é correto será finalmente decidida - e como pacote extra, a razão de toda a dor carregada.

São dez da manhã - horário em que normalmente todas as pessoas acordam no sábado - e o tempo está ensolarado, o barulho da metropole continua firme, e o consultório de Jihyo está fechado. Uma porta que liga à uma escadaria longa até uma pequena salinha, onde as paredes são cinzas e o silêncio domina tanto que é impossível não parar para pensar sobre a própria existência e as razões do universo. Abaixo, um corredor escuro, com vista para a rua movimentada, e somente eu, sem nenhuma sombra acompanhada, para me contrariar. "Eu estou decidido," pensei. "Não posso desistir tão facilmente."

Até que Jihyo chega, veloz como o vento, o cabelo curto bagunçado, a roupa amassada e um copo de café na mão. Não resisto dar um sorrisinho. Ela está muito linda para ser ignorada.

- Vamos subir. - Ordenou, e subiu as escadas mais veloz ainda do que quando chegou, abrindo seu consultório e organizando tudo com maestria.

Me sento na poltrona, e naquele momento, sei que minha consciência novamente está pesando.

Jihyo se senta à minha frente, sem seu caderno, os olhos fixos em mim, observando cada detalhe, e pergunta:

- O que você queria me contar?

Travei sem pensar, esquecendo tudo o que tinha de dizer, e me sentindo um completo idiota.

"Ela não é a pessoa certa", meu cérebro afirma, e limpo a garganta, pensativo. "Se ela não é a pessoa certa, então por que está aqui? Ela levantou cedo em um sábado apenas porque eu pedi. Isso não seria prova o suficiente?"

Então, incontrolavelmente, peguei o jornal que estava na mesa, abri a página onde tinha visto a reportagem, e apontei-a para Jihyo.

- "Indícios descobertos levantam novas questões sobre o mistério da morte de jovem bilionário." - Lê, olhando para mim depois com dúvida.

- Fui eu, Jihyo. - Confessei. - Fui eu quem matou ele.

why? ☆ got7Onde histórias criam vida. Descubra agora