Capítulo 53

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Há uma garota que se importa, por trás desta parede, é só você atravessá-la.
E eu lembro de todas aquelas coisas malucas que você disse.
Você as deixou rodando na minha cabeça. Você sempre está ai, você está em toda parte, mas agora eu gostaria que você estivesse aqui.
[...]
Droga, droga, droga.
O que eu faria para ter você aqui.
Eu gostaria que você estivesse aqui.

  
   Wish You Were Here – Avril Lavigne

          Point of view Dulce María

O crepúsculo se fundia com o amanhecer em uma dança de tons dourados e púrpuras, pintando o céu com uma beleza quase melancólica. O silêncio ao meu redor era profundo, interrompido apenas pelo som suave do vento que balançava as cortinas do que aparentava ser um quarto.

Eu não conseguia me mover, e ainda assim, sentia tudo. Meus sentidos estavam à flor da pele, cada toque, cada respiração. O suor escorria pelo meu corpo, tornando o ar ao meu redor ainda mais pesado, como se eu estivesse presa entre dois mundos. Meus olhos se abriram uma vez mais, lentamente e, por um instante, achei que estava sonhando como de costume.

Eu via Christopher, ou achava que via. Mas quando olhava novamente, o rosto mudava. Não era ele, e ao mesmo tempo era. A confusão me deixou tonta. O homem que eu enxergava me tocava com carinho, como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo. Seu toque deslizava pela minha pele como fogo suave, e eu senti uma onda de calor percorrer meu corpo, me consumindo por completo. Respirei fundo, tentando acalmar o caos que crescia dentro de mim, mas cada tentativa de controlar minha respiração parecia em vão. Meu corpo inteiro tremia, e a sensação era quase como se eu tivesse atravessado algum tipo de fronteira invisível, uma linha entre o que eu conhecia e o que estava além da minha compreensão.

Quetzaly. — sua voz baixa e cheia de ternura, como se cada sílaba fosse uma promessa. Ele me chamou por um nome que eu nunca tinha ouvido antes. — És tão formosa, meu amor. Tão minha.

Ele murmurou, e seus lábios encontraram os meus. Foi um beijo lento, profundo, cheio de sentimentos que eu não conseguia entender. Ao mesmo tempo, não importava. O toque dele em minha pele, suas mãos explorando meu corpo com uma delicadeza que eu nunca havia sentido antes, me envolviam como se fossem parte de mim.

Era como se eu estivesse vivendo algo que não era meu, mas que, de alguma forma, me pertencia. Cada movimento, cada suspiro. A realidade ao meu redor parecia desfocada, como se aquele momento estivesse preso a mim, enraizado em algum lugar profundo da minha mente. Quetzaly. O nome ecoava nos meus pensamentos, e eu não conseguia me desvencilhar dele. Quem era Quetzaly? E por que eu a sentia tão próxima de mim, como se parte dela ainda vivesse dentro do meu corpo? O peso do nome se espalhava pelos meus ossos, deixando rastros de algo antigo, algo que eu não conseguia nomear.

O homem, ao qual minha mente por vezes me confundia e me fazia enxergar Christopher ali, murmurava palavras doces, sussurrando promessas de eternidade e de amor, enquanto nossos corpos se uniam, se entrelaçando de forma intensa e única. Cada toque dele me fazia sentir uma conexão mais profunda, uma intimidade que transcendia tudo o que eu conhecia. Havia uma familiaridade perturbadora na forma como ele me tocava, como se estivéssemos ligados por algo além do tempo e do espaço. O calor do beijo, o arrepio que cada carícia causava em mim... não eram apenas sensações. Eram memórias. Memórias que não me pertenciam, mas que, de alguma forma, faziam parte de mim.

Mas então, uma sensação de perda começou a invadir meus pensamentos. A sensação de que aquilo não me pertencia de verdade, de que não era o meu amor, e sim de outra mulher, de outra vida. E no fundo, por mais que eu estivesse entregue àquele momento, havia algo que me puxava de volta. Algo que sussurrava insistentemente que aquele ali não era o meu lugar.

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