Capítulo 47

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Não são os seus olhos, não é o que você diz, não é o seu riso que te denunciam. Você está apenas sozinho, você esteve sozinho, por muito tempo. Me deixe entrar nesse muro, que você construiu ao seu redor, e nós podemos acender um fósforo e queimá-lo.
Me deixe segurar sua mão e dançar em volta das chamas, na nossa frente, do pó ao pó.

      Dust To Dust – The Civil Wars

         Point of view Dulce María

Respirei fundo antes de atravessar a entrada da casa de Victor. O ar estava carregado de uma tensão que eu não conseguia ignorar. Meu coração batia forte no peito, o som parecia ressoar nos meus ouvidos, sem parar. Depois daquele episódio há duas madrugadas, me senti encurralada pelos sentimentos que me tomaram. Ver Christopher fragilizado, sem ter ideia do que se passava com ele, me fez decidir voltar à casa de Victor. Não era como se minha mente já não estivesse turbulenta o suficiente com toda a conversa que tive com Alexandra. Eu precisava fazer isso.

Ao dar o primeiro passo, senti o peso da responsabilidade ceder um pouco em meus ombros. Repeti para mim mesma que precisava fazer aquilo, que precisava descobrir o que o afastava tanto. Toquei a campainha, batendo suavemente os pés contra o assoalho. Não demorou para que a figura de Noah aparecesse diante de mim. Ele estava com um sorriso hesitante no rosto, como se estivesse tentando ser cordial, mas sem saber exatamente como me receber. Eu também não sabia ao certo como lidar com ele.

Quando liguei para ele na noite anterior, garanti que precisava resolver um conflito interno que eu não deixaria respingar sobre ele ou Dinah. Prometi ajudá-los no que estivesse ao meu alcance, mas sabia que nunca poderia forçar um contato que Christopher talvez jamais quisesse ter com os irmãos, mesmo que eu ainda não compreendesse a situação.

— E aí, Christopher. — ele cumprimentou, forçando um tom leve, mas eu pude perceber a curiosidade e a incerteza em seus olhos. — Não pensei que você viria tão cedo.

— É, eu também não. Mas fico feliz em te encontrar aqui. — tentei sorrir, mas a expressão que consegui esboçar era mais de nervosismo do que de confiança. As palavras saíram de forma hesitante, como se eu estivesse pisando em território desconhecido, o que, de certa forma, era verdade. — Saindo para trabalhar?

Perguntei, puxando assunto, reparando no macacão que ele vestia, exatamente como da outra vez que estive aqui.

— Na verdade, acabei de chegar para almoçar. — ele sorriu de canto, me guiando para dentro da casa. Assenti devagar, prestes a continuar o diálogo, quando uma pequena figura surgiu correndo pela sala, parando abruptamente ao me ver. Era uma menina, de olhos surpreendentemente esverdeados e muito curiosos.

— Oi. — ela se limitou a dizer, acenando timidamente com um pequeno sorriso nos lábios.

— Olá! — sorri de volta, observando cada parte do seu rosto, tentando encontrar alguma semelhança com Christopher, mas a menina provavelmente havia puxado os traços da mãe. Olhei para Noah e soltei um leve pigarro; ele assentiu levemente. — Eu sou o Christopher, você deve ser a Dinah, não é?

— Isso mesmo! Sou irmã do Noah. — ela apontou para o garoto, que se aproximou dela e fez um cafuné em sua cabeça. — E você? É amigo dele?

Ela apontou curiosa, e Noah interviu, parecendo perceber o início do meu embaraço com a pergunta.

— Ele é um amigo distante. Na verdade, ele veio falar com o papai. — Noah explicou calmamente. Dinah assentiu, ainda curiosa e cheia de perguntas por fazer. Ela parecia uma criança adorável e energética, mas também muito educada e inteligente. Observei Noah conversando com ela e, por um instante, me senti estranha; uma culpa começou a se alastrar por todo o meu corpo. Era para ele estar ali, não eu. Sentia como se estivesse roubando um momento dele ou fazendo algo que ele jamais gostaria de fazer. Se Christopher sabia do endereço do pai e da existência dos irmãos, mas não veio conhecê-los, alguma razão forte ele tem, não?

It's a Boy Girl ThingOnde histórias criam vida. Descubra agora