Capítulo 46

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⚠️ • Este capítulo contém descrições detalhadas de crises de ansiedade e pânico, que podem ser perturbadoras para alguns leitores. Se você é sensível a esses temas, considere ler com cautela ou pular este capítulo. Boa leitura! ⚠️

Eu penso em você quando eu sinto o cheiro de cigarro, bem-vindo ao fundo do inferno. Eles dizem que a dor é uma prisão, me deixe sair da minha cela.
[...]
Como você pôde nos deixar tão inesperadamente? Estávamos esperando, por você, mas você simplesmente nos deixou.
Nós precisávamos de você, eu precisava de você.

    How Could You Leave Us – NF

        Point of View Christopher

A mentira tem um jeito cruel de se enraizar na mente, de se enrolar nas verdades e transformá-las em algo indistinguível. A descoberta da última falácia de Channing foi como um veneno lento, escorrendo por minhas veias, corroendo minhas certezas e deixando no lugar um vazio repleto de desconfiança. As cicatrizes de mentiras antigas voltaram a pulsar, me lembrando de que, por mais que eu tente seguir em frente, o passado sempre encontra uma forma de me puxar para trás.

Enquanto abria o armário, senti o peso dessa revelação pairando sobre mim como uma tempestade prestes a desabar. Minhas mãos moviam-se automaticamente, pegando os materiais para a próxima aula, mas minha mente estava a quilômetros de distância, perdida em um turbilhão de pensamentos que não conseguiam se dissipar de mim a exatos dois dias.

Dois dias haviam se passado desde aquela noite confusa. Eu me lembrava de alguns detalhes, mas uma parte dela estava envolta em um borrão. Uma coisa, no entanto, estava clara na minha mente: a descoberta de mais uma mentira que Channing havia inventado para nos afastar.
A sensação de ter sido enganado me consumia desde que a descobri, era como se as paredes ao meu redor estivessem se fechando, me sufocando com a pressão das verdades não ditas e das mentiras expostas.

                        Channing...

Ele sempre teve um talento especial para a manipulação. Conseguia torcer a realidade de forma tão convincente que, por vezes, me perguntei se o problema não era comigo. Talvez fosse eu quem não sabia enxergar a verdade, talvez fosse eu quem merecesse essas mentiras. Mas essa última... essa última foi diferente. Foi mais pessoal, mais íntima. Não era apenas uma jogada para me manter longe ou na "linha", era uma tentativa deliberada de nos destruir, de cortar o último fio de confiança que ainda restava entre nós.

                           E eu?

Bom, eu me deixei cair nessa armadilha de novo, como uma marionete cujas cordas ele controlou com maestria. Cada movimento meu, cada decisão, parecia ter sido cuidadosamente orquestrada por ele, e a ideia de que eu poderia estar repetindo os mesmos erros me consumia por dentro.

Eu a quebrei tanto, por uma mentira.

Fechei o armário devagar, me sentindo de raivoso a frustrado, e com um medo que é capaz de me engolir. Mesmo depois de ter acordado no dia seguinte ao seu lado, de ter recebido todos os seus cuidados e de tê-la completamente disposta a me ouvir, eu não tive coragem. Eu sabia que Dulce não entenderia a profundidade do que estava acontecendo. Ela não conhecia o verdadeiro Channing, o homem por trás da máscara, o manipulador que estava sempre dois passos à frente, pronto para puxar o tapete debaixo dos meus pés. Mas mesmo assim, não podia compartilhar isso com ela. Não podia transferir esse peso para seus ombros, já que ela não compreendia a extensão das feridas que ele havia nos causado.

Tudo isso poderia esperar um pouco mais. Muita confusão nos rodeava, a entrevista com o reitor de Oxford estava chegando, e eu sabia que precisava estar preparado. O jogo de futebol, apenas uma semana e meia depois, era outra distração, o momento não pedia por aquela conversa. E esse pensamento me fez tentar se agarrar intensamente a qualquer futuro próximo somente como uma mera forma de escape, mas nada conseguia apagar a sensação de que algo estava prestes a dar terrivelmente errado.

It's a Boy Girl ThingOnde histórias criam vida. Descubra agora