CAPÍTULO 22

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[…]

10 de Maio de 2003 - Reino
Unido

Callie


Eu não aguentava mais guardar esse segredo para mim, precisava compartilhar com alguém sobre essa possível paternidade de Carlinhos. Faz dias que estava sofrendo de ansiedade por isso, me sentia sufocada e com muita raiva de mim por esconder uma coisa dessas do meu irmãozinho. Mas eu precisava de provas, e certeza do que estava prestes a fazer, afinal estou lidando com a história de um adolescente que está descobrindo quem ele quer ser nesse mundo.

Eu tinha mandado uma mensagem para Mark pedindo para que ele viesse até minha sala quando tivesse um tempo. Eu tinha dado folga a Arizona, Luna tinha médico na parte da manhã, e eu acabei que dando folga o dia todo. E se fosse o que eu imaginava, eu precisava manter isso em segredo até mesmo para minha namorada, mesmo que eu não goste de esconder coisas dela, mas por enquanto é necessário.

Sou tirada dos meus pensamentos com algumas batidas na porta, e eu logo libero a entrada do meu melhor amigo que sorrir pra mim.

— Quem eu devo matar? - perguntou Sloan me arrancando uma risada

— Por enquanto ninguém. Quem sabe arrancar um fígado, ou um braço -brinquei fazendo Sloan bater palmas animado — É brincadeira palhaço

Mark retirou a gravata que estava preso em seu pescoço e sentou em minha frente cruzando os dedos em cima da mesa. Contei tudo a ele sobre a traição de minha mãe, de meu pai não ser pai de Carlinhos, e da possível chance de meu irmão ser meio irmão de Arizona... Esta parecendo roteiro de novela eu sei.

— ...quando os dois se encontraram na portaria eles pareciam se conhecer, e Carlinhos tem traços daquele homem, e eu passei a reparar que são as mesma de Arizona

Mark ouvia tudo boquiaberto com a minha revelação. Sua cara era um tanto engraçado, e cada parte dita ele esboçava uma reação.

— Em uma das noites dela em casa, ela viu uma foto minha e de Carlinhos ainda pequenos. E ela comentou que Carlinhos a lembrava muito naquela idade

— Diante de tudo isso tem uma grande chance de você estar namorando a irmã do seu irmão. E o que você vai fazer com essas informações toda?

— Eu realmente não sei. Eu tenho medo da reação de Carlinhos, do meu pai

— Mas quanto mais cedo eles souberem, melhor será Call. Você não acha que seu irmão merece saber a sua verdadeira história? No início ele vai sofrer, vai se isolar e criar várias paranoias na cabeça. Mas depois ele vai se erguer, e ver que ele não tem culpa de nada disso. Não é sangue que define quem é a sua família. Isso não define quem sai ou quem fica em sua vida.

Segurei em suas mãos, eu sabia que Mark estava falando de si. Me lembro perfeitamente bem da época que Mark foi deixado pelos pais quando tinha apenas quatorze anos, ele era uma criança e teve que se virar para sobreviver. Meu pai passou a ser o responsável por ele, e desde então nunca soube do paradeiro dos pais. Hoje ele é um homem incrível, um bom pai para Sloan Riley, e agora um ótimo avô babão. Que mesmo de longe esta sempre cuidando de sua família.

— Obrigado por isso -falei sincera fazendo um carinho em seu dorso

— Pelo o que exatamente?

— Por dizer essas coisas. Carlinhos precisa saber a sua verdadeira história, e se ele for a metade do homem que você se tornou serei eternamente grata- lhe sorri.

Mark levou minha mão até os lábios e beijou. Sloan era um irmão pra mim, eu o amo muito, e só quero o melhor para ele, assim como eu quero para o Carlinhos.

Depois da nossa conversa voltamos ao trabalho. Recebi duas clientes minha em minha sala. Com uma passamos tudo que seria dito no julgamento que seria daqui à três dias... Era um caso extremamente sensível, assim como todos que eu defendia com unhas e dentes, mas esse tinha uma criança envolvida.

Kristen Trevon, uma jovem de vinte e um anos. Casada com um homem de cinquenta e três, casamento arranjado pelos pais, pois o homem era rico e possuía muitos bens, e família de Kristen era bem humilde. A menina se viu obrigada a casar, e desde então passou a ser violentada pelo homem, verbalmente e fisicamente. Vítima de um estrupo engravidou do pequeno Ramon de oito meses. Kristen pediu o divórcio com medo do homem fazer algo com o filho, porém o pedido foi negado, e o mesmo vive perseguindo a mulher, e na ultima semana tomou o seu filho, e se recusa a entregá-lo. A sua ida até a delegacia de nada adiantou, lá disseram que Jairo (esposo) tinha o direito sobre a criança como pai, e eles não poderiam fazer nada por ela.

Assim como muitas mulheres vítimas de maridos violentos, Kristen apenas quer sua vida de volta. Poder criar o seu filho sem medo de não acordar no dia seguinte.

— Eu nem sei como te agradecer por isso, Senhorita Torres

— Que tal começar a me chamar por Callie hum? Eu preciso que você esteja 100% para essa audiência. Vamos entrar naquele tribunal, e mostrar pra eles quem se estar no poder - segurei em seus ombros fazendo a mais nova olhar para mim

Kristen estava com os olhos úmidos, mas em seus olhos tinham um brilho de esperança. E era esse brilho que me dava mas forças para lutar por essas mulheres. Não existe dinheiro no mundo que pague isso. E eu iria nesse tribunal e lutaria com unhas e dentes, não aceitarei sair de lá sem ter essa causa ganha.

DESTINO | CalzonaOnde histórias criam vida. Descubra agora