Capítulo 06: Christoffer Schistad

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Vinte e oito dias de ansiedade tinham se passado desde que eu visitara esta sala com decoração deprimente no prédio dos serviços sociais. Os palhaços e elefantes pintados na parede deveriam provocar alegria,
mas, quanto mais eu olhava, mais sinistros eles se tornavam.Nervoso pra cacete e segurando dois presentes embrulhados, eu me sentei em uma
cadeira dobrável fria. Eu não precisava desse lembrete de como minha família tinha se ferrado. Meus irmãos mais novos costumavam seguir cada passo meu, admirando o chão onde eu pisava. Agora, eu não tinha certeza se Tyler se lembrava do nosso sobrenome. Esperei como um brinquedo pronto para sair da caixa. A assistente social tinha que trazer meus irmãos antes que meus nervos explodissem. Por algum motivo, Eva e seu pé balançando me vieram à mente. Ela devia estar muito mais machucada do que eu. A voz da minha mãe surgiu na minha cabeça. "Você sempre deve estar apresentável. É importante começar com o pé direito." Eu tinha feito à barba, coisa que não me preocupava em fazer todo
dia. Minha mãe e meu pai teriam odiado meu penteado e qualquer sinal
de pelo aparecendo no meu rosto. Pensando na minha mãe, eu nunca
deixava o cabelo crescer sobre as orelhas nas laterais, mas, por instinto de autopreservação, deixava o topo crescer um pouco, negando as pessoas o acesso aos meus olhos. A porta se abriu e automaticamente fiquei de pé com os presentes ainda nas mãos. Jacob voou pela porta e lançou o corpo contra o meu. A cabeça dele agora tocava meu estômago. Joguei os presentes na mesa, me abaixei até a altura dele e o abracei. Meu coração se desmanchou. Caramba, como ele tinha crescido.

Minha assistente social, uma negra grandona de uns cinquenta
anos, fez uma pausa na porta.
- Lembre- se: nada de perguntas pessoais sobre os pais adotivos
deles. Estarei do outro lado desse espelho. Fuzilei Keesha com os olhos.Ela me fuzilou de volta antes de sair.

Pelo menos, o ódio era mútuo. Depois que bati no meu pai adotivo, o
sistema tinha me rotulado como emocionalmente instável, e eu tinha
perdido o direito de ver meus irmãos. Como eu não tive nenhum surto
com minhas outras famílias adotivas e apresentei "melhoras", recentemente recuperei o direito a visita supervisionada uma vez por mês.

Jacob murmurou no meu ombro:
- Senti saudade de você, Chris.
Eu me afastei e olhei para o meu irmão de oito anos. Ele tinha o
cabelo louro, os olhos azuis e o nariz do meu pai.

- Também senti saudade de você. Onde esta o Tyler? Jacob afastou o olhar para o chão.

- Ele está vindo. A mamãe. Quer dizer.- gaguejou.- A Carrie está
conversando com ele no corredor. Ele está meio nervoso.- Os olhos dele
se encontraram com os meus de novo, cheios de preocupação. Fingi um sorriso e baguncei o cabelo dele.

- Sem estresse, mano. Ele vai vir quando estiver pronto. Quer abrir o
seu presente? Ele deu um sorriso que me lembrou o da minha mãe e fez que sim com a cabeça. Dei o presente e fiquei olhando enquanto ele abria a caixa, que tinha vinte pacotes de cartões de Pokémon. Ele se sentou no chão e perdeu o interesse por mim enquanto abria cada pacote, de vez em quando me contando fatos aleatórios sobre um cartão especifico de que ele gostava. Olhei para o relógio e depois para a porta. Eu tinha pouco tempo com meus irmãos, e uma vaca estava com Tyler. Apesar de eu ter dito ao Jacob que estava tudo bem, não estava. Tyler só tinha dois anos quando nossos pais morreram. Eu precisava de cada minuto que pudesse para ajudar meu irmão a se lembrar deles. Droga, a quem eu estava enganando? Eu precisava de cada minuto para ajudar Tyler a se lembrar de mim.- Como estão as coisas com a Carrie e o Joe? - Tentei parecer indiferente, mas essa pergunta me deixou nervoso. Eu tinha experiência de primeira mão com pais adotivos de merda e mataria qualquer um que tentasse tratar meus irmãos como aquelas pessoas tinham me tratado.

Jacob organizou os cartões em diferentes categorias.
- Tudo bem. Eles falaram pra gente no Natal que a gente podia começar a os chamar de mamãe e papai, se a gente quisesse. Filhos da puta. Meu punho se fechou e eu mordi o interior da boca, tirando sangue. Jacob afastou o olhar dos cartões pela primeira vez.
- Aonde você vai, Chris?

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora