Capítulo 11: Eva Mohn

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As placas na sala da Sra.Collins tinham se movido um milímetro,
revelando marcas pretas na parede. Pela primeira vez, eu me peguei
desejando a presença da Ashley. A imperfeição a teria deixado maluca.
Assim como na última semana, a faixa azul estava sobre a mesa da Sra.Collins e, assim como na última semana, a localização da faixa tinha
mudado - estava cada vez mais perto da minha cadeira. Era como se
aquele objeto tivesse um campo de força que me envolvesse – uma atração que eu não conseguia explicar.

- Como estão as coisas com seu namorado? - perguntou a Sra.
Collins. Outra tarde de terça, outra sessão de terapia.

Afastei os olhos da faixa. Graças a Deus o Luke tinha me convidado
para sair com uma turma no sábado à noite. Menos uma mentira para
contar. - A Ashley entendeu mal. Eu não tenho namorado, mas estou saindo com alguém.- Mais ou menos. Tipo isso. Se uma saída representasse que eu estava "saindo". Os olhos dela brilharam.

- Maravilha. É aquele jogador de basquete que eu tenho visto com
você pelos corredores?

- É.- Que ótimo, uma terapeuta que me perseguia. Isso é permitido? Concordo - Me fala dele. Hummm. Não.

- Não quero falar do Luke.

- Tudo bem - disse ela, totalmente inabalada.- Vamos falar do
Chris.  Ele me disse que hoje é a primeira sessão de monitoria com você. Pisquei várias vezes seguidas. Droga. Era? Talvez eu devesse ter
falado do Luke. Eu ainda estava com a jaqueta do Chris no armário desde
que a Noora e a Ingrid me convenceram de que eu não podia simplesmente entregar a ele durante a aula. Elas ainda estavam bolando um plano para devolver a jaqueta.

- É.É, sim.

- Você quer um conselho? Dei de ombros e bocejei ao mesmo tempo, me preparando para o sermão "diga- não- as- drogas- ao- sexo- e- ao- álcool". Afinal, em teoria, eu era monitora do Chris Schistad.

- Claro.

- O Chris é mais do que capaz de fazer o trabalho. Ele só precisa de um empurrãozinho. Não deixe ele te levar a pensar o contrário. E você, Eva, é a única pessoa nesta escola que eu acredito que possa desafiar o Chris academicamente.

Claaaaaaaro. Esse papo foi totalmente estranho.

- Tá bom.- Cobri a boca ao bocejar de novo.

- Você parece cansada. Como tem dormido?  Muito bem. Dormi um total de duas horas ontem. Meu pé começou a balançar.

- Eva, você está bem? Você parece pálida.

- Estou ótima.- Se eu continuasse a dizer isso, talvez se tornasse
realidade. E talvez, algum dia, eu conseguisse dormir uma noite inteira
sem ter sonhos terríveis, estranhos, apavorantes, cheios de constelações,
trevas, vidro quebrada e, as vezes, sangue.

- Seu pai falou que você não esta tomando o remédio para dormir,
apesar de ainda ter pesadelos.

Toda noite. Terríveis o suficiente para eu não querer dormir.
Assustadores o suficiente para eu acordar gritando quando perdia a
batalha e realmente caia no sono. Meu pai e a Ashley mantinham as
pílulas trancadas num armário no banheiro deles e só me davam se eu
pedisse. Eu preferia que espetassem meus olhos com uma agulha lavada
em água sanitária a pedir alguma coisa a Ashley.

- Já disse que estou ótima. Com a palavra ótima, meus olhos voltaram para a faixa. Por que ela me atraía tanto? Eu me sentia uma mariposa voando em direção à lâmpada.

- Você parece muito interessada na faixa, Eva - disse - Pode segurar, se quiser.

- Não, estou bem - respondi. Mas eu não estava bem. Meus dedos se
retorciam no meu colo. Por algum motivo esquisito, eu queria segurar a
faixa. A Sra.Collins não disse nada, e o silêncio meio que me apavorou.
Meu coração fraquejou quando finalmente me inclinei para frente e
peguei a faixa. Não era uma daquelas faixas azuis de má qualidade. Era uma de verdade – grande e feita de seda. Alisei o tecido entre o dedão e o
indicador. Primeiro lugar em Pintura - Concurso do Estado do Kentucky.
Alguém na minha escola tinha ganhado o Concurso do Estado. Que
lindo! Todo artista de escola sonhava em ganhar essa competição. Talvez alguém do primeiro ano tivesse um talento incrível para as artes. Dane- se o meu pai - no instante em que a Sra.Collins me liberasse, eu planejava ir até a sala de artes e ver esse talento com os meus próprios olhos. Para ganhar o primeiro lugar no Concurso do Estado, era preciso ser um gênio.
Enquanto eu passava os dedos na faixa outra vez, aplausos ecoavam
na minha cabeça. Uma imagem congelada do meu braço esticado
aceitando a premiação veio a minha mente. Meus olhos correram para a Sra.Collins, enquanto meu coração
martelava no peito. - Ela é minha.

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora