Capítulo 17: Christoffer Schistad

238 18 5
                                    

Eu tinha visto os meus irmãos. Quem diria que um milagre podia acontecer? E eu ia ver os dois de novo no segundo sábado de fevereiro.
Isso merecia uma comemoração. Eu esperava que o Yousef tivesse comprado erva, porque planejava enrolar o maior baseado que qualquer um de nós já tinha visto.

Sendo o último a voltar à noite, estacionei minha porcaria de carro na rua. O Dale trabalhava no turno da noite na fábrica local de caminhões. A gente não sabia, de um dia para o outro, a que horas ele ia trabalhar. Uma vez cometi o erro de estacionar na frente da garagem. Em vez de tirar meu carro dali, o Dale arrancou meu espelho retrovisor do lado do motorista.

Luzes brilhavam em todas as janelas da casa - isso não era bom sinal. Entrei na sala de estar minúscula e notei toalhas cobertas de sangue.

- Que porra é essa?

Yousef apareceu instantaneamente ao meu lado.

- O canalha espancou a Sana.

- Eu estou bem. – A voz da Sana estava trêmula. Ela estava sentada na cozinha com o braço esticado sobre a mesa. A tia dela, Shirley, limpava diversos cortes e queimaduras de cigarro.

O corpo todo da Sana estremecia, como se ela estivesse no meio de uma convulsão. O lado direito do seu rosto estava roxo, arranhado e dilatado, e o olho direito estava fechado de tão inchado. O sangue encharcava sua camiseta preferida. Sana levou o cigarro até a boca e deu uma longa tragada.

- A nova transa da minha mãe usa anel de formatura. Ele deve ter roubado de alguém.

- Filho da puta. Por que você foi pra casa, Sana? Você sabia que esse babaca era uma fria. - Dei três passos e me ajoelhei ao lado dela na cozinha.

Ela deu outra tragada enquanto uma lágrima escorria do olho esquerdo.

- Era aniversário da minha mãe e o babaca não queria dividir ela, então... - Ela deu de ombros.

Uma raiva animal percorreu meu corpo e todos os músculos se contraíram, prontos para brigar.

- Quando é que a polícia vai chegar?

- Eles não vêm – respondeu Shirley. Ela colocou gaze sobre uma queimadura e prendeu com esparadrapo.

Lutei para me controlar.

- E por que não?

- Ela tem dezesseis anos e a mãe dela estava lá. Eles vão prender minha irmã junto com o tal namorado que não presta. Não concordo com o jeito como ela leva a vida, mas não vou mandar minha irmã pra prisão, e a Sana também não quer isso.

Esperei a Sana confirmar essa teoria. Ela apagou o cigarro no cinzeiro, colocou outro na boca e ficou remexendo no isqueiro. Ele fez vários cliques conforme ela tentava, sem sucesso, raspar a roda contra a pedra. Peguei- o da mão dela e, em um movimento suave, acendi o cigarro.

- Obrigada - disse ela, fraca.

O telefone tocou uma, duas, três vezes. Quando parou, o celular da Sana começou a tocar a música "Lovesong", do The Cure - o toque da mãe dela. Sua mão tremia quando ela bateu as cinzas no cinzeiro.

- Ela continua ligando. Ela quer que eu volte pra casa.

- Por quê? – resmunguei.

- Ele ficou cansado de me bater e dormiu, desmaiou, sei lá.
Provavelmente acordou e sentiu falta da sua piñata.

Tentei me livrar da raiva esfregando o pescoço.

- Chama a polícia, Sana.

- E o que você acha que vai acontecer com você e o Yousef se ela fizer isso? – O Dale entrou na cozinha, com o cabelo escuro lambido para trás por ter acabado de tomar banho. – Sua assistente social anda meio enxerida nos últimos tempos, Chris. Se a gente ligar pra polícia, eles vã descobrir que a Sana está morando aqui. Podemos dar adeus a você e ao Yousef.

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora