Capítulo 27: Eva Mohn

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A manhã de segunda-feira foi o começo de uma nova fase da minha vida ficar com Christoffer Schistad em público.

No instante em que ele veio por trás e beijou a lateral do meu pescoço, fiquei dividida entre me encostar nele e fugir. Todos os músculos do meu corpo gritavam para que eu grudasse nele. Meu cérebro me mandava correr. Com um suspiro, ergui minha cabeça.

- Você esta quebrando várias das regras de demonstração pública de afeto da escola.

O Chris riu enquanto eu fechava meu armário.

- E daí?

E daí?

- Eu não quero levar advertência.

- Você esta muito tensa. Acho que sei o que vai te ajudar a relaxar.

O modo como os olhos dele me devoraram me disse que eu não devia morder a isca, mas mordi mesmo assim.

– E o que seria?

O Chris pressionou o corpo contra o meu e me empurrou em direção aos armários.

- Um beijo.

Segurei os livros perto do peito e lutei contra a ânsia de largá-los no chão e puxar o Chris para perto. Mas isso só estimularia o comportamento dele e, meu Deus, provocaria aquele beijo maravilhoso. Fantástico ou não, beijar em público definitivamente significava levar advertência e receber uma anotação no boletim.

Passei por baixo do braço dele e respirei o ar puro, aceitando com prazer qualquer aroma que não me lembrasse dele. O Chris conseguiu me alcançar, diminuindo o ritmo para ficar ao meu lado.

- Sabe, você pode não ter percebido, mas a gente faz aula de cálculo juntos - disse ele. - Você podia ter me esperado.

- E te dar a chance de me arrastar para o quartinho do zelador?
Não, obrigada.

O Chris segurou os livros ao lado dele, com a outra mão enfiada no bolso da calça. Conforme prometido, ele não pegou na minha mão nem colocou o braço no meu ombro, mas prestou mais atenção em mim do que no corredor à nossa frente e nos outros alunos que lotavam a escola.
Entramos na aula de cálculo, e eu juro que todas as pessoas da sala congelaram e ficaram olhando quando o Chris parou ao lado da minha mesa.
- O Yousef, a Sana e eu passamos lá mais tarde.

- Esta bem. - Monitoria, conserto do carro e, se tudo desse certo, uns beijinhos.

Ele deu aquele sorriso malicioso e diminuiu a voz.

- A Sra. Frost sempre se atrasa. Eu podia te beijar agora e dar a multidão o que eles estão esperando.

Essa seria uma ótima maneira de começar a aula. Lambi os lábios e sussurrei:

- Você vai me meter em encrenca.

- Pode apostar. - Ele acariciou meu rosto antes de seguir em direção a sua cadeira nos fundos.

Eu me ajeitei na cadeira e passei uma hora inteira tentando fazer com que minha mente se concentrasse na aula, e não em beijar Christoffer Schistad.
A Noora se afastou da parede e se juntou a mim enquanto eu ia em direção ao refeitório.

- Demorou, hein. Onde você estava?

- Eu tive que ir ate o meu armário antes do almoço. - Na verdade, eu não precisava, mas usei a desculpa para passar pelo armário do Chris e roubar alguns segundos - tudo bem, alguns beijos - dele. Eu finalmente entendi por que ele e os amigos preferiam o corredor isolado ao refeitório.

- Uhuu. Então o cara alto, sombrio e misterioso não vai sentar com a gente no almoço?

- Não. - Enchi a voz de otimismo, me obrigando a ficar tranquila com isso. Afinal, eu não tinha escolha. Acho que eu poderia sentar com o Chris se realmente quisesse. Eu já tinha enrolado o suficiente. - Então, qual é o veredicto sobre o meu status social?

- Vamos ver no almoço.

Que ótimo. Ela podia ter me avisado antes de entrarmos no refeitório. Por que Glinda, a Bruxa Boa, não sacudia sua varinha mágica e fazia as pessoas da Munchkinlandia me adorarem?

Assim como no primeiro dia do segundo ano, as pessoas me encaravam e cochichavam quando eu passava. Pelo menos agora elas não estavam analisando meus braços, mas dividiam os olhares entre mim, o Luke e a mesa de almoço vazia do Chris.

- Apanhe uma bandeja, vamos pegar comida - murmurou a Noora quando passamos pela nossa mesa. A Vilde me deu um sorriso amarelo, enquanto a Ingrid estava ocupada com um pote de iogurte.

Meu coração doeu. As opiniões do resto da escola não me importavam. A risada e os comentários sussurrados eram um saco, mas, no fim das contas, não importavam. Mas a rejeição da Ingrid partiu meu coração. Deslizei minha bandeja ao lado da bandeja da Noora, sem tocar na comida.
De um jeito nada característico, a Noora pegou uma porção de batatas fritas e dois brownies.

- A escola esta dividida. A Deanna disse para as amigas dela que o Luke te usou para fazer ciúmes para ela, o que te leva de volta ao mundo do patético. Graças à briga no baile e aos beijos entre você e o Chris antes do primeiro tempo de aula, algumas pessoas acham que você largou o Luke para ficar com o Chris, o que te coloca oficialmente na ala dos esquisitos.

Que maravilha. Talvez eu fosse a esquisitice em pessoa, a rainha de todos aqueles com cicatrizes emocionais. Como uma meia-irmã da Bruxa Boa.

- E o resto da escola acha que você e o Luke usaram um ao outro, que ele tem que ficar com a Deanna e que você e o Chris juntos são demais. - Ela me deu um sorriso travesso e piscou enquanto dava dinheiro para o caixa.
Segui a Noora e percebi o Luke pairando sobre a Deanna, rindo para ela como um tonto. Eu realmente o deixei para ficar com o Chris, mas o Luke também me largou. Verdade seja dita, eu o usei para ter normalidade. Será que ele tinha me usado para reconquistar a Deanna?
A Deanna me pegou olhando. Os olhos dela se estreitaram. O Luke me deu um meio sorriso enquanto pegava a mão dela. Talvez ele tivesse me usado, mas eu não tinha problemas com isso. Nesse caso, dois erros fizeram um acerto importante.

- Bom, deixa eu adivinhar: você e a Vilde são esse último grupo.

- Nós somos o único grupo que importa certo?

Eu me juntei a Noora na parte dos condimentos.

- Se a maioria da escola me rotulou como esquisita, por que o almoço é tão importante?

A Noora espremeu mostarda em cima de todas as batatas fritas.

- Por causa da Ingrid. - Sentada perto da Vilde e de outra amiga, Ingrid mexia no iogurte várias vezes.

- Estou surpresa por ela ainda não ter tomado uma decisão. Reputação versus amizade. A reputação sempre ganha, certo?

- Ela está tentando. Dá um tempo pra fofoca morrer e ela vai aceitar.

E, talvez ela aceitasse. Coloquei a bandeja vazia na mesa de condimentos.

- Diz pra Vilde que eu falei "oi", tá?

- Aonde você vai?

- Pintar.

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora