Última Capítulo: Christoffer Schistad

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- Quando você vai voltar? - perguntou o Jacob. Estávamos sentados na casa da arvore no quintal da Carrie e do Joe no dia seguinte a formatura. Eles tinham feito um grande jantar em comemoração e me disseram para convidar meus amigos. Eu levei a Eva, o Yousef e a Sana, completamente sóbria.

A Eva no momento estava ajudando a esconder o Tyler, numa brincadeira de esconde-esconde com o Yousef e a Sana.

- No máximo no começo de setembro. Minhas aulas começam na segunda semana do mês.

As perninhas dele estavam penduradas na borda.

- Na escola da nossa mãe?

- Na escola da nossa mãe. - No curso de arquitetura.

O Estado cobriria os custos com anuidade e moradia, mas eu planejava morar fora do campus com o Yousef e a Sana depois que voltasse da viagem com a Eva. A Sana e o Yousef só se formariam no ano seguinte, mas a Shirley e o Dale não se importavam com onde eles moravam.

Quanto a Eva, ela tinha aceitado a bolsa de estudos para "a escola da nossa mãe" e planejava morar no dormitório da faculdade.

Ele estendeu os dedos e contou.

- Mas isso dá pelo menos três meses.

Como eu poderia explicar aos meus irmãozinhos por que eu precisava ir embora? Como eu poderia explicar que, durante três anos, a única coisa que me mantinha vivo era a ideia de formar uma família com eles de novo? Eu havia perdido e havia ganhado. Eu havia perdido os sonho que tinha, mas havia ganhado novos sonhos.

Eu precisava de tempo para reprogramar meu cérebro, descobrir como ser um aluno de faculdade responsável e um irmão mais velho sem preocupações.

- Eu vou ligar todo dia e mandar presentes e cartões-postais de cada lugar que eu visitar.

O Jacob se iluminou ao ouvir a palavra presentes.

- Promete?

- Prometo.

A Eva e o Tyler riram quando o Yousef o colocou sobre os ombros, agarrou a mão dela e correu pelo pátio para impedir que a Sana os "encontrasse". A Sana seguia devagar, fingindo que não tinha ideia de onde eles estavam. Minha garganta se fechou com essa visão. Eu finalmente tinha uma família.

- O Tyler gostou dela - disse o Jacob ao ver nosso irmão mais novo estender os braços para a Eva.

Limpei a garganta e engoli as emoções que estavam me esmagando.

- O que você acha dela?

Quando os apresentei, um mês antes, meus irmãos tinham ficado tímidos perto dela. Então a Eva fez um desenho do Jacob e do Tyler e o gelo se quebrou. Eles achavam legal um adulto adorar lápis de cera tanto quanto eles. Precisou de mais tempo para eles se adaptarem à Sana e o Yousef, mas eles acabaram conquistados pelas tatuagens do Yousef e pelos presentes que a "tia Sana" comprava para eles.

O Jacob deu de ombros.

- Ela é legal para uma menina.

Eu ri.

- É. Ela é mesmo.

- Pra onde você vai quando for embora?

- Pra vários lugares, mas principalmente para o Colorado. Tem algumas galerias de arte que a Eva quer visitar lá.

Ele me atacou em um abraço.

- Colorado. Tem montanhas lá. Legal!

Legal. Brincamos mais um pouco de esconde-esconde, até o Tyler não conseguir mais manter os olhos abertos. A Eva foi embora com o Yousef e a Sana para empacotar o resto das coisas para a nossa viagem e para fazer o pai dela jurar, mais uma vez, que cuidaria do carro do Aires até a nossa volta. Embora ela não admitisse, acho que ela também queria uns minutinhos para embalar o Alexander.

A Carrie me deixou ler histórias para os meus irmãos, ouvir as preces deles e coloca-los na cama. O Tyler ia dormir com o Jacob na cama de baixo.

- Te amo, Chris. - O Tyler bocejou e fechou os olhos. Toquei a lateral da cabeça dele. Não era a primeira vez que ele me dizia essas palavras, mas era a primeira vez desde que a Carrie e o Joe tinham me deixado voltar a fazer parte da vida dos meus irmãos.

- Eu também te amo - acrescentou o Jacob.

- E eu amo vocês dois. Cuidem um do outro e obedeçam à Carrie e ao Joe.
O Jacob me deu o sorriso da nossa mãe.

- Pode deixar.

Beijei os dois na testa e me obriguei a sair do quarto. A casa estava com aquele silencio pacífico. A geladeira gemia. A lava-louças sussurrava baixinho. O cheiro de café forte vinha da cozinha.

Segui o aroma e enfiei a cabeça pela porta da cozinha. A Carrie e o Joe estavam sentados no balcão, bebendo em canecas.

- Não estou brincando. Eu vou ligar todos os dias.

O Joe me deu um sorriso sincero.

- Nós nunca esperaríamos menos do que isso.

- Christoffer... desculpa, Chris. - A Carrie desceu do banco. - Eu tenho uma coisa pra você, mas não queria te dar na frente dos seus amigos.

Ela me deu um envelope de papel pardo.

- Abre depois, tá? Prometo que você vai adorar.

- Tudo bem.

O Joe estendeu a mão.

- Faça uma boa viagem e não compre nada grande demais para os meninos.

Eu ri.

Como se eu pudesse comprar alguma coisa maior do que aqueles que estavam no porão deles, que mais parecia uma loja de brinquedos.

- Pode deixar. Obrigado mais uma vez.

No instante em que eu saí pela porta da frente, abri o envelope.
Tinha vários desenhos do Jacob e do Tyler, uma foto minha com meus irmãos e uma cópia da foto dos meus pais. Eu me lembrava dessa foto. Eu tinha tirado depois que meus pais deram a chave para o primeiro Morador das casas do Habitat para a Humanidade. A lembrança me fez sorrir. A Carrie e o Joe não eram más pessoas. Eram pessoas que amavam meus irmãos e tinham o coração grande o suficiente para talvez me amar também.

Peguei o celular e enviei uma mensagem de texto para a Carrie:
obrigado.

Segundos depois, ela respondeu: de nada, se cuida.

Do outro lado da rua, a Eva estava sentada no capo do Honda Civic cinza dela. Os cabelos vermelhos brilhavam sob a luz da lua, e a blusa de alcinhas era decotada o suficiente para minha mente já pensar em como eu conseguiria fazer- la se desviar do plano de dirigir pelo menos seis horas hoje à noite antes de parar e montar a barraca.

O sorriso de sereia iluminou o meu mundo.

- Chris.

- Eva. Você está... - Deixei meus olhos subirem e descerem enquanto me aproximava do carro. - Apetitosa.

A risada dela fez cócegas na minha alma.

- Acho que já tivemos essa conversa antes.

Eu me encaixei entre as pernas dela e envolvi seu rosto com as mãos.

- E acho que no fim daquela noite alguma coisa assim também aconteceu.

Os lábios dela roçaram os meus e ela deu um risinho.

- Está pronto para uma nova normalidade? - sussurrou.

Beijei seus lábios mais uma vez e peguei as chaves da mão dela.

- Estou, e vou dirigir.

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora