Capítulo 50: Eva Mohn

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Os nervos assumiram o controle do meu corpo, e eu me concentrei em não fazer xixi nas calças. Minha bexiga ficou doze vezes menor que o normal, e o suor encharcava minha blusa de algodão de manga curta. Eu tinha certeza de que estava linda.

Uma jiboia fria e gosmenta se enroscava no meu coração e apertava - as cicatrizes. Eu usava mangas curtas a maior parte do tempo agora que estava melhorando em não ficar obcecada com os meus braços... e de alguém encarar. Claro, ela sabia das cicatrizes, mas ver ao vivo podia ser mais difícil. Suspirei pesado enquanto estacionava debaixo dos grandes carvalhos. Tarde demais para ir para casa e trocar de roupa.

Ela estava de pé ao lado do túmulo do Aires. Mantive os olhos no chão e contei cada passo a partir do carro. Em algum ponto a adrenalina começou a fazer efeito na minha corrente sanguínea, fazendo com que eu me sentisse um balão flutuando para longe. O sábado de abril estava quente, mas minha pele estava fria e úmida.

Eu tinha pedido para vê-la, provando que eu havia oficialmente enlouquecido. Ajeitando o cabelo atrás da orelha, eu parei. O tumulo do Aires estava entre nós. Minha mãe de um lado e eu do outro.

- Eva - sussurrou ela. As lágrimas cintilavam nos olhos verdes, ela deu um passo na minha direção.

Meu coração golpeava as costelas, e eu dei um passo para trás imediatamente. Por um segundo, pensei em correr, mas me esforcei muito para ficar onde estava.
Minha mãe recuou e levantou as mãos num gesto de paz.

- Eu só quero te abraçar.

Pensei no pedido dela por um breve instante. Abraçar minha mãe deveria ser natural, uma reação automática.

Engoli em seco, enfiando as mãos nos bolsos traseiros.

- Desculpa. Eu não consigo.

Ela acenou levemente com a cabeça e deu uma olhada para o túmulo do Aires.

- Sinto saudade dele.

- Eu também.

Nenhuma das lembranças que eu tinha da minha mãe se encaixava na mulher a minha frente. Eu me lembrava dela com uma beleza jovial, agora ela competia com meu pai. Pés de galinha se espalhavam ao redor dos olhos e rugas emolduravam as laterais da boca. Em vez do cabelo vermelho naturalmente selvagem e cacheado, ela estava com o cabelo alisado.

Em seus períodos de alta, minha mãe parecia flutuar. Nos períodos de baixa, ela se agarrava ao solo. De pé na minha frente, ela não estava nem na alta nem na baixa. Ela apenas era.
Ela parecia quase normal. Como qualquer outra mulher envelhecida sofrendo no cemitério. Nesse momento, minha mãe não era uma supermulher fora de controle nem uma inimiga perigosa. Era apenas uma mulher, humana, com quem quase dava para se relacionar.
Relacionável ou não, todos os instintos dentro de mim gritavam para que eu corresse. Minha garganta se fechou e eu lutei contra a vontade de vomitar. Minhas opções eram desmaiar ou sentar.

- Você se importa de sentar? Porque eu preciso.

Ela me deu um breve sorriso e acenou com a cabeça enquanto se sentava.

- Lembra quando eu ensinei você e o Aires a fazerem pulseiras e colares de trevos?- Ela pegou algumas das flores brancas pequenas e as amarrou com um nó. - Você adorava usar como tiara.

- É. - foi minha única resposta. Minha mãe gostava da sensação da grama no pé descalço, por isso nunca obrigou o Aires e eu a usarmos sapatos. Nós três adorávamos ficar ao ar livre. Ela continuou a unir os trevos em um único fio enquanto a estranheza entre nós aumentava.

- Obrigada por me responder. Qual carta você recebeu?- Eu tinha visitado as galerias de arte nas quais minha mãe havia vendido quadros deixando uma carta para ela em cada uma.

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora