Capítulo 23: Christoffer Schistad

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- Não esquece de falar de mim. Quero que seus irmãos saibam quem eu sou quando vierem morar com você. - A Sana ficou perdida em uma nuvem quando o vapor assobiou e escapou do ferro de passar. Ela deslizava metodicamente o ferro sobre as mangas da minha camisa social branca.

- Pode deixar. - Continuei a polir o par de botas pretas que encontrei na Legião da Boa Vontade. Elas cabiam em mim, mas estavam muito arranhadas.

O Yousef voou escada abaixo até o porão, pegou uma das botas e um pano e se juntou a mim no sofá.

- Pra que isso, cara? São seus irmãos. Não dão a mínima se você aparecer usando calças rasgadas e uma camiseta velha.

- Não é pra eles. É pra assistente social e aquele casal arrogante. Tudo que faço e digo é julgado. Preciso que me vejam como um cidadão honesto. - Para confiarem que posso tomar conta das duas pessoas mais importantes da minha vida.

- Então... - O Yousef trocou um olhar com a Sana. - O que esta acontecendo entre você e a Eva?

O ferro borbulhou quando a Sana o colocou sobre a tábua de passar.
Ela inspecionou a camisa para ver se tinha mais algum amassado antes de me dar.

- O que aconteceu com "apenas negócios"? Você sabe, mãos e emoções longe da Eva.

Coloquei a camisa. O calor do ferro aliviou um pouco a tensão na minha nuca.

- Esse ainda é o plano.

A Sana se jogou no sofá ao lado do Yousef, pousando a cabeça nele.

- Então, o que foi aquilo ontem?

Era difícil aceitar um sermão do rei e da rainha da negação. O Yousef e a Sana viviam num mundo estranho, onde as emoções não eram reveladas, mas os dois gravitavam juntos como um casal. Minha intuição dizia que um dia desses eu ia encontrá-los nus na cama.

- A Eva deu uma espiada no meu arquivo e descobriu o sobrenome dos pais adotivos dos meus irmãos. Posso não ser capaz de dar um relacionamento a ela, mas não posso rejeitar a amizade. Só uma amiga de verdade faria isso.

- Ou uma garota que está a fim de você - resmungou a Sana.

Enfiei as botas nos pés e as amarrei. Será que eu tinha mais do que uma chance? Meu passado me dizia que não, mas milagres estavam acontecendo desde que a Eva entrara na minha vida.

- O que vocês fariam se eu me ligasse na Eva?

A Sana rosnou de repulsa.

- Compraria cola pra quando ela te destruísse. Olha tudo que você fez pela garota, e onde ela vai estar hoje à noite? No baile com o rei Luke, não com você.

A imagem daquele babaca com o braço pendurado no ombro dela fez meu sangue jorrar lava. Engoli a emoção. Minha única preocupação agora eram meus irmãos e, se eu não mexesse minha bunda, ia me atrasar.

- Vejo vocês à noite.

A Sana gritou:
- Diz que a tia Sana ama os dois.

Passei pelo Dale e pela Shirley, que estavam almoçando, sem nenhum dos dois perceber minha existência. Quando o Tyler e o Jacob fossem morar comigo, a vida nunca seria assim. A gente ia conversar o tempo todo. Eu ia saber de tudo que acontecesse na vida deles. Do lado de fora, o ar de fevereiro espetou o rosto que eu tinha acabado de barbear.

- Ei - gritou o Yousef da casa, vindo atrás de mim. Ele mexeu no brinco antes de falar. - Olha, cara, eu entendo. A gente não gosta de relacionamentos. A gente depende de alguma coisa ou de alguém, aí vem o sistema e arranca isso da gente. Mas a Eva não é o sistema, cara. Ela é uma garota que estava arrasada ontem e te perseguiu pela escola quando a gente decidiu que você devia ser um escroto, em vez de ser amigo dela.
Passei a mão pelo cabelo e depois sacudi a cabeça.

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora