Capítulo 02: Christoffer Schistad

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O cheiro de tinta fresca e de gesso me fez pensar no meu pai, e não
na escola. Ainda assim, esse cheiro me atingiu em cheio quando entrei no
escritório totalmente reformado. Com livros nas mãos, andei devagar até o
balcão.

- E aí, Sra.Marcos?

- Christoffer, porque se atrasou de novo, muchacho? - perguntou ela
enquanto reunia uns papéis.
O relógio na parede marcou nove da manhã.

- Droga, é cedo.
A Sra.Marcos desviou de sua nova mesa de cerejeira para me
encontrar no balcão. Ela acabava comigo quando eu chegava atrasado,
mas ainda assim eu gostava dela. Com longos cabelos castanhos, ela
parecia uma versão hispânica da minha mãe.

- Você perdeu a consulta com a Sra.Collins esta manhã. Não é uma
boa forma de começar o segundo período - sussurrou ela enquanto
registrava meu atraso. Ela inclinou a cabeça na direção dos três adultos
reunidos no canto distante da sala.

Presumi que a loira de meia- idade
sussurrando para o casal rico era a nova orientadora.
Dei de ombros e deixei o canto direito da minha boca se retorcer
para cima.

- Ops!

A Sra.Marcos me estendeu o registro de atraso e me lançou o olhar
carrancudo de sempre. Ela era a única pessoa nesta escola que não
acreditava que meu futuro e eu estávamos completamente fodidos.

A loira de meia- idade falou alto:

- Sr.Schistad estou feliz que tenha se lembrado da nossa consulta,
mesmo estando atrasado. Tenho certeza que não se importa de águardar um pouco enquanto termino algumas coisas. - Ela sorriu para mim como se fossemos velhos amigos e falou com tanta suavidade que, por um instante, quase sorri de volta.

Em vez disso, fiz sinal com a cabeça e me sentei na fileira de cadeiras encostadas na parede do escritório. A Sra.Marcos riu.

- O que foi?
- Ela não vai aturar a sua postura. Talvez ela te convença a levar a
escola a sério.

Recostei a cabeça na parede de concreto pintado e fechei os olhos,
precisando de mais umas horas de sono. Faltando uma pessoa para fechar, o restaurante só me liberou depois da meia- noite, e depois Sana e Yousef me mantiveram acordado.

- Sra.Marcos? - perguntou uma voz angelical.- Pode me dizer
quais são as próximas datas para o exame nacional, por favor?
O telefone tocou.

- Espere um segundo - disse a Sra.Marcos. E o telefone silênciou.
Uma cadeira na mesma fileira da minha se mexeu, e minha boca se
encheu de água com o aroma de pão de canela. Dei uma espiada e notei um cabelo ruivo, macio e ondulado. Eu a conhecia. Eva Mohn. Não havia pão de canela a vista, mas ela certamente cheirava a um.

Fizemos várias aulas juntos. Eu não sabia muito a seu respeito, além
de que era discreta, inteligente, ruiva e tinha peitos grandes. Ela usava
camisetas largas de manga comprida que caiam nos ombros e tops por
baixo que revelavam apenas o suficiente para atiçar as fantasias.
Como sempre, ela olhava diretamente para frente, como se eu não
existisse. Droga, provavelmente eu não existia na cabeça dela. Pessoas
como Eva Mohn me irritavam demais.
- Você tem um nome esquisito - murmurei. Eu não sabia por que
queria provocá- la, mas tive vontade.

- Você não devia estar se drogando no banheiro? Então ela me conhecia.

- Eles instalaram câmeras de segurança. Agora a gente faz isso no
estacionamento.

- Foi mal.- O pé dela se balançava freneticamente para frente e
para trás.

Ótimo, eu tinha conseguido penetrar naquela fachada perfeita.

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora