Capítulo 53: Christoffer Schistad

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Os braços da Carrie estrangulavam meu pescoço e, por um instante, desejei que ela me matasse. A morte tinha que ser melhor do que isso.
Engoli em seco, mas a massa pesada na minha garganta continuava. Todos os músculos do meu rosto caíram, e eu inspirei para tentar afastar o desespero.

- Quero falar com a sra. Collins antes - soltei. - Eu ainda não decidi totalmente. - Que inferno. Por que tudo tinha que doer tanto? Todas as partes do meu corpo latejavam de dor, a ponto de eu desejar morrer ou explodir.

- Deus te abençoe, Christoffer- sussurrou a Carrie no meu ouvido.
Eu queria uma família. Eu queria uma merda de família, e o Jacob e o Tyler já tinham uma.

Ela fungou ao me soltar, mas seu sorriso iluminou o ambiente, como se mil estrelas estivessem reunidas.

- Eu sei que você vai fazer a coisa certa para os meninos. Eu sei.
Eles tinham o normal.

E não era eu.

A Carrie esperou que eu respondesse, mas eu não conseguiria formular uma resposta naquele momento nem se fosse para salvar a minha vida. O Joe colocou a mão no meu ombro, me salvando deter que falar.

- A sra. Collins logo vai estar aqui.
Como se estivéssemos em uma série de TV ruim, a campainha tocou logo depois da deixa e a Carrie acompanhou a sra. Collins até a cozinha.

Ela usava uma calça de moletom coberta de tinta e uma camiseta do?????.

O Joe murmurou alguma coisa sabre dar alguns minutes para eles.
A lava-louça ao meu lado entrou no ciclo de enxágue. A batida da água nos pratos preencheu o ambiente. A sra. Collins batucou com um dedo no balcão de granite preto. Meu olhar foi até o rosto dela, esperando ver agitação por tê-la arrastado para essa bagunça. Em vez disso a dor que enxerguei ali abriu a barreira das emoções que eu lutava por controlar.

Meus olhos ficaram molhados e eu os fechei, sacudindo a cabeça várias vezes para impedir que as lágrimas caíssem. Eu não queria sofrer eu não queria me importar, mas, que droga, isso estava me matando.

- Fale comigo, Christoffer - disse ela, no tom mais sério que eu já ouvido da sra. Collins.

Olhei ao redor na cozinha e voltei os olhos para ela.

- Eu não posso dar isso aqui a eles.

- Não. - ela respondeu com calma. - Não pode.

- E não posso pagar quadras de basquete e a escola particular que eles amam tanto e os presentes para todas as festas de aniversário que eles forem convidados. - Minha garganta se fechou.

- Não. - ela repetiu.

- E eles têm avós. - Eu não reconhecia o som rouco da minha voz. O Jacob não para de falar dos pais do Joe, e o Tyler vai pescar com o pai da Carrie toda quarta-feira, desde que não esteja muito frio. Não posso oferecer isso a eles.

- Você está certo.

- Eu amo os meus irmãos - eu disse com determinação.

- Eu sei - a voz dela estremeceu. - Eu nunca duvidei disso.

- E também amo a Eva. - Encarei a sra. Collins no fundo dos olhos. - Sinto falta dela.

Ela deu de ombros e abriu um sorriso triste.

- Não tem problema amar alguém além dos seus irmãos, Christoffer. Você não vai trair os dois nem os seus pais por estar vivendo sua vida.

E aconteceu. Depois de anos segurando, a tristeza dentro de mim se rompeu. Toda a raiva e a dor que eu tinha guardado na esperança de nunca sentir essas emoções vieram à tona.

- Eu quero a minha mãe e o meu pai. - Eu não conseguia respirar. - Eu só quero a minha família de volta.
A sra. Collins secou os olhos e atravessou a cozinha na minha direção.

- Eu sei - disse ela de novo e me puxou para um abraço.

...

- Obrigado mais uma vez, Christoffer. - O Joe apertou minha mão possivelmente pela quinquagésima vez desde que eu dissera a ele e à Carrie que não ia mais pedir a custódia depois da formatura. - Prometo que você vai poder ver os dois sempre que quiser.

Acenei com a cabeça e olhei sobre o ombro. A sra. Collins e a Carrie estavam paradas perto da escadaria no fim do corredor do segundo andar.
A sra. Collins me deu um sorriso encorajador e eu respirei fundo.

O Joe abriu a porta do quarto do Jacob e nós dois entramos.

- Meninos, o Christoffer quer falar com vocês.

- Chris! - Usando um pijama do Batman, o Jacob atravessou o quarto correndo e se jogou em mim.- Você ainda esta aqui!

- É- disse o Joe.- E ele vai aparecer por aqui com muito mais frequência.
Com olhos ansiosos, o Jacob o encarou maravilhado.

- É sério?

- Eu juro. - O Joe deu um tapinha no meu ombro. - Vou dar um tempo pra vocês conversarem.

E saiu de repente, fechando a porta. Eu não ficava sozinho com os meus irmãos havia mais de dois anos. Com a mão no Jacob, encarei a foto dos meus pais. Eles não iam voltar, e eu nunca ia conseguir recriar o que nós tínhamos, mas eu podia seguir em frente.

Eu me sentei no chão e meu coração flutuou quando o Tyler, usando pijamas de pezinhos, se aproximou de mim e colocou a mãozinha sobre a minha. O dedo na boca. Um cobertor na mão.

O Jacob grudou do meu lado.

- O papai nunca jura se não for verdade, Chris. Ele diz que é pecado mentir.

Acenei com a cabeça.

- E é mesmo. A nossa mãe também dizia isso. - Limpei a garganta e comecei a conversa mais difícil da minha vida. - Uns dois anos atrás, eu te fiz uma promessa. Naquela época, eu estava falando sério, mas agora eu acho que não é a melhor coisa para nenhum de nós.

Olhei para o Tyler. Ele era novo demais para se lembrar do jeito que a nossa mãe ria quando o nosso pai tentava dançar com ela enquanto, ela lavava a louça do jantar. Novo demais para se lembrar dele mostrando fotos de prédios e dizendo que os filhos iam saber martelar um prego corretamente antes de completarem dez anos.

E o Jacob. Ele tinha idade suficiente para lembrar, mas era novo demais para entender direito tudo que tinha perdido. Ele nunca conheceria o orgulho de entrar na escola com a nossa mãe na noite de agradecimentos aos pais. Nunca conheceria a explosão de alegria quando o nosso pai fizesse um elogio ao vê-lo usar uma furadeira pela primeira vez.

Eles nunca saberiam que tinham perdido as duas pessoas mais fantásticas do mundo. Nunca saberiam como essa perda me destruía a cada dia da minha vida.

Respirei fundo e tentei de novo.

- O que vocês achariam de continuar morando aqui para sempre e eu venho visitar?

...

A sra. Collins furou o cruzamento no fim da rua do Tyler e do Jacob.
Fiquei sentado no meu carro, sozinho.

Eva.

Eu tinha deixado que ela se afastasse, e não foi por causa da custódia dos meus irmãos. A sra. Collins estava certa. No fundo, eu achava que amar a Eva era trair os meus pais e os meus irmãos.

Mas eu amava a Eva. Eu precisava dela. E ia conquistá-la de volta.
Liguei o carro e o motor rugiu. Lares adotivos eram educativos - de um jeito meio "de cinco a sete anos, com possibilidade de condicional". A questão era o que fazer com todas as informações que eu tinha reunido.

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora