Capítulo 48: Eva Mohn

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O cheiro de tinta acrílica fez meu nariz coçar no instante em que entrei na galeria. Paisagens ocupavam as telas na parede. Uma pintura de um gramado com folhas se dobrando ao vento chamou minha atenção.
Hoje cedo, eu tinha exibido meus braços. Hoje à tarde, eu ia encontrar respostas.

Os nervos faziam o sangue pular nas minhas veias. Na última vez que visitei este lugar, o Aires ainda estava vivo e minha mãe estava tomando os remédios. Ela riu quando o Aires disse que não tinha entendido umas das pinturas dela, e ele puxou meu cabelo quando eu o chamei de idiota. Ele riu quando bati nele de volta. Um peso pressionava meus pulmões. O Aires riu. Eu devia ter abraçado meu irmão naquela hora. Devia ter abraçado e nunca mais soltado.

- Posso ajudar?- perguntou uma voz feminina.

Engessei um sorriso no rosto e me virei.

- Oi, Bridget.

Os olhos azuis da Bridget se arregalaram. O cabelo macio e preto como a noite chegava até os ombros e emoldurava seu rosto. Com um metro e oitenta e três, ela se erguia sobre mim, vestindo um terninho preto chique, do jeito que eu me lembrava dela.

- Eva. Meu Deus, como você cresceu!

- Acontece. - Mudei o peso de um pé para o outro. -Você tem alguns minutos?

- Pra você, sempre. Quer um pouco de água?

- Claro.

Ela foi na frente até seu escritório.

- O que posso fazer por você?
É agora ou nunca.

- Espero que você possa me ajudar com duas coisas.

Ela me deu uma garrafa de água e abriu a dela.

- Me fala a primeira.

- Uma vez você me disse que, se um dia eu me interessasse em vender meus quadros, queria que eu te procurasse antes de qualquer pessoa. Essa oferta ainda esta de pé?

A Bridget lambeu os lábios e se sentou.

- Sua mãe me mostrou seus desenhos durante anos. Eu estava ansiosa por este dia. Você trouxe alguma coisa para eu ver?

Balancei a cabeça.

- Escolha as suas cinco pinturas favoritas e traga um caderno de desenho completo para eu examinar amanhã. - Ela estreitou os olhos. - Você ainda esta na escola, certo?

- Eu me formo no mês que vem.

- Maravilha. - Os olhos dela brilharam como se a mente tivesse fugido para um lugar distante. Ela piscou e voltou à vida.- E a segunda?

- Quero encontrar a minha mãe.
Ela perdeu o brilho, e o sorriso sumiu.
- A Cassie não trabalha mais aqui. Você sabe disso.

- Sei, mas você era a melhor amiga dela. Espero que você pelo me nos possa me dizer onde ela foi parar. Tipo, se ela encontrou outro emprego e onde, ou pelo menos se alguém ligou para pedir referências.

A Bridget deu um gole longo na água.

- A sua mãe ficou muito mal por muito tempo, Eva. O que aconteceu com você foi uma tragédia, e ela só sente remorso. Meu coração se acelerou.

- Você sabe o que aconteceu comigo?

- Sei. - As longas unhas rasgaram o rótulo da garrafa. - E disseram que você não sabe.

A adrenalina corria pelo meu corpo. Meu pé batucava no chão.

- Você ainda fala com ela?

- Falo. - O som do rótulo sendo rasgado preenchia o silêncio.
Estiquei a mão para trás e peguei um envelope no meu bolso traseiro.

- Por favor, entregue isso pra ela. Aí ela pode decidir o que fazer.
Tudo bem?

Ela encarou minha mão estendida.

- Eu sei que seu pai gosta de te manter numa bolha de vidro, ou talvez você não saiba do mandado de restrição.

- Não estou interessada em mandar minha mãe para a prisão quero vê-la. - Sacudi a carta na minha mão e tentei fazer olhos de cachorrinho da sra. Collins. - Por favor, Bridget.

Ela pegou o envelope.

- Não estou prometendo nada. Entendeu?

Fiz que sim com a cabeça, emocionada demais para falar. Ou resolver todos os meus problemas ou ia criar outros. Não me importava.
Eu estava cansada de viver na covardia. Era hora de ser forte.

No limite da atração || Eva&Chris (Skam)Onde histórias criam vida. Descubra agora