Capítulo 4 - Ranço

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         Um pouco mais de duas semanas havia se passado e ela ainda não tinha recebido nenhum contato da produtora e aquilo estava lhe deixando extremamente estressada e tensa. Temia que sua obra fosse roubada ou qualquer coisa assim. Os dias em sua casa pareciam longos e intermináveis e dessa vez nem poderia contar com a companhia de Cadu que estava em Parati com Tiago comemorando o novo romance.

Estava à beira de um ataque de neurastenia quando resolveu sair para correr. Era o melhor que fazia para acalmar aquele estresse todo só que não teve tempo de chegar à esquina quando seu celular tocou.

Finalmente era Wagner solicitando sua presença naquela tarde de sábado para fazerem uma leitura do texto e reunião com alguns atores do elenco.

Ela pulava no meio da rua sem se importar com os olhares de desaprovação dos transeuntes. Não desistiu da ideia de caminhar mas dessa vez era porque estava agitada demais e em qualquer ocasião caminhar sempre lhe fazia muitíssimo bem.

Pós caminhada, antes de subir em seu apartamento parou em uma sorveteria próxima de sua casa e tomou uma tigela imensa de açaí. Era a única coisa que conseguia engolir e era o que lhe daria energia necessária para o seu tão sonhado grande dia.

Em seu ap escolheu uma roupa bem alegre e confortável, uma regata branca e sua calça thay  em vários tons de azul, presente de uma amiga que fora passar uns dias na Índia. Passou um perfume suave e amadeirado, fez uma maquiagem básica apenas um batom vermelho e bastante rímel, pois amava cílios volumosos. Calçou sua sapatilha, olhou-se mais uma vez no espelho, cheirou-se para ter certeza de que estava cheirosa o suficiente e partiu com o coração sobressaltado e sorrindo à toa.

Quando chegou dessa vez fora recebida por Amanda e precisou fazer um esforço sobre-humano para não dar um vexame e desmaiar, pois diante dela estava sua maior ídolo, Christina Tolini.

Apesar das mãos frias e sentir o sangue correr quente em suas veias, cumprimentou a todos com muita cordialidade e simpatia e teve um segundo impacto quando a recepção de Christina não foi tão calorosa quanto a dela.

A mulher apenas lhe estendeu as mãos, olhou em seus olhos arqueando a sobrancelha esquerda com um ar de desdém e disse com sua voz grave e aveludada:

-Boa tarde! Tudo bem?

Tentando disfarçar seu constrangimento respondeu à mesma altura:

-Estou muito bem obrigada e muito surpresa e claro, muito feliz!

Após os devidos cumprimentos, Katarina apresentou seu roteiro para os demais atores, falou sobre a inspiração de seu projeto e que este não era um trabalho apenas de entretenimento, mas também queria trazer à tona um despertar de consciência ecológica e que juntos desenvolveriam um papel social através da arte.

Ela tinha tanta paixão nos olhos, tanta determinação e propriedade no que dizia que não foi difícil encantar a todos que estavam naquela sala.

Apenas Christina olhava para ela de uma forma enigmática. Parecia ter um quê de desprezo e isso incomodava Katarina, que com toda elegância e jogo de cintura contornava aquela situação, fazendo que o comportamento da outra não abalasse o seu momento.

-Meus parabéns criança. Você demonstrou ser uma garota muito inteligente e o seu roteiro é bastante envolvente. Agradeço por ter sido convidada para interpretar a Antônia. – falou com sua voz encorpada, uma das sobrancelhas levantadas e um sorrisinho de canto de lábio.

-Chris minha querida, enquanto lia visualizava você. Tenho certeza que a sua interpretação de Antônia será um grande sucesso! – elogiou Wagner

Katarina a fuzilava com os olhos. Odiou a ideia de ter sido chamada de criança. Não era o fato de ser vinte anos mais nova que deixava de ser uma mulher adulta e madura, enquanto observava todos bajulando a grande estrela da série. Como fã sabia o quanto Christina não suportava bajuladores, mas naquele momento ela agia como se adorasse tudo aquilo. Havia outros atores também tão incríveis quanto ela e merecia elogios. Mesmo assim respirou fundo, afinal não deveria se deixar levar pela primeira impressão sem contar que precisava ter muito jogo de cintura já quer trabalhariam por um tempo juntas.

Reuniram-se todos na sala de ensaios para que pudessem fazer juntos, uma leitura de texto depois que cada ator recebeu o seu papel e lá permaneceram até tarde da noite. Ao fim, estavam todos exausto, porém muito satisfeitos.

Ao final da reunião Wagner chamou Katarina pra uma conversa em particular.

-Katarina eu andei pesquisando sobre sua vida profissional e vi que dirigiu trabalhos interessantes, poucos é claro, mas que me chamaram muito a atenção, inclusive conversei com alguns colegas que lhes conheceram e só teceram elogios e por isso gostaria de tê-la como diretora de "Antonia".

-Nossa, me sinto muito honrada de verdade. Isso é mais do que poderia sonhar. Gratidão de todo meu coração! – dizia ela emocionada

-Me agradeça trabalhando, se esforçando e mostrando todo esse talento. Ah, tem outra coisa; você precisará morar no Rio por alguns meses, afinal nosso principal estúdio está lá. Aqui em São Paulo gravamos trabalhos menores. Há várias cenas na praia então o Rio é a melhor opção.

-Sem o menor problema e prevendo essa situação eu já arranjei lugar para ficar.

-Que ótimo minha cara então nos vemos daqui duas semanas no Rio de Janeiro – disse lhe dando um caloroso abraço em despedida

Num determinado momento Katarina viu Christina sozinha no estacionamento encostada em seu carro com o olhar perdido. Mesmo chateada não deixou de perceber o quanto ela estava linda, trajando uma camisa preta com alguns botões abertos evidenciando o contorno dos seios fartos, os cabelos presos em um coque com algumas mechas soltas na nuca, o batom vermelho, os óculos de grau com armação em madeira e claro, um lenço de seda no pescoço. Timidamente aproximou-se dela e puxou assunto:

-Será que está tão ansiosa como eu para colocarmos as mãos na massa? – disse com brilho nos olhos, estralando os dedos de ansiedade

-Já passei da fase sentir ansiedade criança. As experiências e a maturidade, nos trás serenidade. Simplesmente sinto o momento. Boa noite meu bem! – e partiu sem dar a chance da garota dizer qualquer coisa.

Ela ficou tão magoada que não queria nem voltar para casa. Precisava digerir aquelas palavras tão duras de alguma forma e naquele momento e naquelas circunstâncias, a única coisa que lhe faria bem era beber e dançar.

Paixão nos BastidoresOnde histórias criam vida. Descubra agora