The Way You Love Me | L. S.

PRÓLOGO

      Há uma linha tênue entre o amor e a guerra. Um casal ter brigas é um casal que tem conflitos, e tudo bem. Faz parte de qualquer relacionamento, na verdade, amoroso ou não. Mas, se as brigas são constantes e acabam por gerar o sentimento de raiva, o amor pode dar lugar a uma guerra matrimonial.

      No âmbito político, essa linha é praticamente inexistente. Um governo pode amar tanto ao seu povo — ou a si mesmo — que, a qualquer indício de conflito, é capaz de declarar guerra em menos de cinco minutos. Foi exatamente isso que acontecera no ano de 1988, quando Mikhail Gorbatchov dissera publicamente achar inaceitável que grandes empresas alemãs do lado oriental vendessem e comprassem serviços do lado ocidental. Eu ainda não era nascido, mas minha mãe, Johannah, me contava sobre como as nações ficaram tensas na época, sobretudo quando o primeiro ministro alemão, Helmut Kohl, não fora ao palanque se pronunciar propriamente. No entanto, isso apenas até o dia nove de novembro de 1989, exatamente um ano após a coletiva de Gorbatchov.

      Foi quando o muro que dividia a Alemanha caiu, tornando possível que familiares, amigos e amantes que não se encontravam havia anos pudessem finalmente ficar juntos de novo. Claro que as coisas não foram tão boas assim, porque Gorbatchov considerou a ação como uma afronta e, quando todos pensaram que seria possível viver em paz novamente, a URSS anunciou abertamente guerra à Alemanha. Desta forma, os países que tinham interesses políticos se uniram ao governo alemão e uma nova Guerra Mundial teve início.

      Antes disso, porém, os experimentos genéticos alemães que foram realizados durante a Segunda Guerra espalharam-se pelo mundo todo e, como consequência, mais de 80% da população tivera seus genes combinados com os de lobos. A explicação para essa atitude fora fortemente questionada pelos demais governos mas, logo, os efeitos foram visíveis: a resistência a doenças de toda e qualquer natureza fora quadruplicada, a força física aprimorada, os sentidos sensibilizados… Tudo no corpo humano sofrera mutação — as pessoas eram, agora, máquinas perfeitas para sobreviver durante guerras e para garantir o controle populacional. Depois de dois anos, 100% da massa mundial tinha sido transformada.

      Contudo, algo dera errado: uma parcela dos cidadãos recebeu uma dose mais primitiva, por assim dizer. Genes lupinos não tão processados e, entre essas pessoas, somente algumas sobreviveram e se adaptaram. O feito foi a eclosão dos Impuros. Não era possível classificá-los como simples lobisomens uma vez que eram mais próximos de suas raízes selvagens e, também, por possuírem a habilidade da transmutação parcial ou completa. Assim, eles foram postos como lobos.

      Em primeira instância, os Impuros não souberam controlar muito bem seus instintos animalescos e vários ataques a lobisomens tiveram início. Geralmente, os motivos iam de brigas pequenas em que Impuros perdiam a calma até questões mais sérias. A Coroa Britânica criou, pois, uma nova divisão do Exército chamada Contenção. Somente lobisomens podiam se alistar para as forças armadas no geral, mas existia um treinamento específico e extremamente secreto para que soldados fossem admitidos à Contenção.

      Conforme os Impuros foram lidando melhor com sua própria natureza, os Contentores assumiram a função de mediar o bem-estar da sociedade em toda e qualquer situação, como policiais civis, ainda com o enfoque nos lobos. Seria burrice ter qualquer esperança de que alguém capturado pela Contenção voltaria a ser visto. Era preciso tomar muito cuidado a cada passo e palavra caso você não quisesse simplesmente desaparecer.

      Outra medida tomada foi a marcação. Quando um bebê Impuro nascia, era esperado até seu um ano de idade completo para que ele tivesse alguma parte de seu corpo marcada com a letra “I” a ferro quente, como era feito com o gado. Assim, não era possível reconhecer um lobo apenas por testes de DNA, mas, também, por um traço físico inato e permanente.