DÉCIMO SEXTO CAPÍTULO

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      Quem sabe, eu pudesse definir o fato de Harry estar mais próximo a mim como sendo algo divertido, no mínimo. Ainda havia dias ruins, onde o alfa não era tão comunicativo, mas desde o princípio ele fez questão de avisar que, quando fosse assim, ele tentaria ficar longe de mim para não me chatear. Ordinariamente, esses dias vinham depois de uma noite turbulenta e, apesar de não termos mais precisado ir para o hospital, foram várias as vezes em que eu dormi na poltrona ao lado da cama de Harry para que ele pudesse ficar calmo e voltar a pegar no sono. Os pesadelos não eram raros, além de tudo.

      Era inequívoco que alguns deslizes surgissem e tivéssemos algumas discussões, porém, toda vez que isso acontecia, Harry buscava redimir-se de alguma forma. Na maioria das vezes, ele puxava-me até a cozinha para que cozinhasse algo, e para mim era mais do que o suficiente. Era o jeito dele demonstrar arrependimento e pedir desculpas, e eu não podia reclamar de receber mimos doces e deliciosos.

    Houvera um dia, porém, em que Zayn me vira chorar por causa de uma altercação idiota, e eu acabara contando sobre o que tinha acontecido na noite da festa que o alfa de olhos verdes dera, quando nós quase transamos. Malik ficara possesso e fora atrás de Harry, o xingando aos berros, e eu imaginara que era ótimo não termos vizinhos naquele momento.

      Harry estava numa reunião, mas saíra dela apenas para ver o que estava acontecendo. Os dois alfas acabaram brigando — socos, porradaria, coisa e tal. Virilidade pura de um subgênero tão dominador. Não tinha mais ninguém na mansão além de mim, então o resultado de eu ter apartado aquela confusão fora um soco muito bem recebido de Harry, no maxilar, que teria acertado em Zayn.

      O resto daquele dia resumira-se em inúmeros pedidos de perdão vindos do lobisomem cacheado, e eu segurando um saco de ervilhas congeladas no rosto, para desinchar o hematoma, enquanto dava um sermão nos alfas que não ousaram nem levantar a cabeça. Pareciam cãezinhos arrependidos.

      Em compensação, os dias bons eram realmente bons. Nós passeávamos pelo terreno da campina e conversávamos bastante, a cada dia eu podia aprender um pouco mais sobre como lidar com Harry. Ele era bastante reservado quanto ao seu passado, porém mostrou-se receptivo quando o assunto era sua mãe e sua irmã, sempre com sorrisos lindos ao contar sobre as coisas que faziam quando eram mais novos. Uma vez, enquanto estávamos subindo uma colina pequena da campina, Harry ficara sem ar na metade do caminho, e decidimos parar ali mesmo. Eu me sentara na terra áspera sem ligar realmente para as minhas roupas de academia e a cara que o alfa fizera ao me olhar daquele jeito fora impagável.

      — Não seja tímido, Harry, não tem ninguém além de mim para vê-lo sujar sua calça.

      Dizer aquilo funcionara, porque o mais novo apenas aconchegara-se ao meu lado e passara seus braços ao redor do meu corpo para proteger-me do vento frio que balançava as gramíneas ali em cima. Era uma vista linda, boa parte da campina era abrangida dali e nós estávamos bastante confortáveis. Apesar de eu falar poucas coisas sobre a minha própria família, Harry sempre se demonstrava bastante interessado e respeitava o meu espaço sobre não estender muito aquele assunto.

      Era bom estar perto do alfa naqueles dias.

      Sem embargo, alguma coisa aconteceu em um final de semana em que Harry estava excepcionalmente aborrecido. Despertei-o depois de preparar o café da manhã, comemos juntos e, ao sair do escritório para a sessão de fisioterapia, um vinco tinha se formado entre suas sobrancelhas, e não sumiu até a parte da tarde. Não conversamos, como eu esperava, e mesmo com as respostas curtas e grossas, eu não poderia me importar menos. 

      Eu não tinha muito o que fazer depois de ajudar Harry com as coisas do trabalho, e quando eu estava saindo da biblioteca, fingi não vê-lo entrar no quarto cheio de tralhas do terceiro andar e trancar-se lá por horas a fio. A fim de distrair minha mente, eu li alguns livros curtos durante a manhã e agradeci internamente quando Meryl, Ethan e Sally voltaram dos seus dias de folga. Recebi todos eles muito feliz e fomos até a casa em que ficavam no terreno para que pudéssemos conversar. Meryl fez algum chá e contou sobre como tinha sido bom rever seu filho e seu marido.

The Way You Love Me | L. S.Onde histórias criam vida. Descubra agora