VIGÉSIMO SEGUNDO CAPÍTULO

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AVISO: contém alusões a abuso e assédio sexual e físico. Se você for sensível a esse tipo de coisa, pule de “Antes que eu pudesse falar alguma coisa [...]” até “Levou muito mais tempo do que eu gostaria [...]”

NÃO LEIA ALGO QUE TE FAZ MAL: AS CENAS SENSÍVEIS PODEM SER PULADAS SEM PREJUDICAR O SEU ENTENDIMENTO DA HISTÓRIA.

      Minha cabeça estava doendo como o inferno quando alguns vestígios de consciência retornaram ao meu corpo, e abrir meus olhos foi um trabalho tortuoso. Eu não conseguia nortear meus sentidos, não conseguia respirar muito bem e, acima de tudo, sentia muito frio apesar de meu corpo estar confortavelmente deitado. Aos poucos, minha visão embaçada e pesada se ajeitou, permitindo-me vislumbrar uma parede pintada de vermelho-escuro, uma mesinha branca e, em cima dela, um abajur amarelo, assim como um copo d’água e uma cartela de comprimidos.

       Comprimidos? Mas eu não bebi ontem, então por que Harry trouxe…, num clique, todas as memórias do que tinha acontecido antes tornaram. Sentei-me num movimento rápido demais, o que fez uma pontada forte e agonizante atingir minhas têmporas, e soltei um gemido dolorido; massageei o local para aliviar aquela sensação horrível antes de notar que a superfície sobre a qual eu me encontrava era confortável demais, macia demais. Aos poucos, fui reparando melhor nas coisas à minha volta. Era um quarto grande, com mobílias chiques, mas definitivamente não era a mansão Styles.

      Quiçá eu estivesse sob efeito de algum químico, porque eu sentia meu corpo pesado como uma bigorna, meus atos lentos e uma ânsia de vômito descomunal. Eu conseguiria pôr meu intestino para fora, que ainda pareceria pouco. De toda forma, engoli um bolo de saliva com péssimo gosto e mordi os lábios, indeciso sobre ser ou não uma coisa boa eu estar sozinho ali. Recostei-me na cabeceira almofadada da cama, observando minhas mãos sobre meu colo. Elas estavam machucadas com pequenos hematomas, porém o que mais chamou minha atenção foram as roupas que eu vestia. Pareciam com aquelas comuns de serem vistas em filmes que tratavam sobre os séculos 17 ou 18, folgadas e com tecido branco.

      Abri a camisa para que eu pudesse passar os dedos sobre meu peito, vistoriando e checando se havia quaisquer machucados. Alguns cortes e hematomas piores do que os de minhas mãos, mas não me recordava do que poderia ter acontecido. Eu caí quando me acertaram?, busquei em minha mente as últimas cenas que eu conseguia resgatar, mas não fui bem-sucedido. Encostei minha cabeça na cabeceira, encarando o teto alto e com alguns detalhes em gesso. 

      Eu queria entrar em pânico, eu estava em pânico, contudo meu corpo não expressava, minha garganta não gritava e meu ômega interior… Ele parecia tão confuso quanto eu, não conseguindo processar os próprios instintos. Supus que tinham me dado alguma espécie de calmante, porque senão, eu estaria pulando e quebrando tudo. Meu lobo não era muito amigável quando eu ficava atordoado daquela maneira; tinha acontecido de eu ser sequestrado umas três vezes antes, por desentendimento com alguns contratantes mais barras-pesadas. Em nenhuma delas eu ficara calmo, acabando por destruir os locais onde eu fora mantido.

      Virei minha cabeça devagar, encarando, e então estiquei o braço para alcançar a cartela de remédios de cima da mesinha de cabeceira. Eram pílulas de Excedrin, e por mais que parecesse que havia uma furadeira indo e vindo várias vezes dentro de meu crânio, machucando meu cérebro, eu declinei à vontade de botar um daqueles em minha boca. Era improvável que estivessem alterados, entretanto eu tinha sido sequestrado e, bem, ser gentil com a vítima não nunca seria muito do feitio dos culpados. Retornei a cartela ao mesmo lugar, desejando poder recobrar meu perfeito estado físico e mental naquela mesma hora.

The Way You Love Me | L. S.Onde histórias criam vida. Descubra agora