DÉCIMO CAPÍTULO

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      Depois daquele episódio na madrugada, Harry e eu passamos o dia seguinte inteiro sem trocarmos mais do que cinco palavras, sempre limitadas à necessidade. Meryl, Sally e Ethan notaram aquele clima tenso e mórbido, mas não perguntaram ou comentaram sobre. Era melhor daquela forma. A única coisa que Sally fizera fora me dar a dica de colocar um saquinho de chá de camomila embaixo de cada olho, a fim de diminuir o inchaço e a irritação.

      Eu queria chorar por ela ter sido tão compreensiva e afável.

      Ainda assim, o dia se passara arrastado e Zayn também não pudera fazer a sessão de fisioterapia em Harry, o que resultara no alfa trancado no escritório cuidando de coisas que não me diziam respeito. Só nos encontramos nos horários das refeições e quando eu levava os chás prescritos pelo médico Zuri. De resto, o vira apenas na hora de dormir para perguntar-lhe se precisava de algo. E, obviamente, a resposta fora não.

      De qualquer forma, no dia posterior as coisas pareciam estar do mesmo jeito. Zayn tinha remarcado a sessão para às 19h e eu já tinha dado todos os remédios a Harry, assim como também tomei os meus, além de ajudar com todas as tarefas referentes ao seu trabalho e até mesmo com o de Meryl. O café da manhã fora tortuoso, porém a beta decidiu ficar ao nosso lado na mesa conversando comigo para aliviar um pouco o clima.

As horas seguintes foram a mesma coisa. Às vezes, eu ia até a piscina e nadava um pouco, li o bastante para conseguir terminar Razão e Sensibilidade e inevitavelmente eu passei raiva com o jeito distante e frio de Edward Ferrars, mas acabei mais indignado ainda com a estupidez de Marianne Dashwood ao preferir John Willoughby — sério, quem se chamava assim? — ao Coronel Brandon. Eu precisava agradecer Sally por me emprestar o livro quando a encontrasse.

      Eu também ri com o pensamento da alfa lendo algo tão feminino e romântico quanto os livros de Jane Austen, e quando comentei isso com Sally, ela apressou-se em dizer que todos pertenciam à sua namorada, entretanto, seu crédito como mentirosa era tão ruim quanto o de Niall, e esse pensamento fez eu quase chorar ao entender que eu podia começar a considerá-la como uma amiga.

      Deixando as coisas ruins de lado, aquilo me rendeu algum tempo conversando sobre o relacionamento dela e da menina chamada Ashley; eu achei a coisa mais fofa de todas quando os olhos de Sally começaram a brilhar em adoração ao falar do quão boa “sua menina” — era assim que ela a chamava — era em coreografar danças novas para o time de futebol americano da faculdade.

      Minha campainha apitou perto das três da tarde, e quando eu subi até o quarto de Harry, ele me disse que precisaria que eu organizasse alguns arquivos soltos. Aquele resto de tarde transcorreu daquela forma, que tinha se tornado comum para mim em tão pouco tempo: eu sentado no mesmo pufe preto, um monte de papéis em meu colo e no chão, e Harry sentado à mesa digitando rapidamente em seu computador ou anotando coisas numa agenda. Ambos sem falarmos uma única palavra.

      Quando finalmente terminamos, peguei as roupas de Harry para que ele se trocasse e fomos à academia.

      O ajudei a fazer os alongamentos prévios recomendados por Zayn, ainda sem conversar com o cacheado, e fiquei contente por não ter surgido nenhum problema com seu corpo. O fisioterapeuta logo chegou e eles começaram com todos aqueles exercícios repetitivos e pesados, enquanto eu ficava entre ler um livro e ajudar de vez em quando.

      Eu estava na quinquagésima página de Orgulho e Preconceito — outro livro emprestado de Sally — quando Zayn se pronunciou:

      — Certo, até mesmo se eu só tivesse meio neurônio funcional, eu notaria que há algo de errado aqui. O que aconteceu?

      Eu não sabia muito bem o que dizer. Era provável que, se eu contasse o que realmente fora a madrugada retrasada, Harry abriria um escândalo controlado e me rebaixaria, como sempre. Ao mesmo tempo, depois de tudo aquilo, eu tinha me decidido a não perder mais o meu tempo tentando fazer as coisas darem certo entre nós, então seria estupidez deixar de falar o que estava errado só por medo da reação de Harry.

The Way You Love Me | L. S.Onde histórias criam vida. Descubra agora