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— Venha comigo, sim? – Abraça-me de lado enquanto andamos em direção ao sofá – Conversaremos melhor sobre tudo depois, mas agora, por que não sorri um pouquinho para nós? – pede com os olhos voltados para Rafael que aguardava meio cabisbaixo, sentado junto a seu pai, no auge dos seus quase cinco anos de idade, como um perfeito rapaz crescido.

— Ei mocinho – seco rapidamente os olhos e viro em sua direção – Não vai me dar um abraço? – lhe pergunto já com os braços abertos.

— Eu senti saudades, dindinha! – abraça-me forte e descansa a cabeça por sobre meu ombro.

— E eu mais! – lhe aperto um pouco mais – O que você andou aprontando por lá? Não me diga que encontrou outra para por em meu lugar! – lhe faço cocegas.

— Oh não, dinda Any – se contorce em meus braços e gargalha – Ufa! – passa a mão por seus cabelos perfeitamente penteados pelo pai assim que o solto – As meninas são um saco, tirando você e mamãe, claro – senta-se e sorri sapeca – Além do mais, ninguém tem os mesmos olhos que o seu! – abraça-me novamente.

— Ai meu Deus, quando você se tornou esse galã? – deixo um par de lágrimas escorrer – N... Ele está muito novo para ser como você! – ele apenas levanta os ombros e sorri.

Ficamos ali conversando por mais um tempo, esvaindo um pouco da saudade. Depois que Noah sobe para dar banho em Rafael, eu e as meninas nos dirigimos até a cozinha para fazer o jantar.

— Vocês vão mesmo ficar por aqui? – lhe pergunto em total contentamento.

— Sim! Quando vocês saíram de Madri e nos convidaram para vir – as palavras no plural me fizeram vacilar por um instante – começamos a fazer uma lista com prós e contras.

Sina e Noah são um casal ideal. Sabem respeitar suas individualidades da melhor maneira possível, sempre fazendo listas para chegar à conclusão do que será melhor para ambos. Meu amigo, antes de conhecê-la, era como o pirata que viajava em busca de um lar e, a loira teimosa a quem tenho o orgulho de chamar de amiga, virou sua ancora.
Uma vez ele me disse que ela é como o lampejo de luz que brota após a tempestade em alto mar. E hoje, são como o encaixe perfeito da concha que perde sua metade e a correnteza trás de volta. E Rafael é a perola, que aninhada no interior dos dois, faz de qualquer mar, de qualquer lar, o mundo.

— E bom, depois de tudo o que aconteceu nesse mês... Eu não poderia te deixar sozinha. Então, cá estamos nós – finaliza sorrindo torto.

Meu coração ainda abalado se aquece devido suas palavras. Por Deus, eu não mereço tanto.

— Eu senti tanto a sua falta. Estou com tanto medo de tudo – escorrego meus braços até minhas pernas cansadas – Não sei se consigo passar por isso tudo sem ele. Pelo amor de Deus, o que eu fiz para Joshua me deixar assim, me diga! Você viu, não é? Você presenciou tudo o que fiz para ajuda-lo. Eu não merecia isso, merecia? – despejo as palavras aos prantos enquanto meus olhos suplicam por uma resposta aconchegante.

- Hey passarinho – Sina aproxima-se de mim – Respira fundo, sim! Você não fez nada para merecer isso. Acompanhei todo seu sofrimento para ajuda-lo e, se ele não soube reconhecer isso, o problema é totalmente dele. Esta doendo, eu sei, mas vai passar – acaricia meus ombros enquanto fala – Você é uma das mulheres mais fortes que conheço Any Gabrielly. E irá superar, acalmar seu coração e criar perfeitamente esta criança presente em seu ventre – Coloca sua mão sobre minha barriga coberta pelo tecido florido de meu vestido - Criança é benção, passarinho, e você será a melhor mãe desse mundo, depois de mim, é claro – mesmo em frangalhos lhe dou um sorriso fraco e respiro fundo a fim de cessar as lágrimas.

— E em todo caso, estamos aqui – Joalin fala – Não se esqueça de que essas titias babonas estarão por ele ou ela, da mesma forma que sua mãe sempre esteve por nós – acolhe minha mão na sua e aperta dando-me forças.

— Podemos não saber muito de crianças como a Sina, mas sabemos tudo sobre o amor. E você e esse bebê são extremamente amados por nós – Sabina conclui.

— Eu amo tanto vocês. Sinceramente não sei o que fiz para ser merecedora de amizades tão incríveis – aproximam-se de mim formando uma redoma de amor. E ali, nos braços das pessoas que mais confio, deixo que uma grande parcela de medo se vá.

Passamos um tempinho ali abraçadas, de testas coladas, em um silencio absolutamente confortável. Somos mulheres que se amam. Com alguns curativos difíceis de serem sarados na alma, mas ainda que tudo pudesse estar desmoronando, temos umas às outras, sempre.

Querido Joshua,

Você não vai acreditar. Sina e Noah mudaram-se para cá, não é incrível?! Aliás, acabo de marcar para amanhã, minha primeira consulta com a obstetra. Sua mãe e Sininho me acompanharão durante todo o processo e eu não poderia estar mais feliz. Elas me deixam segura, como só minha mãe ou você poderiam fazê-lo por mim. Sinto tanto a falta dela nesse momento, com certeza estaria feliz por ser vovó. E também sinto a sua, era você quem deveria segurar minha mão.

Falando nisso, sua mãe veio me visitar ontem pela manhã e eu lhe contei sobre a gravidez. Ela está tão quebrada como eu. Joshua, por que você se foi? Úrsula ficou tão feliz com a notícia, porém. Fomos ao shopping que fica ao lado de casa e compramos varias coisinhas em tons neutros. Consegue acreditar na quantidade de roupas e produtos para crianças que existem nessas lojas? Por Deus, queria comprar tudo o que via.

Fico horas e horas olhando-me de perfil no espelho e, pergunto-me como não reparei essa elevação que se forma em minha barriga. Pelos meus cálculos, creio que este seja o nosso presente de natal. Agora espero pela confirmação da médica.

Sua mãe diz que será uma menina, a menininha da vovó. Já seu pai, acho que não comentei que sua mãe ligou imediatamente para ele contando a novidade, diz que será o garoto do avô.

Eu sinceramente não sei qual é o sexo de minha preferência, mas tenho a certeza de uma coisa, desejo imensamente que esta criança seja parecida com você. Quero que tenha seus olhos, seus cabelos, seus lábios, seu rosto. Quero um bebê que me lembre de você por inteiro. Sinto tanto a sua falta, bambino.

Um dia desses acordei procurando-o em seu lado na cama, força do habito provavelmente, mas você não estava. Estar sem você é como não ter um ponto final. Por que não volta para mim?

Com amor, Any.

Repeti o mesmo ato da outra carta. Coloquei o número dois no canto e lhe depositei na caixa. Espero do fundo do coração que Joshua leia logo essas linhas. Sonho mais ainda que ele possa estar comigo quando nosso bebê nascer.

Perco-me em pensamos enquanto acaricio minha barriga. Tenho lhe achado tão grande para os poucos meses em que me encontro. Ao menos não recordo da barriga de Sina ser alta dessa forma, com apenas três meses. Às vezes fico apreensiva quanto sua saúde, se tenho tomado os devidos cuidados. Estou ansiosa para a primeira consulta, escutar seu coração pela primeira vez. Por mais que eu seja médica, ser completamente responsável pela vida de um ser, é de dar medo.

Les Lignes de L'amour - II TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora