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Conforme os dias passam e a saudade aumenta, minha felicidade por estar gravida cresce na mesma proporção. Estar nessa posição sempre foi meu sonho desde pequena, ainda que eu não esteja cem por cento realizada.

Joalin e Sabina já não sabem mais o que fazer comigo. Elas tentam me animar de todo jeito, tadinhas.

— Hey chica, levante-se – Sabina entra em meu quarto e abre as janelas, deixando que os fortes feixes de luz adentrem ao local, doendo-me a vista.

— Fecha isso aí Sabi, estou ficando cega com tanta claridade! – esbravejo impaciente, odeio que me acordem.

— Não comece, Any – Joalin diz resignada – Temos uma surpresa para você. Ande! Vá tomar um banho e fique mais bonita do que já é!

As duas tem sido minha base durante esses tempos sombrios. Aguentam-me sem reclamar, mesmo eu as expulsando, às vezes. Meus amigos que ficaram em Madri, também me ajudam constantemente, ainda que seja a distancia. Eu realmente tenho amigos incríveis. Às vezes penso que não sou merecedora de tanto.

Arrasto-me da cama até o banheiro. Quando elas colocam algo na cabeça, ninguém tira, então para não me aborrecer ainda mais, decido cooperar e acabar com, seja lá o que for isso, o quanto antes.

Ao entramos no carro de Sabina, ela liga o som que começa a tocar algo cantado pela Thalia, uma de suas cantoras favoritas. Enquanto deslizamos no asfalto cálido das ruas Londrinas, meus pensamentos vão de encontro àqueles que deixei na Espanha.

Queria tanto que Sina estivesse aqui. Ela e a Tia Úrsula são as únicas figuras maternas que tenho como referência. Inclusive foi tão bom ter encontrado-a ontem. Ela ficou extremamente feliz com a notícia da gravidez.

Mas na verdade, queria que minha mãe estivesse aqui. Ela sempre foi tão boa em dar conselhos e ficaria tão feliz em ver-me grávida de Joshua. Ela sabia que desde o momento em que o vi me apaixonei. Mas o carrossel da vida a levou para longe de mim.

Tudo aconteceu em um infeliz acidente no cruzeiro em que ela e papai faziam. Várias pessoas ficaram feridas e cerca de dez delas vieram a óbito, sendo dois deles às pessoas que me deram a vida, aqueles que eram meu tudo.

Joshua e sua mãe seguraram toda a barra comigo. Acolheram-me com todo o carinho do mundo por um tempo e, depois que consegui comprar meu apartamento e manter-me sozinha, tia Úrsula foi para Suécia morar perto de seus pais. E ainda assim, deixou Joana para cuidar de mim, sua empregada e fio esconderia. Quem lhe ajudou a criar o "menino Joshua", como ela mesma sempre diz.

A velha senhora de pele enrugada e olhos pequenos abraçou-me por todas as noites em que chorei a falta de meus pais. Alimentou-me por todos os dias em que não tive forças para levantar e amou-me como uma mãe. Como a minha mãe faria.

Quando decidi me mudar para a Espanha, lhe arranjei emprego na casa de uma amiga do Hospital e, agora que estou de volta, pretendo entrar em contato com ela novamente. Seria incrível tê-la por perto nesse momento delicado e poder proporcionar o mesmo amor que ela depositou-me à criança que carrego no ventre.

— Hey – Sabina acena em frente a meus olhos – Você está bem?

— Já chegamos? – constato que o carro está parado em uma vaga à frente de uma casa – Estou bem, Sabi. Apenas estive pensando em algumas coisas, acabei por não ver que chegamos – digo saindo do carro e fechando a porta – Afinal, onde estamos?

— Bom... – Joalin ignora o ocorrido – Tem um tempo que eu e Derik queremos mudar de casa, então gostei dessa aqui, mas queria que vocês vissem primeiro.

Não entendo o que minha opinião vai afetar na decisão do casal, mas ok. As meninas seguem em minha frente em direção a casa. Joalin toca a campainha e Sabina segura meu braço.

Quando a porta é aberta fico completamente confusa. Minha mente está criando coisas ou meus olhos estão, de fato, enxergando os olhos azuis de minha amiga platinada?

— Surpresa! Noah e Rafa aparecem atrás dela de repente.

— Ai meu Deus, são vocês mesmo?! – corro meus olhos entre o rosto de cada um e me apresso para abraça-los – Que saudades, meu Deus, que saudades! – solto algumas lágrimas de alívio por tê-los ali.

— Não chora, meu amor – Sininho passa suas mãos em minhas costas – Viemos por você, não iremos embora, você não está sozinha!

Deixo-me soltar um choro dolorido, confuso e cheio de saudades. Sina me conhece tão bem, ela entende meu coração como ninguém.

Les Lignes de L'amour - II TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora