Uma das coisas que faço para afastar meus pensamentos pessimistas, que me levam à depressão, é usar a minha máquina do tempo.
Todo mundo tem uma e sempre a está utilizando, geralmente, de forma inconsciente. Na maioria das vezes, pessoas como eu usam suas máquinas do tempo para passar novamente por coisas que lhes fizeram mal no passado.
Quando consigo, mudo o destino da minha, para desviar desses episódios doloridos. Vou até a escola Stélio Machado Loureiro, em Birigui, no ano de 1996.
Vejo um menino sozinho dando voltas na pista de atletismo. Aproximo-me e puxo conversa com ele. A princípio, ele acha estranho um adulto estar ali na hora do recreio. Mas logo eu o acalmo, mentindo que sou inspetor da escola.
Descubro que ele é um garoto triste, que acredita não pertencer a este mundo. O menino me conta que é burro e que os meninos vivem rindo dele por causa disso. Tento animá-lo, dizendo que, um dia, ele vai ter lido muitos livros de literatura clássica, filosofia, ciências e se apaixonará por matemática.
Outra angústia de sua pequena existência é a falta de habilidade de se relacionar com as meninas. Por causa de sua feiura, ele se afasta delas. Todos seus colegas já tinham beijado uma garota e ele, com 10 anos de idade, era um "boca virgem".
Falo, então, que essa deveria ser a menor de suas preocupações naquele momento, pois ele iria ficar com algumas meninas no futuro, teria mais de uma namorada, um noivado frustrado, passaria por um momento em que iria querer ficar solteiro para sempre, ficaria noivo outra vez e, finalmente, se casaria.
Ele apenas dá uma risada irônica. Depois, o menino diz que está destinado a ser um fracasso na vida. Eu o interrompo e conto que ele vai se formar em uma faculdade, trabalhará como jornalista no maior jornal da região, terá uma moto, uma casa.
- Cê tá metendo o louco, né tiozão? - corta o menino. Como é que cê sabe dessas coisa?
- Eu vim do futuro - respondo.
O garoto, então, dá uma risada gostosa. "Como eu amo esse menino!", digo para mim mesmo. Despeço-me dele com um abraço apertado. Percebo que ele não gostou nem um pouco disso. Mas tudo bem. Volto para o presente me sentindo muito melhor.
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Crônicas
RandomCrônicas do escritor e jornalista Ronaldo Ruiz Galdino sobre as coisas do cotidiano, que parecem ser banais à primeira vista, mas que guardam grandes tesouros quando buscamos observá-las com mais cuidado. Toda semana uma crônica nova.