Insônia

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Acordei três horas da madrugada e não consegui dormir mais. Fazia muito tempo que não tinha insônia, mas tenho experiência suficiente para saber que quanto mais a gente luta contra essa ingrata, mais ela prevalece.

Deitei-me de bruços, deitei-me virado para cima, de um lado e de outro. Porém, após alguns momentos de conforto, sentia-me desajeitado novamente e tentava outra posição. Ao lado, minha esposa dormia profundamente. Que inveja!

Levantei-me também muitas vezes para tomar água, ir ao banheiro.

Enquanto me debatia com a insônia, lembrei de todos os caras que queria ter batido na escola, analisei a escolha dos ministros do novo governo, pensei sobre a estrutura do romance, espaço, tempo, drama, etc.

Estava com receio de não dormir bem e cochilar enquanto dirigia para Araçatuba, pela manhã. Mas deixei essa preocupação de lado. Decidi que não tentaria mais dormir. Afinal, faltavam apenas duas horas para o despertador tocar.

Resolvi ler alguma coisa. Quem sabe o sono vinha se eu não o procurasse, como aquelas garotas que só aceitam ficar com a gente quando percebem que já desistimos delas?

No entanto, as escolhas de leituras foram tão empolgantes que não "pesquei" nenhuma vez. Li crônicas de Otto Lara Resende, Antônio Maria, Rubem Braga, Raquel de Queiroz, Paulo Mendes Campos e Clarice Lispector.

Depois comecei a ler "Mythos", de Stephen Fry, um livro bem humorado sobre algumas figuras da mitologia grega. Em seguida, peguei para folhear "O Novo Iluminismo" de Steven Pinker. Que defesa comovente das ideias que sustentam nossa civilização!

Enquanto lia, percebi que, no auge do verão, o sol nasce bastante cedo, por volta das cinco da manhã. Senti o calor amenizar. Como faz todos os dias, com os primeiros raios de sol, a nossa cachorrinha pulou na cama para cochilar até a hora de levantarmos.

Dirigi mais tarde e não senti sono, mas dormi por umas duas horas na tarde daquele dia. Cheguei à conclusão de que a insônia só nós amola porque quer nossa companhia. Deve se sentir muito só e mal amada, a pobre coitada. E quando a aceitamos, descobrimos nela uma companhia muito agradável. 


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