Distância (versão do século 21)

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Em uma crônica chamada "Distância", o meu grande mestre Rubem Braga recomendou aos seus leitores que evitassem o amor à distância.

Na época em que o nosso maior cronista escreveu o texto, o meio mais comum de as pessoas se comunicarem ainda era através de cartas. Como o próprio Braga explicou na época, uma ligação telefônica era muito cara.

Porém, levando-se em consideração que uma carta demorava dias para chegar, poderia ocorrer que o sentimento apaixonado que a/o remetente tinha quando a escreveu já não existisse mais quando a missiva encontrasse as mãos do(a) destinatário(a).

Por isso, o Braga terminou a crônica com a severa recomendação: "Não ameis à distância, não ameis, não ameis!".

Mas, atualmente, o mundo é muito diferente do que era em 1955. A tecnologia encurtou demais as distâncias. Todos têm celulares, redes sociais e aplicativos para falar e trocar mensagens instantaneamente, seja por texto, áudio ou vídeo. Quase ninguém escreve cartas hoje. Com tanta facilidade assim, os namoros à distância se tornaram comuns em nossa época. E muitos se transformaram em casamento.

Parece algo até meio clichê para um cara meio tímido, meio nerd, como eu, ter encontrado sua esposa pela internet.

Não sei se posso dizer exatamente que conheci a Jéssica pela internet. Realmente, o primeiro contato que tive com ela foi pelo Facebook. Mas não foi da forma tradicional como esses tipos de relacionamentos começam, em chats ou aplicativos e sites para encontrar uma pessoa perfeita.

Eu já conhecia o irmão dela pessoalmente. Ele era de Manaus e estava morando em Birigui. Éramos fãs de quadrinhos e, por isso, acabamos nos aproximando. Um dia ele disse que tinha uma irmã. Procurei o nome dela na rede social do Mark Zuckerberg e começamos a conversar. Passamos alguns anos nos falando apenas pelo celular. Namorando à distância.

Até que um dia eu desembarquei no aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus. Lembro-me de como fiquei ansioso ao perceber, enquanto subia as escadas, que em poucos segundos finalmente me encontraria face a face com alguém que parecia que já conhecia pessoalmente a vida inteira.

Quinze dias depois ela voltou comigo para Birigui. "Namoramos pessoalmente" por dois anos e no próximo mês de julho completaremos quatro anos casados.

O Braga lá do Céu que me perdoe, mas meu severo conselho para vocês neste Dia dos Namorados é: ameis de qualquer forma, ameis, ameis!


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