Rock is dead (?)

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Eu li num obituário, publicado em um site de notícias, que um velho sexagenário com quem compartilhei bons momentos, tinha ido para a terra dos pés juntos: o rock n' roll. Mas a notícia me pareceu velha. O Marilyn Manson já tinha contado isso em uma música chamada "Rock is Dead", de 1998.

Porém, em 2001, uma notícia semelhante me deixou desesperado. Uma reportagem de jornal dizia que o rock estava morrendo com os seus ídolos. Naquele ano aconteceram várias tragédias que pareciam confirmar a onda de azar do gênero: Joey Ramone morreu; Rodolfo Abrantes deixou o Raimundos; e Hebert Vianna (Paralamas do Sucesso) ficou paraplégico após um acidente de ultraleve.

Talvez, por isso não fiquei surpreendido com a notícia do site. Já estava preparado. Infelizmente, as bandas novas não conseguem mais emplacar hits nas paradas de sucesso e não há nenhum líder para cativar o público com sua simpatia ou chocar a sociedade com suas atitudes, nem mesmo grupos que fazem algo revolucionário (na minha humilde opinião, o último disco de rock que trouxe algo novo foi o "Hybrid Theory" do Linkin Park).

Só faltava alguém dizer o óbvio.

Mas por acaso nós deixamos de ler Machado de Assis só porque ele morreu? Eu mesmo curto bandas cujos integrantes já morreram há muito tempo. Vou continuar a ouvir rock, mesmo depois de ele ter falecido. É apenas uma questão de apreciar o que é bom.

As novas bandas do gênero também não vão deixar de surgir, embora em pequena quantidade e sem muito sucesso na mídia. As bandas de jazz e blues não deixaram de existir depois que o rock roubou a cena delas nos anos 1950. Até hoje existem grupos que tocam um belo bebop por aí. Das bandas atuais, confesso que gosto de poucas, como Ghost e Steel Panther.

Quando tive uma banda, em 2004, acho que o rock era um defunto ainda fresco. Ela se chamava C4, o nome de um explosivo, acho. Eu dizia que era guitarrista solo e backing vocal. Os demais integrantes eram: LT (vocalista), Cocada (vocalista), Marquin (guitarrista base). Diego (violão), Bamble (baixo) e Rodrigo (bateria). Nós tocávamos em escolas na maioria das vezes, mas chegamos a fazer shows em Luiziânia (dois!), Araçatuba, na Praça Dr. Gama em Birigui e uma apresentação numa finada emissora de rádio.

Os caras de outras bandas não conseguiam definir a qual subgênero nós pertencíamos. Fazíamos covers do Kiss, Jota Quest, Dead Fish, Charlie Brown Jr, refletindo o gosto eclético dos integrantes. A gente se definia como uma banda de hardcore, mas, talvez porque o estilo estava em alta, muitas músicas próprias da banda eram românticas, beirando o emo. No entanto, jamais admitimos isso. Também tínhamos letras com muita revolta e palavrões; e a maioria das músicas autorais eram lentas, parecendo um funeral doom. As minhas, por exemplo, tinham mais de cinco minutos.

Além disso, não tínhamos um visual definido. O Cocada, por exemplo, sempre usava uma gravata. Até sem camiseta. Brigávamos algumas vezes, depois fazíamos as pazes e saíamos juntos. Coisa de roqueiros. A banda acabou pelos mesmos motivos que as grandes bandas de rock sempre acabam: divergências na busca de uma sonoridade original e namoradas. Foram poucos meses de duração, mas foram dias muito divertidos.

Assim como seu rei, o Elvis, o rock morreu, mas ainda continua vivo. 


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