Instinto paterno

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Toda vez que vejo minha sobrinha Helena sinto meu instinto paterno aflorar. Lembro-me de quando ela completou um ano e fui à sua festinha de aniversário. Ao vê-la toda risonha, fiquei pensando como será quando eu tiver a minha filha ou o meu filho.

Imaginei um monte de coisas boas: eu contando histórias para ele(a) dormir, mostrando a ela(e) o céu à noite e dizendo o nome de cada estrela. Mas também pensei nos obstáculos: passar noites acordado, preocupações sobre a saúde dele(a).

Para ser sincero, tenho medo de ser pai. Será que eu conseguiria? Será que eu posso educar uma criança? Seria um pai chato, daqueles que eu jamais queria ser, ou babão, deixando a molecada fazer o que quiser? E se fosse menino e ele se rebelasse na adolescência? Como iria lidar com a situação se ele me disser que é corintiano? Prefiro nem pensar como reagiria ao conhecer o primeiro namorado da minha filha.

Recordo-me da primeira vez que eu vi Helena. Ela estava dormindo serenamente em um carrinho no quarto de seus avós. Fiquei apaixonado por ela. Nunca imaginei que seria tio um dia, pois sou filho único. Ser tio é um presente a mais que ganhei quando me casei com minha esposa, que tem dois irmãos.

Ao sair do quarto, fui para a sala. Na televisão passava uma reportagem sobre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-un, trocando farpas. Este último tinha acabado de fazer um teste nuclear com uma bomba dez vezes mais potente do que a que caiu sobre Hiroshima na Segunda Guerra Mundial.

Senti, então, o peso da responsabilidade de se colocar um filho em um mundo tão estranho. Um amigo meu me disse que a extinção da nossa espécie será assim: um dia ninguém mais vai ter coragem de ter filhos, por achar crueldade dar vida a uma criatura para sobreviver em um planeta tão conturbado como o nosso.

Mas eu desconfio dessas teleologias, que apontam a História para um determinado ponto final inevitável. Quero, sim, ter um(a) filho(a). Porém, não agora. Quando ela(e) estiver aqui, farei o que for possível para ensiná-la(o) novos paradigmas. Quem sabe ele(a) e Helena não construam um mundo um pouco melhor do que o atual?


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