O fim da existência

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Acho que a primeira vez que chorei pela morte de alguém foi quando o Ayrton Senna se foi. Eu tinha uns 8 ou 9 anos de idade, mas esse não tinha sido o meu primeiro contato com a morte. Alguns anos antes, minha avó materna havia morrido. No entanto, não senti tanta tristeza quanto naquele domingo em que Senna bateu forte em um muro. Meus pais tentaram esconder o máximo que puderam. Disseram que ele estava em um hospital. Porém, logo a televisão só falava da morte dele.

Chorei como nunca havia chorado antes. Sentia uma agonia só de pensar que não iria mais vê-lo correr nas manhãs de domingo. Senna era meu herói, minha inspiração. Queria ser piloto de Fórmula 1 igual a ele. Não conseguia acreditar que alguém como Senna pudesse desaparecer de repente, para sempre. Era um absurdo.

Quem acredita em vida após a morte é um sortudo. Para essas pessoas, na verdade, a morte não é um fim, mas apenas uma passagem para uma outra etapa, que será mais feliz e eterna. Saber que, em breve, vamos nos encontrar de novo com quem amamos e partiu é um consolo e tanto. Acalma o coração e faz até brotar um sorriso entre as lágrimas, enquanto labutamos no mundo material.

Mas e para quem não tem tanta certeza sobre o mistério que nos espera após a morte? Como fugir do medo do fim? O filósofo grego Epicuro (341 a.C. - 270 a.C.) disse que a morte não era nada para nós, pois quando existimos a morte não existe. Quando a morte existe, bom, aí já é a gente que não existe mais.

Fácil de dizer, difícil de acreditar. Quando pensamos que um dia não estaremos mais aqui nos bate um desespero... É aquela sensação de absurdo de novo.

Sabemos ser impossível tentar acabar com a morte, pelo menos a morte da matéria. É a única coisa que temos certeza na vida. Como diz aquela música do Type O Negative: tudo morre. Plantas, animais, pessoas, civilizações, impérios, planetas, estrelas e galáxias inteirinhas. Nada escapa ao fim. Talvez, se a teoria da entropia estiver certa, nem mesmo o nosso Universo escapará.

Eu penso que não é exatamente da morte que temos medo, a não ser para aquelas pessoas que temem ser punidas no além. O que tememos mesmo é o sofrimento antes de ela chegar. Geralmente, estamos sozinhos em um hospital, cheio de aparelhos instalados em nosso corpo, na inútil tentativa de prolongar o inevitável, sentindo dor e embriagados com sedativos e analgésicos.

Porém, não há dor que dure para sempre. Se sobrevivermos, ótimo, teremos uma segunda chance para apreciar a maravilha de estar vivo. Se não for possível, a morte cessará a dor e trará um eterno descanso e perdão.

Você se lembra de algo que aconteceu antes de ter nascido? Nem eu. Pois é, acho que deve ser a mesma coisa depois da morte. Já não precisaremos pensar naquele boleto que está para vencer.

Então, até lá, vamos aproveitar a vida, desenhar nosso próprio destino com mais consciência, sem se preocupar com o fim da existência. 


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