Publiquei esta crônica há um ano no jornal Folha da Região de Araçatuba, mais precisamente após o São Paulo perder o Campeonato Paulista para o Corinthians. Mas acho que continua válida, pois nela expresso meu amor pelo Tricolor Paulista. Por isso, republico-a aqui no Wattpad.
Não assistir aos clássicos de futebol envolvendo o meu time é uma recomendação médica. Principalmente o chamado "Majestoso", entre São Paulo e Corinthians. Se for uma final entre esses dois clubes a proibição se torna mais severa ainda. Se assisto à partida, meus dedos começam a formigar, o coração acelera mais do que o normal, fico com dificuldade em respirar, o peito dói e passo o resto do dia com tremedeira. Por isso, não vi a final do Campeonato Paulista do último fim de semana. Eu não quero dar uma de são-paulino pessimista, mas já sabia que meu time ia perder.
Sou de uma geração de torcedores do Tricolor Paulista que se acostumou a sempre comemorar um título. Além da influência de amigos, um dos motivos para eu torcer para o time do Morumbi foi a conquista do mundial de 1992. Um dos títulos que mais comemorei na vida - olhe só que ironia - foi o Campeonato Paulista de 1998 em cima do Corinthians, quando o Raí apareceu de repente para a nossa alegria.
Depois de uma enxurrada de títulos nos anos 2000, porém, o meu time só ganhou uma Copa Sul Americana em 2012 (em uma final que só teve o primeiro tempo e muita pancadaria) e depois nunca mais venceu um campeonato. Acho que foi por esse motivo que me tornei tão pessimista.
Considerei a classificação do São Paulo em cima do Palmeiras como se fosse uma vitória na final do Paulistão deste ano. Quem iria imaginar que o São Paulo passaria em um mata-mata, ainda mais em uma disputa de pênaltis no Allianz Parque - a casa do Verdão - numa era pós-Rogério Ceni? Quando havia sido mesmo a última vez que vi uma vitória do meu clube assim?
Eu acabei assistindo a esse jogo sem querer. Fui à uma padaria conversar com um amigo e a partida estava passando na TV. Estava contando com a derrota e não soube lidar com a defesa do Volpi que nos deu a vitória. Meu amigo, que falava sobre gibis, não esperava que eu ia vibrar com o resultado e se assustou.
Uma semana após um empate sem gols no Morumbi, acordei no domingo passado já melancólico, com a minha mente fazendo questão de me lembrar do jogo a cada meia hora. Apesar de não assistir à final, foi impossível ficar alheio a ela: os fogos, os gritos, o murmúrio do narrador na TV do vizinho. De vez em quando dava uma olhada no Google para ver como estava o placar.
Queria ser como o Nelson Rodrigues, negar a realidade e dizer que o São Paulo foi campeão no fim da tarde daquele domingo. Se o placar dava a taça para o Corinthians, pior para o placar. Mas estou mais para aquele menino que volta para casa triste, enrolado em uma bandeira preta, branca e vermelha.
Uma vez, há muitos anos, uma amiga me perguntou, após uma derrota do São Paulo, porque eu não trocava de time. Qual! Expliquei para ela que depois que alguém escolhe para qual clube de futebol vai torcer jamais muda. Falei que já tinha trocado de religião, de ideologia política, namoradas e bandas favoritas, mas nunca deixaria de amar o São Paulo Futebol Clube. A decisão já havia sido tomada, suspeito que antes de eu nascer.
Enfim, o ano não acabou. O Campeonato Brasileiro já está aí e nos saímos melhor nos pontos corridos. Quem sabe a gente não quebra o jejum ainda neste 2019?
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Crônicas
RandomCrônicas do escritor e jornalista Ronaldo Ruiz Galdino sobre as coisas do cotidiano, que parecem ser banais à primeira vista, mas que guardam grandes tesouros quando buscamos observá-las com mais cuidado. Toda semana uma crônica nova.