Assistir ao filme "O Enigma do Outro Mundo" em tempos de coronavírus foi para mim mais uma experiência reflexiva do que aterrorizante. A película é mais antiga do que eu - de 1982 - mas é impressionante como envelheceu bem. Sempre via cenas desse longa-metragem na internet, mas nunca consegui assistir. Até que a Netflix me presenteou colocando-o em seu catálogo.
Tive que vê-lo por partes, como se fosse uma série, porque estou sempre com muito sono e durmo mesmo quando o filme é muito bom ou assustador.
"O Enigma do Outro Mundo" é baseado no conto do escritor John W. Campbell Jr. chamado "Who Goes There?" e publicado na revista pulp Astounding em 1938. Podemos dizer que o filme pertence ao gênero "new weird" em que ninguém sabe ao certo onde termina a ficção científica e começa o horror; e vice-versa.
Somada a essa característica temos outra comum ao "new weird": uma criatura estranha ao nosso mundo tentando se transformar em qualquer coisa viva que cruze seu caminho. Neste processo, o hospedeiro acaba se tornando um monstro.
O filme conta a história de um acampamento de doze pesquisadores americanos em missão na Antártica que é atacado por um alienígena, o qual foi descongelado após milhares de anos. O efeito utilizado na transformação dos homens em monstros é tão bem feito, ainda mais para uma produção dos anos 1980, que chega a ter uma certa beleza estética.
Um dos pontos fracos do ser que veio do espaço é o fogo. Enquanto "a coisa" - nome que os pesquisadores dão para o alienígena - não está sob a mira de um lança-chamas, não é possível saber em qual corpo ela está, o que cria um paranoia entre os acampados, em especial, no esquentadinho MacReady, interpretado pelo então jovem Kurt Russell. Se a criatura sair da Antártica, provavelmente, será o fim da espécie humana.
Foi aí que eu comecei a traçar um paralelo entre o filme e a situação pela qual o nosso mundo em pandemia está passando.
Nos últimos dias, estamos fazendo cara feia para quem tosse ou espirra perto da gente. (Ou, na melhor das hipóteses, fazemos uma piadinha: é corona?). Afinal, ninguém sabe quem está infectado com "a coisa", pois ela se disfarça como uma simples gripe. Se sentimos alguma dor de garganta, já imaginamos que a criatura tomou nosso corpo, procuramos um pronto-socorro e exigimos que façam o teste do coronavírus.
Mas o terror não para por aí. Existem todos os tipos de teoria conspiratórias, desde o chá de alho para curar a doença até o absurdo de que os chineses a criaram em laboratório para se dar bem nas bolsas de valores. Tem idiota por aí discriminando asiáticos por causa disso. É mais uma prova de que o ser humano, de vez em quando, elege um bode expiatório.
Aos poucos, todos vão se escondendo dentro de casa para não serem pegos pela "coisa". Estabelecimentos comerciais baixam suas portas. As ruas passam a ficar desertas. Cidades são isoladas.
Parece um filme de terror!
Porém, não se assustem. O coronavírus é coisa séria e devemos tomar todas as precauções em relação a ele. Mas nós vamos sobreviver. A história é cíclica. Volta e meia aparece uma doença para nos amedrontar. Foi assim com a gripe aviária, gripe espanhola, peste negra, H1N1. Apesar das duras baixas, a gente sempre consegue vencer no final. Fique em casa e cuide da sua higiene pessoal. Tenho certeza de que vamos ganhar esta batalha novamente.
(Aviso de spoiler!)
Já o final de "O Enigma do Outro Mundo" é bastante aberto.
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Crônicas
RandomCrônicas do escritor e jornalista Ronaldo Ruiz Galdino sobre as coisas do cotidiano, que parecem ser banais à primeira vista, mas que guardam grandes tesouros quando buscamos observá-las com mais cuidado. Toda semana uma crônica nova.