Triste realidade

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Eu não aguentava mais. Dar um fim nisso parecia ser minha melhor opção.

Eu queria minha mãe de volta. Meu emprego. Minha vida de volta.

Minha vida nunca foi um mar de rosas, mas eu a amava mesmo assim. Ter que acordar cedo para ir trabalhar, voltar e ficar o resto da noite vendo filme com minha mãe e Catarina, minha melhor amiga. Finais de semana, Catarina praticamente me obrigava a ir para festas com ela. Minha amiga tinha esperanças de achar um grande amor pra mim, acabei conhecendo em uma dessas tentativas, Mark. Que de um jeito muito doloroso me fez perceber que ele não era a pessoa certa pra mim.

Agora eu estou aqui, olhando para o Central Park do alto de um prédio. Aquelas pessoas felizes que passeavam com seus parceiros, filhos ou cachorros.  Meu coração se apertou quando lembrei-me da época que eu era uma daquelas pessoas, quando minha mãe ainda estava aqui comigo, quando eu ainda tinha um emprego e um namorado que eu acreditava me amar.

O peso de todas as lembranças boas e ruins voltaram a tona e eu chorei. Chorei porque estava quebrado, destruído. Tudo em mim estava doendo e eu não aguentava mais sentir essa dor.

Sentei no parapeito e olhei para a paisagem abaixo de mim. Eu estava no alto de um hotel luxuoso, Mark mora aqui. Eu nunca teria dinheiro para pagar por um lugar desses.

Quando resolvi vir aqui visitar meu namorado.. ex namorado, não imaginei que acabaria desta forma, sozinho e chorando no terraço do seu hotel.

Depois de ter perdido minha mãe e uma semana depois meu emprego, não sei porque estou surpreso em ter perdido meu namorado também.

Tudo bem, eu o amava, ao menos acreditava que sim. Acreditava ser o amor da minha vida. A pessoa certa pra mim, quando descobri o motivo dele ter se aproximado de mim, foi como se o último motivo que eu tinha pra sorrir tivesse ido embora.

Bufei frustrado. Eu estava com tanta raiva dele, eu não merecia o que estava acontecendo comigo.

Quando fui trabalhar hoje cedo, eu estava acabado, havia chorado por noites e noites seguidas, ficava trancado e não falava com ninguém, Catarina estava em uma viagem de trabalho então não podia estar aqui comigo nesse momento doloroso. Quando cheguei no trabalho já esperava uma bronca e até uma advertência por ter faltado uma semana sem dar explicações, porém meu chefe não quis nem mesmo saber porquê eu havia faltado, ele apenas disse pra eu pegar minhas coisas porque estava demitido. Eu não implorei, apenas peguei minhas coisas e saí de lá.

Pensei em ir pra casa, mas estava cansado de ficar sozinho. Tentei ligar para Catarina, mas como esperado caiu na caixa postal, obviamente ela devia estar trabalhado. Peguei um táxi e fui para o hotel, onde Mark estava morando temporariamente.

Cheguei ao hotel e tive outra grande decepção. Mark pisou no meu coração que já estava quebrado o suficiente. Ao invés de voltar pra casa eu entrei no elevador, apertei o botão para subir e agora estou aqui, olhando para o lindo Central Park e pensando se não seria mais fácil me jogar e acabar logo com isso.

Suspirei cansado. Minha mãe ficaria decepcionada comigo, mas o que eu podia fazer? Estava dando tudo errado, a única coisa boa que havia me restado era Catarina, mas ela estava tão longe.

Respirei profundamente, as lágrimas desciam pelo meu rosto e eu olhava para a paisagem perdido em pensamentos.

-Ótimo lugar pra pensar, não é? -Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz suave que vinha a poucos metros de distância, me virei e vi um homem alto, de terno e parecia ser bem rico.

Mas não era isso que tinha me chamado atenção, e sim seus olhos azuis e seu rosto com traços perfeitos que me deixou pateticamente hipnotizado.

-Ou pra se jogar... -Sussurrei pra mim mesmo, mas ele ouviu.

-Bom...espero que você esteja brincando. -Ele falou calmo, como se estivesse tentando me convencer sutilmente de descer do parapeito.

Suspirei antes de limpar as lágrimas do meu rosto e descer.

Quando me virei ele olhava perdido para o horizonte, pensei em sair dali e voltar pra casa, mas parei quando ouvi sua voz ecoar pelo local novamente.

-Muito prazer, sou Alexander. -Disse sorrindo enquanto estendia a mão pra mim.

-O prazer é todo meu.. Sou Magnus. -Respondi enquanto aceitava seu aperto de mão.

Enquanto apertava sua mão olhei pra ele e prestei mais atenção. Sua pele branquinha e seus cabelos pretos eram uma bela e maravilhosa combinação com seus olhos azuis. Fiquei constrangido quando percebi que estava o encarando demais e ainda segurava sua mão.

Pigarreei soltando sua mão em seguida, ele percebeu meu constrangimento e soltou um risinho.

-É..hum, você está hospedado aqui? -Ele perguntou tentando puxar assunto. Eu iria ir embora, mas ele parecia ser tão legal e gentil, resolvi voltar para perto do parapeito e me encostei lá antes de respondê-lo.

-Não, eu só vim visitar uma pessoa. -Falei apenas, não queria entrar em detalhes.

-Namorada?-Ele perguntou, mas não estava olhando para mim e sim para a paisagem à nossa frente.

-Ex namorado. -Respondi dando de ombros. Ele virou o rosto e arqueou uma sobrancelha em uma pergunta silenciosa.

-Longa história. -Sorri triste. -E você?

-Meu pai é o dono. -Ele disse simplista. Eu arregalei os olhos.

-Eu já vou indo. -Falei depois de um longo silêncio que se estendeu entre nós. Alexander segurou meu braço quando fiz menção de me afastar.

-Olha.. Você parece um pouco.. abalado. -Ele disse cauteloso. -Tem certeza que está bem? Se quiser eu te dou uma carona.

-Não precisa Alexander, eu estou bem. -Lhe lancei um sorriso simpático, para tentar convencê-lo. Ele sorriu de volta e eu senti uma pontada estranha no meu coração. O sorriso dele era extremamente lindo e eu tive que me obrigar a desviar o olhar. 

-Me chame de Alec. -Pediu.

-Eu gosto mais de Alexander. -Respondi, ele assentiu.

-Espero te ver de novo... -O ouvi dizer enquanto me afastava.

Respondi um "eu também", mas não tenho certeza se ele ouviu.

Sorri enquanto entrava no elevador. Não sei como, mas conhecê-lo me fez sentir uma vontade de tentar melhorar. Eu sabia que provavelmente não o veria de novo, mas não pude deixar de desejar poder revê-lo.

Ele era gentil e educado, parecia mesmo se importar, apesar de termos acabado de nos conhecer. Não pude conter o sorriso bobo ao me lembrar dele.

Eu sabia que seria difícil superar isso, a vontade de chorar e desistir vinha constantemente, mas eu tentaria melhorar, precisava seguir em frente, eu sabia que era isso que minha mãe iria querer pra mim e eu não iria decepcioná-la.

Uma Segunda Chance (Malec)Onde histórias criam vida. Descubra agora