Capítulo 15

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Lys

Quando André e eu chegamos em casa tudo parecia diferente agora, a partir do momento que você descobre uma gravidez tudo muda, eu deitei no sofá e não vou mentir que eu não conseguia me sentir feliz por isso, o meu histórico com meu pai não ajuda em nada, é difícil dizer isso porque é uma criança, eu lembro da reação que a Kate teve quando adotou a Ava e logo descobriu que tava grávida de gêmeas, ou a Lucy que não pensou duas vezes em assumir o Otto, depois veio a Hope e agora o Lewis, até mesmo a Anna com os filhos, eu não consigo sentir todo esse amor, e nem posso me dar ao luxo de sentir, eu não sei o que vai acontecer, não posso me apegar e depois ver essa criança ser arrancada de mim, eu não vou suportar.

O que eu mais queria era mandar uma mensagem para o Alberto e contar para ele, mas se eu fizer isso vou ter que correr o risco de ter ele por perto, e não posso, ele vai fazer de tudo para nos proteger, e seu que se precisar ele coloca a vida dele em risco por mim, e eu não quero isso.

_ Quer comer alguma coisa? _ André me olha com meio sorriso.

_ Olha a hora que é André, a Suzy já te ligou não sei quantas vezes. Pode ir, eu tô bem, tô grávida não inválida.

_ Você precisa ser cuidada e mimada agora, você não entende.

_ Eu não quero isso André, eu nem sei se esse bebê vai nascer, não quero me apegar assim.

_ É claro que vai nascer, para com isso Lys _ ele senta ao meu lado _ eu entendo que você tenha medo por tudo que você passou mas eu vou estar aqui, mesmo que você não queira contar para ninguém, se quiser fugir e desaparecer eu vou te ajudar, se quiser trocar de identidade outra vez, a gente troca, eu te levo pra qualquer lugar.

_ Você fala como meu irmão, quando éramos pequenos. André, sua vida tá em jogo aqui, não sou só eu e essa criança, tem muita gente envolvida, e perdoe mas você precisa se afastar _ ele me olha sem entender _ vai na janela, devagar, e olha de canto, o que você viu?

_ Tem um carro preto, só isso.

_ André esse carro tá aí a dois dias, eu vi ele parando e ninguém desceu, eu sei que tem alguém aí, isso é coisa do meu pai, então eu preciso que faça uma coisa por mim.

Pego meu celular e dígito uma mensagem para ele.

_ Eu não vou fazer nada Lys, EU vou ficar aqui com você. _ ele começa se alterar.

_ André, você precisa ir, eu tô falando sério, por favor, vai.

_ Não, pode desistir. _ vou até a porta e abro.

_ Vai embora daqui André, não quero você envolvido nisso, já que não quer me ajudar, eu preciso ficar sozinha _ seus olhos estavam quase em chamas _ você pode me dar licença ou vou ter que ligar para alguém te tirar daqui?

_ Porque você está fazendo isso Lys, deixa disso, para, você não deixa as pessoas cuidarem de você, o que mais você tá esperando acontecer?

_ Eu estou grávida André, e o pai não pode nem saber porque se ele souber ele pode morrer junto comigo e com essa criança, e eu não posso fazer isso, eu nunca quis uma criança porque eu tenho medo do meu pai, e enquanto ele andar por esse mundo eu jamais terei coragem de fazer isso, EU NÃO POSSO ser feliz André, eu nunca vou, eu sei que vocês entraram na minha vida e eu amo todos vocês, eu já afastei minhas amigas, o homem que eu amo, meu melhor amigo, eu não tenho mais ninguém, eu não tenho nem esse bebê, porque eu não vou André criar expectativas e depois ver ele matar essa criança também.

Meu amigo me olha com uma tristeza que jamais tinha visto, André parece machista, egoísta, e sem sentimento, mas a forma que ele cuida de mim eu sei que ele é mais, muito mais do que ele aparenta ser, e sei que são poucas pessoas que podem o conhecer assim.

Ele não fala mais nada, abaixa a cabeça ele ia falar mais alguma coisa, mas desistiu, ele sai e me deixa ali na varanda vendo ele se afastar e se afastar mais, até sumir, fecho a porta atrás de mim e escorrego até o chão, isso é típico cena de novela mexicana, esse drama todo de escorregar na porta até o chão, mas eu estou tão acabada que nem me incomodei.

Agora é oficial, eu perdi todas as pessoas da minha vida que me fizeram desejar mais do que trabalhar em uma boate em troca de lugar para viver e ter o que comer. Eu só consigo sentir ódio daquele homem que se fiz meu pai.

Quando eu acordei o relógio marcava 2:34 da manhã, nem lembro como cheguei ao sofá eu teria dormido mais se não fosse o enjôo horrível que me deixou pior, procurei um dos remédios que a médica me passou para enjôo e tomei, por instinto olhei pela fresta da janela, o carro ainda estava parado lá, dois homens fumavam encostados nele.

_ É bebê, esse homem vai acabar com a gente, precisamos fazer alguma coisa a respeito disso. _ pego uma bolsa e coloco algumas coisas, meu carro está um pouco longe, preferi deixar longe, no caso de problemas, deixo cópias de todos os documentos trancados no carro, se algo me acontecer eles sabem quem procurar.

Saí de casa pela porta do fundo, meu corpo estava todo em alerta, passei a mão rapidamente na barriga, mas me repreendi, não posso criar vínculos. "Esse bebê não é seu" eu repetia a frase na minha cabeça. Apertei o passo e andei um pouco mais rápido sem dar muita bandeira, mas eu sei, antes que gritem que estou louca por sair essa hora da noite, me desculpem, a gente tem o péssimo hábito de agir com estupidez e só depois pensar.

Eu caminhava am alerta e fingindo uma falsa tranquilidade, na primeira esquina tive que parar para vomitar de novo, não sei mais o que fazer, demorei alguns segundos para recuperar e então voltei a andar. Minha chave caiu em um buraco pequeno no canto da rua, pois é, essas são coisas que acontecem comigo, não tinha nem probabilidade para que aquilo acontecesse, como isso é possível.

Com muito custo consegui pegar a chave, o relógio agora marcava 2:58 da manhã. Eu nem sei mais o que estou fazendo, estou completamente fora de mim. Mas já cheguei aqui, voltar vai ser pior.

Cheguei no meu carro, eu mesma não sabia onde iria, só ia dirigir e não parar tão cedo, eu sei que estou agindo como uma covarde, mas eu tenho que dar um jeito nisso, as coisas não pode ficar assim, eu sei que parece loucura, mas o desespero fala sempre mais alto.

Quando paro em frente ao meu carro, vejo pela janela dois homens atrás, sim os dois que estavam na frente da minha casa. "Como você é burra, claro que eles estão atrás de você, esse é o trabalho deles e você só facilitou as coisas" todas as minhas versões falam ao mesmo tempo.

"Agora se vira aí, desisto de você" minha versão cautelosa grita na minha mente.

Eles não falaram nada, apenas colocaram um capuz na minha cabeça, parabéns para mim, não sei porquê a surpresa, depois de fazer a estupidez eu esperava o quê? Um carro?

É isso, ele me achou mais uma vez, mas tenho certeza que dessa vez ele vai me matar. Talvez seja melhor assim, as pessoas da minha vida não merecem serem colocadas em perigo assim, eu estou cansada de ver as pessoas que eu amo morrer, quando na verdade a única pessoa que ele quer sou eu.

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