Crossed Lines: sem limites

Capítulo XVI - Neurônios, uni-vos

ஜ Savannah Wolff

Com um facão de prata, Henrico rompeu o lacre, cheirou e apreciou o fruto de um trabalho de gerações.

Eu quase me engasguei com minha própria saliva ao ouvir a fala do velhinho.

— Casório? Nonno, é cedo demais para isso. — Blake limpa a garganta e sorri. —  Savannah e eu estamos apaixonados. Isso nos basta, por ora. Mas quando sair a data do casamento, o senhor será o primeiro a saber.

— O que? — Questiono. Tossi. Quase me engasguei com o ravióli.

Blake aperta os olhos e me olha com cara de entra-na-onda-por-favor.

— Sim. Eu e seu caro nipote estamos perdidamente apaixonados, Nonno. — Levanto minha mão e a alcanço a Blake, que a aperta e a beija. — Você estava limpando a boca na minha mão, não estava?

— Como assim, meu amor? Eu sou um cavalheiro. — Blake lambe os lábios. E beija minha mão novamente.

Eu rio.

— Estava sim, eu vi daqui. — Martina retruca em minha defesa.

— Um cavalheiro? Isso você é mesmo, meu amor. — Sorrio. Tateio meu garfo e o cravo no prato de Blake, sorrateiramente lhe roubando um ravióli. — Cavalheiros compartilham.

— Com você, eu compartilho tudo. Como Nonno e Nonna. Eu e você somos cúmplices.

— Voi due... Come siete belli! — Vocês dois, como são lindos! Henrique e Antonella entoam quase em uníssono.

Achei por bem não contrariá-los. Não seria de bom tom fazer desfeita à simpatia dos donos da casa, mesmo que eu esteja queimando por dentro. Queimando de vontade de esbofetear Blake por me arrastar para tudo isso. Queimando de vontade de quebrar a aposta e beijá-lo de uma vez.

Mas nem que todos os homens fossem enviados a Marte e as mulheres fossem extintas da face da Terra eu me prestaria ao papel de namorar Blake Haas.

Fico confusa quando estou perto dele. E irritada. É isso. Só isso.

É melhor que seja só isso.

Detesto essa explosão que ferve o meu peito quando estou perto dele.

Porque sei que se me entregar a esse sentimento, posso acabar com o coração machucado. E, se continuar o deixando nas profundezas de meu ser, corro o risco de enlouquecer.

É um daqueles casos de se correr, o bicho pega e se ficar, o bicho come.

Pelo menos passamos uma tarde excelente juntos – com todo o resto dos Casiraghi. Até chegamos a degustar alguns vinhos. Meu favorito foi o branco, seco, feito com Cortese. Mas também apreciei os corpulentos e estruturados, feito com Barolo e Barbaresco.

Foi uma amostra grátis de paz celestial sentir aquela felicidade líquida permeando meu paladar. Tudo com uma hospitalidade tremenda. Poderia ouvir essa família falar de uva por dias.

Andei por cada canto da grande propriedade dos Casiraghi. A paisagem estonteante certamente vai ficar na minha memória para sempre.

Acabamos perdendo a hora, e só voltando quase na hora do jantar. Estava exausta e morrendo por uma chuveirada.

Martina, a adorável prima de Blake, me ofereceu uma muda de roupas para que eu pudesse tomar banho.

Antonella e Henrico parecem ser cumplices de uma vida. Martoo, como me pediu para chamá-la, é um doce e Matteo meio bruto, mas acho que no fundo tem um bom coração.