Capítulo VIII - Território neutro

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Savannah Wolff

Quando achar que nada mais pode te surpreender, ache de novo.

Em um momento eu estava prestes a trovejar, e, no outro, começa a chover dentro do One World Trade Center.

Em oito anos trabalhando por aqui, nunca pensei que veria uma cascata de água escorrer do teto cinzento do elevador do prédio mais alto do país. Mas tem uma primeira vez para tudo.

Assim que a caixa metálica parou de se mover, uma fumaça esbranquiçada tomou conta do lugar. Foi o suficiente para que meu coração esbofeteasse meu peito e eu perdesse a coordenação motora.

Em um movimento rápido, Blake tira seu paletó e o envolve sobre a minha cabeça, me empurrando para o lado até encontrar algum lugar livre de vazamento. Agradeço, com a voz tremula. E então ficamos os dois em silêncio enquanto a água cai e encharca meu par de Loubotin favorito.

Estou gastando todo meu autocontrole para não sacudir como um abalo sísmico de magnitude sete.

Quando uma gota de suor teimosa desce pela lateral de minha testa, finalmente decido fazer alguma coisa. Porque não gosto de não fazer nada. De me sentir impotente.

Nem que eu quebre a porta deste cubículo na porrada, sairei daqui hoje.

Sim, sairei daqui hoje.

Sairei.

Sim.

Hoje.

Daqui a alguns minutos.

Ou horas, talvez. Não sei.

Bem, pensando melhor, também não me atrevo a fazer nenhuma loucura.

Sequer há espaço para a loucura. Não há metros quadrado suficiente. Esse elevador é um cu de pinto.

Mal há espaço para que fiquemos ambos encolhidos em um de seus cantos.

O tronco parrudo de Blake Haas está consideravelmente perto de mim. O moreno não deu uma palavra desde que tudo aconteceu. Emudeceu. Algo que eu nunca pensei que fosse viver para testemunhar.

Seu silêncio me traria paz se não fosse o som de uma cachoeira despencando do teto e o de um alarme praticamente ensurdecedor.

— Céus, o que fiz para merecer? — Murmuro.

Sim, teve aquela vez em que, aos dez anos, quebrei o telefone novo que papai havia comprado com muito suor, sem querer, e deixei Serena levar a culpa. Cortava religiosamente os cabelos todas as bonecas da Shannon, mas é porque sempre tive um senso de estilo melhor do que o dela.

E Deus sabe o quanto senti inveja quando alguém, que não eu, encontrou a felicidade nos braços do John Legend. Também sabe que, nos últimos anos, andei me entregando aos prazeres da carne sem quase nenhuma restrição. E a gula, ao overspending, a luxúria, a ganância, a pensamentos que desrepeitam o "não matarás" e por aí vai. Quem sabe foi isso.

— Pense nos seus pecados — Blake sugere. — Foram muitos?

— Mais do que posso contar. Ou me lembrar — Me retifico. — O que acha que aconteceu?

— Não sei, não tenho bola de cristal. — O moreno torce os lábios e suspira exasperadamente. Seu comentário me faz revirar os olhos com vigor.

— Está vendo? — Arquejo. — É disso que estou falando. Você é um idiota.

— Desculpe. Só... estou irritado.

— Também estou — Cruzo os braços sobre o meu peito e também suspiro com impaciência. — É oficial. Você mais um elevador equaliza a fórmula da desgraça. Preciso estar fora daqui. Pra ontem.

Crossed Lines: sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora