Capítulo XXVII - Anjo ou demônio?

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*Ô minha Nossa Senhora da bicicletinha, que gif de início de capítulo é esse? Blake passou na fila da beleza no mínimo umas cem vezes com essa boquinha de botar fogo em quengaral. 🤣

Blake Haas

A vida é um constante caso de 'decifra-me ou te devoro'. Como no desafio da esfinge de Tebas, viver é tentar desvendar o enigma antes de acabar a sete palmos do chão. Mas quem somos nós frente a iminência do derradeiro suspiro? Meros peões no tabuleiro sadista da existência.

Caso o pequeno tumor de Jack, localizado na próstata, fosse descoberto tardiamente, poderia tê-lo matado. Por isso resolvi enfrentar meu sempre adiado check-up de rotina para me certificar de que tudo estava nos conformes. Bem, foi isso há dois meses atrás.

Análise da pressão arterial, verificação de altura e peso, teste de colesterol, reticências. A bateria de exames foi o primeiro passo na minha jornada de autoconhecimento. O segundo foi entregar minha carta de demissão nas mãos de Fitzpatrick, que estava ocupado demais com o seu divórcio para me convencer a ficar.

Me demiti, sim. Mas não porque menos é mais e eu pretendo me desfazer de todos os meus bens e ir viver recluso num mosteiro - todavia só não é uma opção valida porque me falta a vocação.

Tenho uma boa lábia, sou persuasivo e também muito persistente. Modesto. Vou lutar para construir um legado. Eu tinha prometido ficar até que o magnata encontrasse alguém para o cargo do falecido e isso finalmente aconteceu.

Decidi começar esse novo ciclo porque me queria como meu próprio chefe e também porque sempre sonhei em ter um negócio para chamar de meu. Mas se dissesse que a operação de Jack não foi uma das razões por trás da minha decisão estaria mentindo.

Percebi que a vida é curta demais para não correr riscos – riscos saudáveis, como largar o emprego e abrir a própria empresa (contém ironia), mas não testar a sorte como, por exemplo, deixar de fazer exames de rotina, consultas médicas e o raio. A Jack, a teimosia lhe custou a saúde de seu pinto, e com isso não se brinca.

A cirurgia foi minimamente invasiva e removeu a próstata, além de alguns dos tecidos à sua volta, utilizando pequenas incisões. Meu pai teve embolia pulmonar, o que postergou seu tempo no hospital durante o pós-operatório, contudo, graças ao talentoso time do St. Judes tudo acabou bem.

Depois da alta, precisou usar fraldas por causa da incontinência urinária, além de uma sonda vesical. Victoria esteve ao seu lado para as tarefas mais mínimas como ajudá-lo a se levantar (para que o esforço abdominal não causasse dano a anastomose), a fazer os exercícios de musculatura pélvica e lembrá-lo de tomar a medicação para auxiliar o retorno da potência sexual.

— Acho que é o que eu mereço por dizer que preferia perder um pedaço do pinto do que deixar alguém me pegar por trás — Jack gargalhou sem muita emoção. — Antes um simples exame de toque retal do que passar por toda essa merda. Por favor, sem piadinhas.

— Não se preocupe, a indiscrição não vem de berço. Além do mais o senhor já tem quase sessenta anos. Fez muito bom uso do seu instrumento. Quase um pincel dado que ajudou a formar três meninos robustos.

— De fato — Concorda com a cabeça. — Enquanto você e os seus irmãos mal-agradecidos estavam crescendo, eu trabalhava para prover um teto a vocês, meus filhos ingratos.

— Sou grato que você tenha posto o que comer na nossa mesa, mas sabe muito bem porque estou aqui. — Decido cortar a conversa pela raiz, sabendo que levaria ao mesmo caminho de sempre.

— É claro que ele sabe, está se fazendo. — Victoria entra em meu campo de visão. — Como sempre.

— Vai mesmo continuar com isso, Victoria? Essa besteira de divórcio. Eu apenas concordei, porque pensei que você voltaria aos seus sentidos!

Crossed Lines: sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora