Capítulo IV - Não adianta chorar pelo vinho derramado

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Savannah Wolff

É verdade, sou uma mulher mais racional do que qualquer outra coisa. Um sorriso cafajeste não me corrompe. Mas me excita. Como me excita.

Foi um desses sorrisos que escapou dos lábios do moreno ao insinuar que eventualmente poderia me 'ter em mãos'. Uma lambida de lábios e uma gargalhada mental depois, eu respondo:

— No dia em que me tiver nas mãos, corto elas fora, Blake Haas. — É com um sorriso traiçoeiro que eu dou meu recado. Porque não há nada mais irritante do que uma pessoa debochada. E eu estaria mentindo se dissesse que não me enche de prazer tortura-lo.

— Cão que ladra não morde, Savannah Wolff. — Sua confiança não se abala nem mesmo quando está sendo deixado no ar.

Faço questão de ir apertar a sua mão só para derrubar a sua cara de deboche. Quando nossas mãos se tocam, a maldita corrente elétrica que vem dele envia meu corpo para outra galáxia.

Meus músculos estão tensos pra cacete.

​Felizmente, o autocontrole é a minha maior benção. Dessa forma, não faz diferença alguma o fato de que o peitoral do imundo ganhe ainda mais volume nessa camisa branca de botões. Que o aroma de seu perfume esteja enfestando toda sala e apenas a sua presença seja capaz de fazer o ambiente ficar quente como uma caldeira.

Nada disso é relevante. 

— E então, Mackenzie, onde está o escolhido?

Assim que pergunto, uma figura loura-acastanhada surge entre nós. Aproxima-se lentamente, com brio e confiança.

— Andrew Hyatt, mas pode me chamar de Drew. — Ele estende a mão, e nos unimos num vigoroso aperto. 

— Savannah Wolff, pode chamar de Savannah mesmo — Sorrio novamente, mas dessa vez é um sorriso genuíno. — Isso é que é um aperto de mão firme! — Elogio um e de quebra ainda alfineto outro. — Não esperaria menos de alguém que trabalha com as mãos. Urologia, certo?

— Isso mesmo, Savannah — Andrew confirma. — Só não te peço pra assinar a minha edição comemorativa da Entertainment porque fui muito recomendado pela sua amiga. É bom finalmente te conhecer, e um prazer tê-la em minha casa. Fique à vontade.

— Obrigada pela hospitalidade — Agradeço. — Eu certamente ficarei. Então, conte-me mais sobre como é ser um cirurgião...

Tratamos de amenidades, e então cedi ao seu convite para ficar mais à vontade. Perambulei pelo hall de entrada até chegar até a sala de estar.

Hyatt tem uma casa sofisticada. Quadros pomposos, cores sóbrias nas paredes, tapetes que parecem incrivelmente macios. Mora na cobertura.

É ali na sala mesmo que avisto um rosto conhecido. Aliás, um não, vários. Mas tem um em especial, que, nos últimos meses, tem chamado a minha atenção.

O cara esguio e bonito sentado no sofá de camurça cinza claro frequenta a mesma academia que eu e Mackenzie. Realmente ando tendo inúmeros motivos para começar a crer em destino.

Sempre que o sujeito furtivamente colocava sua atenção em mim, continuava na dele, enquanto eu continuava na minha. Não ficava se mostrando nem beijando seus músculos. Nada é mais broxante do que um exibido.

O louro dos olhos azuis chamejantes foi me apresentado por Mackenzie.

Estava curiosa para saber seu nome. Já poderia ter descoberto antes, se estivesse mesmo tão genuinamente interessada. De qualquer forma, o dito cujo atende por Nicholas. Nicholas Hawthorne.

Crossed Lines: sem limitesOnde histórias criam vida. Descubra agora