– Com quem você deixou a Micha? – perguntou Nari depois que Greta abriu a porta do pequeno apartamento para que a amiga entrasse.
O sábado havia chegado mais devagar do que ela precisava, verdade, mas ali estavam as duas fingindo que não tinham problemas da vida real para lidar. Nari já chegou pronta, mas trazia uma mala de roupas dela para emprestar a Greta. As calças não serviriam, as duas sabiam disso, mas mimar sua amiga era a única coisa que Nari sabia fazer.
A amizade delas tinha começado sem querer, dentro de uma loja de conveniência muito parecida com a que Greta trabalhava. Nari tinha sido drogada numa festa que acontecia num bar próximo, desses que somente gente com muito dinheiro entrava, não dizia coisa com coisa, mas tinha tido o bom senso de se esconder ali, com medo de alguém que Greta felizmente não descobriu quem era, ou teria sido deportada para o Brasil por assassinato. Isso já tinha pelo menos seis anos e daquele dia em diante nunca mais deixaram de confiar uma na outra.
– Ela tem um retiro espiritual com o pessoal da igreja. Volta só amanhã à noite.
– Sabe o que isso significa? – perguntou Nari com um olhar malicioso.
– O que?
– Que hoje a noite precisa render. E por render você sabe muito bem o que eu quero dizer. – Greta enrubesceu violentamente e jogou uma blusa branca de seda no rosto da amiga. – Ei! Por favor, sem estragar minha maquiagem porque eu demorei horas fazendo, obrigada.
Fingindo que não via o vermelho no rosto da amiga se intensificando, Nari foi até a geladeira e a abriu. Havia pouca coisa ali, arroz, ovos, um pote de kimchi que ela mesma havia dado para Greta, duas garrafas de soju, vários saquinhos de suco de frutas e um pote de sorvete que ela sabia que tinha feijão porque Greta nunca perdia essa mania.
– Meu Deus, quando foi a ultima vez que fez compras?
– Tem macarrão no armário. – respondeu a brasileira como se aquilo colocasse um fim na conversa. – Tem roupa aqui que está até com etiqueta, Nari, eu pedi emprestado alguma coisa que não fosse mais usar.
– Mas não vou mais usar essas... pode ficar. As que não servirem você guarda pra Micha.
Mas as duas sabiam que iam servir, porque Nari não perdia a mania de comprar coisas para as duas. Era um jeito de se desculpar por todos os coreanos babacas que já haviam passado pela vida delas, dificultando ainda mais a vida já dura. Como Greta se recusava a aceitar dinheiro, era desse jeito que ela ajudava. Pegou uma das garrafinhas de soju e serviu dois copinhos para elas.
– Tem certeza que o cara vai? Como ele chama mesmo? August?
– Acho que sim... não cheguei a perguntar diretamente, mas ele foi dois dias seguidos na lojinha... algo me diz que ele vai. – respondeu Greta parando de mexer na mala de roupas e virando sua dose de soju depois de brindarem. Fez uma careta involuntária e colocou o copinho de lado.
– Você gosta dele? – perguntou Nari de surpresa.
– O que? Ainda é meio cedo, não acha?
– Ah, não sei... você mesma disse que é fã dele... que acha a voz dele bonita... nada te impede.
– Não estou procurando um namorado, obrigada. – respondeu Greta ficando vermelha de novo. – Só sou fã do jeito que ele faz rap... e realmente acho a voz dele bonita, até quando conversa e...
– Eu sabia! Você gosta dele.
– A ultima coisa que eu preciso agora é um namorado coreano... já alcancei minha cota, obrigada.

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Interlude (Suga)
Fanfiction[CONCLUÍDA] Greta vive com sua filha em Daegu. Não tem tempo para quase nada além de trabalhar, estudar e cuidar da filha. Mas consegue ouvir música boa e por isso é apaixonada em rap coreano. Mas seu contato acaba aí, conhece os nomes dos artistas...