Stay Gold

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Nari e Hoseok estavam no sofá aos beijos quando ouviram a voz de Greta ressoando pelo Porão. Os dois pararam imediatamente, abrindo os olhos, ainda com as bocas coladas, prestando atenção ao rap que a brasileira cantava no andar de baixo. Era claramente um desabafo e a coreana reconheceu muitos dos relatos ditos em versos pela melhor amiga.

Afastou a boca da boca de Hobi e olhou para a janela grande que dava para o pátio onde ficava o palco. Devagar ela saiu do colo dele e foi até a janela para assistir tudo. A visão era privilegiada e ela podia ver Greta no palco, Yoongi na mesa de som e a porta do container onde seria o camarim dos meninos aberta, provavelmente porque Namjoon e Jin ainda estavam ali dentro.

Viu que a amiga estava de olhos fechados, completamente entregue aos versos que fazia em estilo livre e sentiu-se privilegiada. Nunca tinha conseguido vê-la cantando diretamente. Sabia que isso acontecia porque ela e Micha viviam comentando, mas assistir assim, era outra coisa. Hoseok parou ao lado dela, tão impressionado quanto.

— Uau, essa janela é mesmo bem posicionada! — comentou olhando todos os cantos do Porão antes de finalmente parar o olhar na moça no palco. O rap dela era diferente do que ele, RM e Suga faziam e deduziu que tinha grande influência do rap brasileiro. Era cheio de gírias em outras línguas além do coreano quase sem sotaque da moça, além de possuir um flow que praticamente complementava o da batida que ela havia escolhido para marcar a música. — Uau! — repetiu impressionado. Nari sorriu, sem conseguir desviar os olhos da amiga lá em baixo.

— Ela é muito boa, não é? — sussurrou orgulhosa.

— Muito... — concordou ele.

Ficaram ali, em silêncio, assistindo a apresentação solo de Greta. Sentiram-se um pouco incomodados por fazerem isso sem ela saber, como se ouvir aquelas palavras fosse uma espécie de invasão no mundo secreto dela e a sensação aumentou mais ainda quando perceberam que Yoongi estava a caminho do palco. No entanto era impossível desviar o olhar de Greta. Era como se ela tivesse mesmo que cantar tudo aquilo em algum momento e, do ponto de vista profissional, com potencial para uma gravação. Nari tinha certeza que se a amiga participasse de qualquer uma das rinhas femininas ou mistas do Porão, ela venceria com folga.

O sorriso da coreana aumentou enquanto assistia a aproximação de Yoongi. Reconheceu nele, mesmo de longe, a mesma admiração que Hoseok demonstrava ali ao seu lado enquanto assistiam. Mas sabia que havia bem mais que admiração no caso do primeiro e seu coração parou um segundo ao perceber a tensão formada quando Greta o viu se aproximando. Sentiu-se assistindo a um drama feito ao vivo e prendeu a respiração quando eles finalmente se beijaram.

Apertou o braço de Hoseok ao seu lado, emocionada por estar testemunhando aquela cena. Greta finalmente estava pronta para abandonar o luto por si mesma e ela tinha certeza que Yoongi era a pessoa perfeita para guiá-la de volta ao mundo fora do trabalho e da vida dura que levava. Seu rosto doía de tanto sorrir de felicidade. Sua vontade era filmar a cena e mandar para Micha, porque conhecia bem o desejo não tão secreto da menina de ver a mãe namorando seu bias, mas não o fez. Apenas abraçou o braço de Hoseok, empolgada e aliviada.

— Finalmente!

***

O mundo tinha entrado finalmente no eixo certo. Greta sentia a língua de Yoongi contra a sua, se movendo como se soubesse exatamente que tipo de sensações era capaz de provocar apenas por existir. Não conseguia se concentrar em nada além da boca dele contra a sua, do corpo dele colado ao seu e dos batimentos do coração dele contra seu peito. O mundo tinha parado para que ela pudesse ser beijada daquele jeito, e fazia muito tempo que não era beijada.

Sentiu necessidade de maior contato e seu corpo ia esquentando na mesma proporção da vontade, até que se lembrou de onde estava e de tudo o que havia passado e abriu os olhos. Por alguns segundos ficou de olhos abertos enquanto ainda sentia a boca de Suga na sua. O mundo continuava girando numa velocidade menor do que ela achava ser possível. Reparou nos olhos fechados, no movimento do rosto dele acompanhando o movimento da boca que ainda a beijava, nas maçãs do rosto alta, no cabelo escuro saindo discretamente por debaixo do boné preto que ele usava. Sentiu o próprio coração batendo num ritmo maluco, quase doloroso porque começava a voltar ao mundo real.

Interlude (Suga)Onde histórias criam vida. Descubra agora