Cypher pt. 4

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Ela sentiu o cheiro de comida bem antes de abrir os olhos. Sorriu sentindo que o dia seria bom, porque tinha tido um sonho muito bom e já teria comida pronta esperando por ela. Preguiçosamente ela esticou os braços e rolou na cama até afundar a cabeça no travesseiro que deveria ser de Micha. Levantou a cabeça imediatamente, abrindo os olhos e percebendo que aquele perfume não tinha nada a ver com o cheiro do xampu da filha. Sentou-se na cama em choque e sentiu uma dor muscular característica que confirmou sua suspeita, não tinha sido um sonho. Ela tinha mesmo passado a noite com Yoongi. Primeiro no escritório improvisado do Porão, depois ali mesmo, em casa, aproveitando que Micha estava no apartamento de Nari se recuperando da cirurgia.

Cobriu a boca com as mãos, segurando a vontade de soltar um palavrão. O quarto estava claro por conta do horário. Bastou uma espiada no visor do celular, para perceber que já passavam das dez da manhã. Teve que fechar a boca com as mãos mais uma vez ao observar a cadeira ao lado da cama. Viu o tecido vermelho do macacão que tinha usado sob o tecido escuro da camisa de seda cheia de brilho e da calça do figurino dele da noite anterior.

— Puta merda, ele ta cozinhando pelado?! — se perguntou em português.

Saiu da cama e vestiu a primeira camiseta que viu antes de entreabrir a porta. O cheiro de comida ficou mais forte e o estômago respondeu imediatamente com um ronco antes dela poder fechar a porta de novo. Yoongi estava com o avental dela amarrado na cintura, por cima da cueca samba-canção e sorriu ao vê-la espiando do quarto.

— Te acordei?

Greta fechou a porta e apoiou a cabeça nela, sentindo o coração batendo acelerado no peito. Era uma visão e tanto as costas brancas, o avental, a cueca, as panelas e o fogão dela sendo manuseados por um cara famoso como Yoongi. Surreal. Mordeu o lábio inferior, em dúvida se ia até a cozinha ou se corria para o banheiro. Reabriu a porta, vendo as costas dele de novo, concentrado com alguma coisa no fogo. Olhou para a porta do banheiro ao lado e correu para lá, batendo a porta em seguida.

A primeira coisa que fez foi conferir se o banheiro estava ok. Graças a Deus tinha deixado tudo organizado para quando Micha saísse do hospital. Sabia que ficariam na casa de Nari um tempo, mas ainda teriam que voltar ao pequeno apartamento depois e nada supera chegar em casa cansada e ver o banheiro e a cozinha limpos. Respirou aliviada. Ouviu o som de panelas do lado de fora, na cozinha e isso a trouxe de volta à situação atual. Havia um idol seminu cozinhando em sua casa. Olhou para o próprio reflexo no pequeno espelho sobre a pia e arregalou os olhos.

— Gleta-ssi? — ouviu uma batida tímida na porta, minutos depois. Cuspiu a pasta de dente na pia e olhou para a porta em choque, ainda sem acreditar que era de verdade. — Tá tudo bem? — ouviu perguntar.

— S-sim! — falou para a porta. Fechou os olhos e soltou o ar pela boca silenciosamente antes de abrir a porta de supetão e quase trombar com Yoongi. — Ah, oi. Bom dia.

O sorriso que ele abriu quase fez com que as pernas dela derretessem. Como pode esse cara ser o mesmo que tinha feito ela gritar seu nome várias vezes a noite inteira? O sorriso era amplo, metade gengiva, metade dentes pequenos e os olhos dele pareciam mais do que nunca com os olhos de um gatinho desprotegido, agora que estava sem maquiagem. Involuntariamente Greta abriu um sorriso também, sentindo o coração leve pela primeira vez em anos.

Yoongi saiu do caminho para que ela pudesse sair do banheiro e seu sorriso ampliou ao vê-la só de camiseta, extremamente confortável com sua presença tanto quanto ele com a dela. Greta coçou o nariz, disfarçando o olhar demorado que deu nele apenas de cueca, com o avental dela – preto com flores vermelhas – cobrindo a cintura e o peito branco.

— Você cozinha? — perguntou indo até a mesa pequena de sua cozinha/sala e sentindo o próprio estômago responder de novo ao cheiro. Parecia muito com o cheiro de ovos mexidos que Micha fazia quando ela ainda trabalhava na lojinha de conveniência e chegava de madrugada.

Interlude (Suga)Onde histórias criam vida. Descubra agora