So Far Away

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Greta se jogou de cabeça na própria vida depois de voltar a Daegu. Cada vez que a melancolia ameaçava tomar conta de seu coração, ela se enfiava em algum trabalho temporário novo ou em algum grupo de estudo aleatório do qual não necessariamente precisasse. Estava determinada a se manter ocupada a ponto de não pensar em mais nada além da própria vida.

Nari e Micha sentiram diretamente a mudança e a determinação da moça. A primeira ainda mais que a segunda. Por mais que tentasse, Greta sempre inventava algum compromisso novo para evitar de se encontrarem pessoalmente. De alguma forma, mesmo que Nari nunca tivesse tido a chance de falar ou desabafar sobre aquela noite, Greta sabia que ela havia se aproximado – e muito – dos meninos. Principalmente dos meninos da rap line. E isso interferia até na relação dela com Micha, que não conseguia ver a tia por conta das desculpas da mãe.

Para a menina, era como se a mãe tivesse despertado de um transe estranho, onde ela se lembrava das próprias responsabilidades e se esquecia das necessidades. Sempre que pedia pela mãe, ela estava lá, disposta a lhe dar carinho, amor e atenção quando precisasse. A menos que fosse para falar sobre o Muster ou sobre o BTS. Quase como se os dois tópicos tivessem virado tabu. Quando era esse o assunto, Greta estava ocupada demais para discutir, cansada demais para se lembrar, compromissada demais para se importar, seja com o trabalho, a faculdade ou a maternidade. Não havia tempo para assuntos "supérfluos".

Um dia – vários depois de ter voltado de Seul – Nari se cansou daquele distanciamento forçado e invadiu o trabalho de Greta em plena madrugada. Como acontecia sempre naquele horário da noite, a brasileira estava sonolenta demais para estudar e entediada demais para se importar com a loja. Até que Nari chegou com uma garrafa de vinho pela metade numa das mãos e os sapatos na outra, visivelmente bêbada.

Por um segundo, Greta teve um flashback de quando elas se conheceram e correu para a porta para conferir se nenhum babaca havia seguido Nari até ali. O lado de fora parecia, como sempre, deserto, mas por segurança a moça segurava uma vassoura numa mão e o celular na outra, caso precisasse chamar a polícia.

– Não tem ninguém! – gritou Nari de dentro da loja. – Você nunca baixa a guarda?! – estava abrindo a geladeira de bebidas e se servindo de uma garrafinha verde. Ia misturar vinho e soju, mas Greta chegou a tempo de tirar a garrafa da mão dela antes que alcançasse a boca.

– Ficou doida? – perguntou em choque.

– FIQUEI! – gritou Nari. – FIQUEI DOIDA! VAI FAZER O QUE? – gritou tentando pegar a garrafa da mão da amiga, mas ela foi mais rápida e conseguiu desviar com facilidade. – De que me adianta ter achado o amor da minha vida se a minha melhor amiga não consegue ficar feliz por mim e fica me evitando a todo custo?

Só então Greta percebeu as lágrimas nos olhos da coreana. Sentiu o próprio coração se partir ouvindo aquilo.

– Eu não estou te evitando!

– Como não?! Ficar todo esse tempo sem te ver porque está "trabalhando" é o que? – argumentou Nari sem se preocupar em segurar as lágrimas. – Nunca mais te vi depois que voltamos de Seul. Eu não o trouxe comigo, sabe! – gritou. – Não é como se eu te obrigasse a sair com ele só porque eu vou sair com o melhor amigo dele!

Greta se afastou e deu um longo gole na garrafinha de soju que tinha tirado da mão da amiga, engolindo junto com a bebida suas lágrimas e seu orgulho. A verdade é que não estava preparada para falar de tudo o que tinha sentido com apenas duas músicas. Não queria contar sobre o coração disparado sempre que ouvia Seesaw ou Ddaeng e não podendo evitar porque eram as músicas favoritas da filha desde o Muster. Não queria contar que sempre que isso acontecia, repensava toda sua vida, porque não tinha ideia de como aquilo poderia funcionar. Sabia que não funcionaria nunca.

Interlude (Suga)Onde histórias criam vida. Descubra agora