Interlude: Shadow

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Yoongi não sabia o que fazer. Percebeu que ela havia dormido pouco depois do abraço dela ficar frouxo ao redor de seu pescoço e ela se ajeitar sozinha até se deitar em seu colo. Apoiou a cabeça ali, como se fizesse isso desde sempre, sem se importar com quem estava de travesseiro ou não. Ele continuou com os braços erguidos, como se baixá-los fosse de alguma forma provocar uma catástrofe, como por exemplo ela acordar e perceber que tinha levado ele para dentro.

Olhou a volta, desesperado porque precisava sair e reencontrar os outros, mas ao mesmo tempo não queria deixá-la ou incomodá-la de forma alguma. Abaixou um dos braços devagar, cautelosamente, até que a mão apoiasse num dos ombros dela gentilmente.

— Moça... eu preciso ir. Acorde... - sussurrou sem se esforçar muito para que Greta acordasse.

Em resposta ela sorriu, satisfeita com o som daquela voz em seu sonho. O sorriso dela o desmontou e ele ficou ali, observando-a em silêncio. Dormindo, os traços de preocupação dela eram bem mais suaves, como se eles não tivessem sofrido para finalmente ficarem sozinhos e se conhecerem.

— Não que isso tenha realmente acontecido... - murmurou ele, conversando com as próprias reflexões. — Será que em algum momento vamos poder conversar e nos entender como adultos? — perguntou. Greta sorriu de novo, se ajeitando no colo dele, ficando de lado e apoiando uma mão entre suas costas e o sofá, como se quisesse abraçá-lo feito uma pelúcia ou um travesseiro extra. A mão dele foi lentamente até uma das longas tranças que ela usava, tirando-a do rosto e colocando para trás. Era realmente uma mulher muito bonita, mesmo dormindo. Yoongi suspirou frustrado. Talvez não fosse mesmo para acontecer. Tinham passado por tanta coisa e mesmo assim nunca saiam do mesmo lugar. Mas não conseguia controlar seu coração batendo acelerado apenas por assisti-la dormindo e sorrindo com o que sonhava. Lentamente a mão voltou para o rosto, num carinho contido, sem realmente tocá-la, apesar de querer muito.

— O que você quer com a minha mãe afinal de contas?

A luz da sala foi acesa de repente, fazendo com que Greta franzisse o nariz e enfiasse o rosto mais ainda no colo de Yoongi enquanto ele recolhia a mão. Ele levantou a cabeça rapidamente e deu de cara com Micha. Usava um pijama de bolinhas azuis e tinha o cabelo preso numa trança lateral, contrastando e muito com os olhos inchados e a expressão séria. Ela sabia quem ele era, percebeu isso assim que ela cruzou os braços ameaçadoramente.

— Eu... O que? — perguntou num sussurro.

— O que você quer com a minha mãe? — Micha repetiu a pergunta. Também falava baixo, mas queria finalmente resolver tudo o que envolvia a vida amorosa da mãe. Por mais que estivessem brigadas, ainda se sentia na obrigação de protegê-la.

O som de conversa e o cheiro de café que vinha da sala/cozinha havia despertado a curiosidade natural da menina e ela ficou perto da porta tentando ouvir o que estava acontecendo na sala. Ainda sentia o braço arder do primeiro tapa dado por Greta, mas odiava ter que ir dormir brigada com ela. E tudo tinha começado com a confusão que a mãe fizera ao achar que Suga era aquele seboso que cantava no Porão.

Micha tinha certeza absoluta que alguma coisa tinha acontecido em Seul durante o show que Greta tinha ido. E agora Suga estava sentado em seu sofá, com a mãe dormindo em seu colo depois de um encontro fracassado com seu sósia de araque. De alguma forma a culpa era dele também.

— Você gosta dela? - perguntou de supetão. Como ele não dizia nada, foi a primeira coisa que passou por sua cabeça. A mão dele tinha voltado para o ombro de Greta, de modo protetor, como se quisesse que a sombra do braço a protegesse da luz acesa de repente. — Ou você veio atrás dela só porque ela não sabe que você é você e precisa disso para se reafirmar? - completou.

Interlude (Suga)Onde histórias criam vida. Descubra agora