Cypher 1

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Ainda contrariando todas as expectativas criadas em cima dele, Min Su levou Greta para o local de encontro usando o transporte público. Aos poucos ela foi relaxando os ombros e começando a se sentir mais confortável na presença dele. Não conseguia evitar reparar nas semelhanças com Suga, mas não conhecia nada sobre o idol além do que era mostrado pela mídia e ela captava através da filha, tudo o que tinha era uma ilusão criada depois de duas músicas num show e dois encontros aleatórios no trabalho. Min Su, nesse ponto, era mais realista e chegar a essa conclusão fez com que ela começasse a relaxar.

Ficou esperando que ele perguntasse mais coisas sobre Micha, mas ele não tocou mais no assunto e como se não se importasse com nada além do prazer de estar com ela. Sentaram-se juntos, no fundo do ônibus, ele constrangido por não poder levá-la de carro, ela sem jeito porque ainda pensava nas perguntas que ele faria sobre sua filha.

– Então, Gleta-ssi. O que gosta de comer? – perguntou depois de passarem por quatro quarteirões no mais absoluto silêncio.

– Comer? – perguntou confusa. Achou que estivessem indo tomar um café casual. Sentiu um calafrio de medo. Fazia anos que não tinha um encontro com direito a jantar e o pacote completo, não sabia mais como agir nessas situações.

– Mudei um pouco nossos planos... – explicou ele sem jeito, exibindo um sorriso amplo e sincero. – Quero te levar para comer num lugar legal que conheci esses dias... espero que não se importe. – falou cheio de expectativa no olhar.

Greta avaliou o rapaz com atenção, ignorando a proximidade imposta por sentarem juntos no ônibus. Ela não tinha comido ainda... tinha planejado pedir algum doce calórico durante o café e depois dormir anestesiada pelo açúcar consumido, mas não tinha certeza sobre um jantar. Não se sentia segura em encontros com jantares, foi num encontro desse tipo que Micha foi gerada. Ele desviou o olhar, inseguro, mas ainda sorrindo. O silêncio se prolongou por um tempo enquanto ela se decidia se confiava nessa mudança de plano ou não, deixando-o mais inseguro ainda.

– Tudo bem a mudança, Gleta-ssi? – perguntou finalmente. O estômago dela respondeu pelos dois e Min Su explodiu numa gargalhada alegre que fez com que ela acabasse rindo também. – Acho que isso foi um "sim". – comentou apontando para a barriga dela e rindo. Greta a cobriu com as mãos e riu também.

– Aonde vamos?

– Surpresa... – respondeu com um sorriso enigmático. – Estamos quase chegando... gosta de comida coreana, né?

– Eu moro aqui tem doze anos. – riu-se ela. – Amo. Não se preocupe. – respondeu. Não queria admitir, mas estava completamente descontraída e confortável.

A frase dela foi o suficiente para começarem um longo papo sobre o que mais gostava na Coreia e o que mais sentia falta no Brasil. Greta tentou ao máximo se limitar apenas às coisas boas dos dois países, seguindo as sugestões involuntárias dele para que a conversa e a descontração não enfraquecesse ao longo do caminho.

Nenhum dos dois percebeu o táxi acompanhando o ônibus tão de perto que as janelas dos veículos chegavam a ficar lado a lado. Micha estava toda coberta com um moletom da mãe e uma máscara preta que vivia usando quando queria fugir de Thomas. O garoto estava ao seu lado, confuso por ter que participar daquela empreitada. Nari estava logo ao lado, confusa por descobrir que sua única função como "adulta" da situação era apenas financeira. Era ela quem ia pagar a corrida de táxi.

– O que pretende fazer, Micha? – perguntou olhando de relance para a sombra de Greta e August dentro do ônibus.

– Improvisar. – respondeu a menina sem olhar para ela, vidrada na cena que desenrolava dentro do outro veículo.

Interlude (Suga)Onde histórias criam vida. Descubra agora